Negócios de impacto

9 recomendações para o avanço dos investimentos e negócios de impacto no Brasil até 2025

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A Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto divulgou recentemente as recomendações para o avanço dos investimentos e negócios de impacto até 2025. Criada em 2014, a Aliança pelo Impacto é uma iniciativa para promover o ecossistema de aplicações e negócios de impacto por meio da produção e disseminação de conteúdos, articulação com atores estratégicos e fomento às iniciativas inovadoras.

O cenário para o setor é cada vez mais dinâmico, exige inovação e revisão conceitual constante. Da crise climática à persistente e incômoda desigualdade acirrada pela pandemia, o mundo precisa de um acordo socioambiental positivo. As recomendações para o ecossistema propostas para os próximos cinco anos buscam colaborar, além de ser uma referência dentro desse cenário de incertezas.

A Aliança acredita que modelos de negócio possam resolver problemas sociais e ambientais, somando esforços com as políticas públicas e o terceiro setor. Há um capital, que hoje é investido em mercados tradicionais, que pode ser direcionado para empreendimentos que atuam diretamente em problemas sociais e ambientais, oferecendo retornos financeiros a esse capital. O objetivo é ampliar o número de negócios comprometidos em resolver problemas sociais e ambientais e, consequentemente, aumentar o volume de recursos financeiros para o fomento desses negócios.

Ainda de acordo com a Aliança, negócios de impacto são empreendimentos que têm a intenção clara de endereçar um problema socioambiental por meio de sua atividade principal (seja seu produto/serviço e/ou sua forma de atuação). Atuam de acordo com a lógica de mercado, com um modelo de negócio que busca retornos financeiros, e se comprometem a medir o impacto que geram.

Já os investimentos de impacto são todos os recursos, privados e públicos, que podem ser direcionados por mecanismos financeiros para organizações, negócios e fundos comprometidos em gerar impacto socioambiental positivo mensurável e rentabilidade financeira.

Veja abaixo as recomendações para o avanço dos investimentos e negócios de impacto até 2025:

O webinário Visões de futuro para o ecossistema de impacto no Brasil, promovido pela a Aliança pelo Impacto, vai debater as recomendações para o avanço dos investimentos e negócios de impacto até 2025.

Programe-se, há 3 opções de datas: 16, 23 e 30 de abril

Inscreva-se em um dos dias em: bit.ly/aliancarecomenda 

Fomento a dinamizadores de impacto

A Aliança pelo Impacto recomenda que organizações públicas e privadas, que estejam comprometidas com o desenvolvimento de ecossistemas de investimentos e negócios de impacto, fomentem ações de apoio aos dinamizadores de impacto.

Esta recomendação propõe que organizações públicas e privadas criem, de maneira individual ou coletiva, programas de fomento (por meio de doação em montantes significativos) que possam alavancar positivamente a jornada de empreendedores de impacto, tornando os fluxos de capital, tecnologia e conhecimento mais distribuídos e dinâmicos.

Esses programas devem financiar iniciativas em sete eixos estruturantes que geram oportunidades, benefícios e referências para todos os empreendedores de impacto. São eles: formação e apoio a empreendedores de impacto; financiamento de negócios de impacto e acesso a mercados; tecnologias digitais para alavancar negócios de impacto; ensino, pesquisa e extensão voltados a negócios de impacto; comunicação para impacto; geração de dados para impacto; e advocacy para impacto.

Ecossistemas locais de impacto

A recomendação é que ecossistemas locais de impacto sejam fortalecidos, potencializando a inter-relação entre os atores com interesses comuns em um mesmo território. Foram sugeridas três formas complementares de apoio. A primeira delas foi à identificação de organizações, atores governamentais e da sociedade civil comprometidos com a articulação de coalizões para o fortalecimento do ecossistema local de impacto que trabalhem sob uma visão comum em ações conjuntas, monitorando periodicamente os avanços da agenda e construindo ações de comunicação intraecossistema e para além dos atores envolvidos.

A segunda ação complementar sugerida foi em relação à definição de trilhas para orientar uma jornada de amadurecimento de ecossistemas locais de impacto, considerando as particularidades de cada território e a não linearidade desses processos, para a construção de infraestrutura mínima.

A terceira e última foi à criação de uma iniciativa nacional que conecte e fortaleça organizações articuladoras de ecossistemas locais de impacto, por meio da oferta e mediação de espaços de troca e colaboração entre essas organizações, da mobilização de recursos técnicos e financeiros e da sistematização de aprendizados gerados por essas experiências locais, gerando ondas de engajamento de novas localidades para esse tema. 

Contabilidade de impacto

A sugestão é que investidores, empreendedores, consultores e gestores públicos que atuam com impacto (seja contratando, promovendo ou mensurando) reposicionem o debate sobre esse tema a partir de três premissas: em breve todos os negócios deverão contabilizar os seus impactos (positivos e negativos) e haverá ferramentas e metodologias que orientarão esse processo; até que essas ferramentas e metodologias estejam consagradas, é preciso indução para que formatos sejam testados e analisados, com abertura para ter algum grau de comparabilidade com razoável precisão e a terceira premissa afirma que é necessário avançar o debate para entendermos se a prática da contabilidade de impacto resultará em uma métrica específica (número final) ou em uma ferramenta de indução, de estruturação de uma análise, para apoiar tomadas de decisão.

Portfólios de impacto

A recomendação feita pela Aliança pelo Impacto diz que investidores, gestores públicos e organizações dinamizadoras devem acelerar a oferta de produtos financeiros comprometidos com o impacto, possibilitando um ciclo virtuoso do aumento de oportunidades concretas, aprendizado e experiências bem-sucedidas de investimentos.

Os caminhos para a ação concreta passam pela disseminação entre investidores, a partir de casos concretos e ferramentas de suporte, a visão de portfólio de impacto; ampliaçãodo número de investidores; ampliaçãodo número de organizações dinamizadoras; comprometer gestores públicos a estruturarem fundos próprios ou que possam ser combinados com capital privado para o fomento de negócios de impacto; qualificar a comunicação dessas oportunidades concretas de aporte de capital para novas redes de investidores; e garantir a transparência e credibilidade dos produtos financeiros ofertados, com atuação responsável dos gestores, estruturadores e distribuidores.

Grandes empresas dinamizam impacto

A recomendação é que as grandes corporações criem programas e redes para atuação conjunta no fomento à inovação e ao impacto em torno de problemas socioambientais estruturantes do país.

As ações para garantir a concretização são: implementação de laboratórios setoriais de inovação aberta voltados para os desafios socioambientais materiais das corporações; disponibilização de crédito favorável, assistência técnica e/ou condições de acesso a produtos, serviços e redes das corporações pelos negócios de suas cadeias produtivas; fomento ao intraempreendedorismo nas corporações voltadas para a agenda de impacto nas mais diversas áreas, criando agentes de transformação interna, programas de mentorias para negócios de impacto e uma rede com profissionais de diversas corporações que podem discutir boas práticas, entraves e novas recomendações para o avanço da agenda de impacto de dentro das organizações. 

Também é necessária a construção de uma tese de impacto para corporações que conecte o ecossistema de impacto e organizações de referência em critérios ESG a um entendimento comum sobre parâmetros, para que as corporações entreguem efetivamente impacto socioambiental positivo de forma institucionalizada e sejam mais inovadoras social e ambientalmente; e incentivo e disseminação de conhecimento a respeito do uso de mecanismos de incentivo fiscal à inovação, com foco em inovação socioambiental.

Negócios de impacto em territórios vulnerabilizados

A Aliança recomenda ampliar e fortalecer as organizações que apoiam negócios de impacto em territórios vulnerabilizados, viabilizando formações, mentorias, acesso a redes de mercado e conhecimento, recursos financeiros e suportes jurídico e de comunicação.

Cinco pontos devem ser levados em conta: o fortalecimento das organizações locais; as parcerias com organizações de fora desses territórios; a adequação de tecnologias de apoio; a conexão com financiadores e redes de parceiros; e a atração de soluções em escala para desafios estruturais.

Conexão com negócios ambientais

A sugestão é que o ecossistema de impacto e lideranças ambientais trabalhem juntos, assumindo compromissos para fomentar negócios que resolvam desafios socioambientais. Nesse sentido, propõe: criar teses de impacto ambiental para o campo, com a participação de empreendedores e lideranças ambientais; conceber uma narrativa para nortear o desenvolvimento do campo que seja capaz de mobilizar investimentos imediatos para modelos de negócio em diferentes estágios da jornada empreendedora e nos mais diferentes setores.

Também propõem identificar redes, atores e pesquisadores com influência, que devem ser mobilizados a partir dessas práticas de referência e métricas socioambientais; impulsionar a criação de novos produtos financeiros para diferentes faixas de investimentos e tipos de negócios com tese de impacto socioambiental clara, desde social e greenbonds até plataformas de financiamento coletivo; e mobilizar investidores (as) com diferentes perfis, públicos, organismos multilaterais, indivíduos, famílias, family offices, gestores de recursos, ou grandes empresas, para que aliem suas teses de investimentos às agendas social e ambiental, considerando diferentes faixas de investimentos e instrumentos financeiros, incluindo recursos não reembolsáveis e pacientes, no sentido de fomentar o desenvolvimento de uma massa crítica de negócios que resolvam desafios socioambientais.

Tecnologias para impacto

Esta recomendação propõe uma aproximação estruturada entre o ecossistema de negócios de impacto com redes e expertises de tecnologia para um processo de influência cruzada. Sugere que empresas e profissionais de tecnologia devem se conectar com empresas de impacto que buscam usar tecnologia para escalar seus negócios e seu impacto, garantindo a adaptação de linguagens e aprendizagens para diferentes contextos; e também uma disseminação do conceito de negócios de impacto em áreas de universidades, institutos de pesquisa que produzem tecnologia, e incubadoras e aceleradoras de base tecnológica, acompanhadas de apoio no desenvolvimento de capacidades empreendedoras, ou de match entre pesquisadores e empreendedores.

Comunicação para impacto

A Aliança pelo Impacto recomenda que mais organizações do ecossistema de investimentos e negócios de impacto estejam dispostas e empreguem recursos (financeiros, humanos e de capital relacional) para garantir a construção de narrativas que aproxime públicos de interesse à causa dos investimentos e negócios de impacto.

Nesse sentido, propõe: uma cocriação de mensagens simples e efetivas para a divulgação da causa, de forma que empreender e investir com impacto seja percebido como um caminho urgente e sem volta; uma produção de conteúdo e sistematização de casos dirigidos a audiências em estágios diferentes de conhecimento sobre investimentos e negócios de impacto e outros, que podem se identificar mais ou menos com esse propósito; financiamento e apoio a veículos especializados e independentes; ampliação do relacionamento com atores do mainstream — como mídia tradicional, grandes agências de publicidade, branding, assessoria de imprensa e produção de conteúdo — capazes de sensibilizar grandes corporações e influenciadores; fomento de linguagens, imagens e conceitos positivos e propositivos em relação a agendas de gênero e raça; e a criação de um grupo de trabalho nacional para construção de uma linha de base que permita o monitoramento coletivo de resultados de comunicação da causa dos investimentos e negócios de impacto.

Para baixa o relatório completo das recomendações, clique aqui.