A organização, que atua em 8 estados brasileiros, já construiu mais de 4.500 moradias emergenciais e mobilizou mais de 5 mil voluntários no ano passado.
Atuar na construção de um país justo e sem pobreza proporcionando melhores condições de moradia e habitat para a população mais vulnerável é sem dúvida um desafio. Esse tem sido o papel desenvolvido pela organização não governamental TETO, que atua no Brasil desde 2006, buscando soluções concretas e emergenciais que possibilitem melhorias nas condições de moradia e habitat da população.
De acordo com um relatório divulgado pela ONG em 2020, as favelas mais precárias e invisíveis do país, são as expressões máximas da pobreza e da desigualdade social. Além disso, de acordo com o documento, a pobreza é uma situação que pode ser superada, mas, para tanto, deve ser compreendida em seu caráter multidimensional, pois muito mais do que a falta de renda, a pobreza é uma situação de violação de direitos e priva as pessoas de um desenvolvimento pleno.
Associada à organização internacional TECHO, que está presente em 18 países da América Latina, a TETO já construiu mais de 4.500 moradias emergenciais em comunidades precárias de Minas Gerais, Paraná, Goiás, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, São Paulo e Distrito Federal.
Só em 2022, a ONG mobilizou mais de 5 mil voluntários em todo o Brasil atuando lado a lado de moradores em comunidades precárias com a construção de moradias emergenciais e diversos projetos de infraestrutura comunitárias.
As moradias de emergência são um dos principais projetos da TETO e atendem famílias em situação de extrema vulnerabilidade, oferecendo o mínimo de dignidade e proteção. Elas são feitas de madeira de pinus certificada pré-moldada e podem ter 18 m² ou 15 m² e são suspensas por estacas de madeira, o que as protege da umidade do solo, de inundações e da entrada de animais peçonhentos. As moradias também possuem janelas, que garantem a ventilação cruzada e a entrada de luz, além de uma cobertura que proporciona mais conforto em dias de muito frio ou calor. Já os projetos de infraestrutura comunitárias incluem: sedes comunitárias, centros de captação de água da chuva, além de hortas e refeitórios comunitários.
Conversamos com o Danilo Santos, gestor das sedes da TETO no Nordeste. Ele nos explicou como tem sido a atuação da organização, como são definidas as estratégias e as comunidades que serão atendidas pelas ações da ONG e dos planos de aumentar o número de comunidades e pessoas impactadas.
IN – Nos conte como surgiu a TECHO e a filial brasileira da organização?
DS – A TECHO nasceu em Curanilahue, no Chile, em 1997, quando um grupo de jovens católicos participou pelo terceiro ano de missões da universidade, e reformaram uma moradia, adaptando-a para servir como capela. A construção deu-lhes a oportunidade de estabelecer uma relação diferente com os moradores. Trabalhar ao lado da comunidade produziu um diálogo espontâneo e profundo, um intercâmbio “entre iguais”. Em 2001, a iniciativa se tornou oficialmente uma fundação sem fins lucrativos: Un Techo para Chile (Um Teto para Chile) e começaram os planos para levar a experiência para toda América Latina. Em 2002 aconteceu a primeira construção no Brasil, em Recife (PE), e em 2006 a organização se estabeleceu formalmente no país, com sede em São Paulo.
IN – Como a organização vê a atual situação de moradia no Brasil e como atua para mudar esse cenário?
DS – O Brasil tinha, em 2019, segundo o Ministério do Desenvolvimento, um déficit de quase 6 milhões de moradias. A pandemia, a pobreza, o desemprego prejudicaram ainda mais esses números. Temos visto também, a partir de desastres relacionados às chuvas (principalmente na BA, RJ, PE e SP) as condições precárias das moradias, das infraestruturas sanitárias, de uma não política habitacional.
Entendendo esse cenário, a TETO atua construindo em conjunto com voluntários e moradores das comunidades, soluções de moradia e habitat. Hoje, em nosso portfólio de projetos, as moradias de emergência (casas modulares em madeira com 15 ou 18 m2 e durabilidade estimada em 5 anos) e a moradia semente (modelo de casa transitória com estrutura e acabamentos mais robustos e durabilidade estimada em 15 anos) são as principais soluções para o enfrentamento ao déficit habitacional nos territórios. Atuamos, em geral, em comunidades com um contexto de vulnerabilidade muito alto: barracos de lona, papelão e outros materiais impróprios para construção, pouca ou quase nenhuma infraestrutura básica (água, luz e esgotamento sanitário regulares).
IN – Como as comunidades e famílias são escolhidas para receber as ações da ONG?
DS – Existe um mapeamento ativo dos territórios a partir da área de diagnóstico. Fazemos visitas pontuais as comunidades, aplicamos um questionário com as principais lideranças do território e entendemos junto com o voluntariado os cenários para o início dos trabalhos nas comunidades. São feitas avaliações jurídicas, infraestruturais e sociais dessas comunidades e uma validação com as lideranças e moradores para que de fato a gente inicie os trabalhos naquele território.
IN – Quais as principais formas de atuação nas comunidades escolhidas?
DS – Nosso objetivo é fortalecer as capacidades comunitárias através do acompanhamento contínuo nas comunidades. Podemos atuar pontualmente numa comunidade, seja com a construção das moradias de emergência ou com um projeto comunitário. Mas, buscamos sempre estabelecer um contato mais próximo com o território, através de uma equipe que faz visitas periódicas estabelecendo um diálogo com as lideranças e moradores para identificar as principais problemáticas e construir as soluções através de um planejamento estratégico feito pela equipe voluntária e os moradores da comunidade.
IN – Como está a atuação da TETO no Nordeste? Estão buscando fortalecer a atuação na região?
DS – A atuação da TETO no Nordeste é feita nos estados da Bahia e Pernambuco. Na Bahia, atuamos desde 2014 e em Pernambuco desde 2019. A pandemia enfraqueceu a maioria das organizações sociais que trabalham diretamente no território, principalmente quando falamos em relação aos investimentos financeiros para manter as operações. O aumento da extrema pobreza, dos preços de matéria-prima e combustível tornaram nosso trabalho ainda mais difícil (mas não impossível). Nosso foco é aumentar o número de comunidades e pessoas impactadas pelas nossas ações e projetos. Somados, nos dois estados, atuamos de forma contínua em 10 comunidades e temos atuações pontuais em outras comunidades, localizadas nas capitais, Salvador e Recife, e também nas regiões metropolitanas.
IN – Como as empresas e voluntários da região podem ajudar na causa?
DS – Existem muitas formas de contribuir para aumentar o nosso impacto: financiando diretamente moradias e projetos, sendo empresas amigas da TETO e contribuindo financeiramente de forma mensal, marketing relacionado à causa, parcerias estratégicas, voluntariado corporativo, entre outras. Já o voluntariado em geral pode atuar de forma pontual nos eventos promovidos pelas sedes ou fazer parte de uma equipe fixa, atuando no dia-a-dia da organização e das comunidades.
Para se engajar nessa causa, acesse o site oficial da Teto.