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GSG Summit 2020: Confira como foi o maior evento de investimentos de impacto do mundo

7 mins de leitura

Por Marcello Santo, Editor do Impacta Nordeste


Nos dia 9 a 11 de setembro, a convite da Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto, representei o Impacta Nordeste na comitiva brasileira que participou do evento GSG Summit 2020, promovido pelo Global Steering Group for Impact Investment (GSG), organização independente que tem a missão de articular o avanço para uma economia de impacto.

A 6ª edição do evento, desta vez realizado online devido à pandemia, reuniu mais de 1600 pessoas de 60 países, entre investidores, CEOs, empreendedores, representantes da sociedade civil, organismos internacionais e de governos. Foram mais de 260 palestrantes e debatedores divididos entre dezenas de atividades simultâneas.

O tema central do encontro foi a recuperação econômica pós-Covid-19 orientada para a diminuição das desigualdades e para o impacto. Seria esse o momento para impulsionar a agenda dos investimentos de impacto? Será esse o caminho para sairmos melhor dessa crise?

Para responder a esses e outros questionamentos, nomes de destaque como o ex-Primeiro Ministro do Reino Unido, David Cameron, Emmanuel Faber, CEO da Danone, Paul Romer, ganhador do Nobel de Economia em 2018, Philipp Hildebrand, Vice-Presidente da gestora de fundos BlackRock, Ibukun Awosika, Presidente do First Bank of Nigeria e até a atriz Jessica Alba, deram o tom diverso e global do evento.

O GSG Summit 2020 foi um evento intenso, com muitas opções de atividades sobre diversos temas interessantes. Muitas vezes foi difícil escolher em qual sessão participar.

Como empreendedor social e entusiasta do tema, compartilho com os leitores do Impacta Nordeste as minhas impressões e observações sobre os diversos debates e falas que presenciei. A ideia é dividir com os leitores um pouco do conhecimento adquirido e ponderações que surgiram no decorrer dos 3 dias.

Agradecemos a Aliança pelos Negócios de Impacto e o ICE pela oportunidade de participar desse importante evento. O relato será divido em dois textos. Confira como foi o 1º dia do GSG Summit 2020!

Capitalismo de “Stakeholder”

“Companhias e o mercado entenderam a conexão entre sucesso futuro e atender as expectativas da sociedade”.

Sir Ronald Cohen, Presidente do GSG Group

Com essa frase, Sir Ronald Cohen, presidente do GSG Group e um dos fundadores do movimento de impacto, abriu o primeiro dia de atividades. A ideia de que estamos migrando de um capitalismo de “shareholder” para “stakeholder” permeou todo o evento.

“Mas o que isso quer dizer?”, muitos leitores devem se perguntar. De forma resumida, no capitalismo de “shareholder” (ou acionistas, em inglês) os interesses primordiais são os dos acionistas, já no capitalismo de “stakeholder” os interesses de toda a sociedade devem ser levados em consideração.

Ao longo de sua fala inaugural, Sir Ronnie Cohen, anunciou que os investimentos de impacto devem alcançar patamar de US$ 1 trilhão em ativos em 2020.

A ideia de que o lucro deve estar associado também aos interesses da sociedade foi reforçada na fala de Kristalina Georgieva, diretora-gerente do FMI, no segundo dia. Segundo Kristalina, “a sustentabilidade financeira depende da sustentabilidade social e ambiental”.

Pay-for-sucess

Após a fala de abertura, os participantes do evento tiveram à sua disposição várias opções de webinars para escolher. Escolhi o tema “How to mainstream pay-for-success”, algo como “tornar o método de pagar por resultados uma prática comum”, em tradução livre.

Painel “How to mainstream pay-for-success”. (Foto: Arquivo)

Organizações Sociais dedicam seu talento, tempo e recursos em melhorar a vida de pessoas e comunidades, mas geralmente são contratadas por um sistema que muitas vezes avalia o processo ao invés do progresso, além da burocracia que inibe a inovação e recompensa somente a entrega (output) e não o resultado (outcome). Afinal, nem toda entrega gera resultado, mas todo resultado pressupõe que foi realizada uma entrega. No método de contrato Pay-for-success, o investidor paga por resultado. Essa modalidade tem sido cada vez mais adotada por governos e investidores sociais.

Na prática, funciona assim: (1) Um governo identifica um problema social que não consegue resolver; (2) Investidores sociais financiam a solução de uma organização social (ou negócio de impacto) de alta performance para resolver aquele problema; (3) A organização ou negócio de impacto implementa sua solução; (4) Avaliadores externos mensuram o impacto da solução; (5) se as metas forem atingidas, o governo paga os investidores.

Os painelistas ressaltaram os benefícios desse modelo, mas destacaram que ainda há muitos desafios para sua implantação, especialmente a mudança de cultura dos gestores e demais envolvidos nos projetos. Aprimorar a avaliação de impacto desses projetos também foi apontada como fator primordial para o sucesso do modelo.

O papel dos governos para a implementação dessa lógica também foi debatido. Para Mika Pyykkö, líder da área de Investimentos de Impacto do fundo Finlandês de Inovação Sitra, “os governos devem liderar o desenvolvimento sustentável, conectando empresas para esse propósito”.

Como governos podem incluir o impacto para uma retomada justa?

Com oito atividades simultâneas, foi difícil escolher qual seria a próxima. Após o primeiro painel, escolhi participar do fórum “Como governos podem incluir o impacto para uma retomada justa?”. Nos últimos anos, alguns setores da administração pública no Brasil tem se aproximado dos investimentos de impacto.

Por exemplo, a Enimpacto (Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto), coordenada pela Subsecretaria de Inovação do Ministério da Economia, tem articulado diversas iniciativas junto ao setor privado e a sociedade civil. Há também iniciativas em estados como Rio de Janeiro, São Paulo, entre outros. Pessoalmente tenho cooperado com o CENIS (Comitê Estadual de Investimentos e Negócios de Impacto Social) do Rio Grande do Norte.

Neste fórum estavam presentes nomes como Sir Michael Barber, Presidente e Fundador da Delivery Associates e Juan Yermo, Chefe de Gabinete da OCDE. Sir Barber ressaltou que com a pandemia, pela primeira vez na história, todos os governos do mundo possuem o mesmo desafio e alertou que a crise climática terá o mesmo impacto se nada for feito. Também apontou um desafio para o setor privado: compreender que “valor não é igual a preço”.

Os participantes apresentaram alguns pontos fundamentais para a agenda dos investimentos de impacto por parte dos governos:

Output x Outcome: Ponto mencionado no painel anterior e exemplificado em dois questionamentos: “Construir escolas é bom, mas que tipo de educação elas vão prover?” e “Os recursos financeiros alocados atingiram o resultado qualitativo esperado?”.

O que isso quer dizer na prática? Utilizando o exemplo fictício citado na conversa, vamos imaginar um programa educacional de um determinado município que apresenta como “entrega” a aquisição de 50 computadores. Vamos imaginar que esses equipamentos ficaram guardados na escola pois não há ninguém para realizar a manutenção. De fato, os computadores foram entregues, mas qual foi o resultado dessa entrega? Nenhum.

O sucesso desse programa educacional fictício seria capacitar jovens com habilidades digitais, e não entregar 50 computadores. Esse exemplo é uma realidade comum em vários lugares do mundo, especialmente no Brasil.

Engajar a população para conseguir melhores resultados. Para isso, a transparência e o diálogo com a população impactada pelos programas são fundamentais para que se tornem parte da solução dos desafios sociais.

Mudar a mentalidade dos gestores públicos. Governos mudam constantemente e muitos programas sofrem com a falta de continuidade. Para Barber, todo gestor público deve pensar “você está deixando o que começou melhor do que recebeu?”.

Juan Yermo, defendeu mudanças na forma como avaliamos o crescimento, retirando o foco exclusivo no PIB para incluir outros indicadores de progresso. Ressaltou também a importância da ciência e da pesquisa em tempos de pandemia e convidou todos a repensarem a importância do Estado. Destacou a importância de mais cooperação multilateral entre os países para resolver desafios globais, diferente da postura que alguns países tem adotado.

“O século 21 será ótimo, se conseguirmos passar pelos primeiros vinte e cinco anos”.

Sir Michael Barber

Kieran McLoughlin, Managing Partner na VentureWave Capital, destacou o modelo adotado pelo governo da Irlanda que está financiando uma série de investimentos em infra-estrutura por meio de Green Bonds ou títulos verdes. Também ressaltou a importância do investimento ESG. No mundo dos investimentos, investimento ESG (Environmental, Social and Governance ou Ambiental, Social e Governança em português) é aquele que incorpora questões ambientais, sociais e de governança como critérios na análise, indo além das tradicionais métricas econômico-financeiras e, com isso, permitindo uma avaliação das empresas de forma holística.

Barber finalizou fazendo uma reflexão parcialmente otimista: “O século 21 será ótimo, se conseguirmos passar pelos primeiros vinte e cinco anos”.

“O trabalhador comum se sente marginalizado pelas elites”

Na reta final do primeiro dia do evento, Darren Walker, Presidente da Fundação Ford, pontuou a importância de reconhecermos o momento que estamos passando.

Iniciou sua fala destacando as tensões raciais inflamadas pelo assassinato de cidadãos negros americanos por parte da polícia. Segundo Darren, o episódio “tirou o band-aid” do nível de racismo sistêmico da sociedade americana e iniciou um debate global sobre raça, classe e casta. Debate que também impactou o Brasil.

Darren Walker, Presidente da Fundação Ford

Segundo Walker, o movimento de impacto é fundamental nesse diálogo pois capital é parte intrínseca da solução. Como ele é alocado, quem será beneficiado, para o que será direcionado, são questões que adicionam uma dimensão social fundamental para progredirmos.

Também falou sobre as dificuldades de financiamento de fundações durante a pandemia. Em uma operação inédita, a Fundação Ford emitiu o primeiro Social Bond (Título Social, em tradução livre), levantando 1 bilhão de dólares para financiar programas e projetos impactados pela pandemia. Para explicar a operação de forma resumida, a fundação emitiu dívida com prazos longos de 30 e 50 anos e juros de 2,415% e 2,815% ao ano. Devido a dimensão e reputação da fundação, a operação foi vista com bons olhos e se tornou um produto muito requisitado pelos investidores ESG.

“Se não lidarmos com essas questões, no futuro, a desigualdade e as mudanças climáticas nos colocarão numa trajetória com implicações que não foram totalmente consideradas”.

Darren Walker, Presidente da Fundação Ford

Finalizou sua fala com um alerta: “O trabalhador médio se sente marginalizado por elites que passam muito tempo em think tanks e encontros globais de outras elites e isso não se traduz em melhoria real em suas vidas. Se não lidarmos com essas questões, no futuro, a desigualdade e as mudanças climáticas nos colocaram numa trajetória com implicações que não foram totalmente consideradas”.

Fiquem ligados no Impacta Nordeste para a continuação. Vamos contar sobre a participação de David Cameron, ex-Primeiro Ministro da Inglaterra, Chandrakant Patel, engenheiro chefe da HP e muito mais!

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