O projeto “Mude os Hábitos, Mude o Mundo”, iniciativa criada por jovens da periferia de Teresina, mudou a perspectiva sustentável de um bairro periférico em Teresina-PI.
O debate sobre a crise climática é cada vez mais presente e não há como ignorar os efeitos do que já é uma realidade na nossa sociedade. Infelizmente ainda sem espaço notório nas agendas políticas, alternativas de desenvolvimento sustentável são pautas que precisam ser presentes nas periferias, favelas, aldeias indígenas e comunidades quilombolas.
As consequências das mudanças climáticas geram impacto em todos, mas é preciso ter um olhar interseccional e entender que grupos vulnerabilizados são os que mais sofrem esse impacto. Trazer essa perspectiva para a região nordeste é mais do que necessário, é urgente e para isso o protagonismo de lideranças locais torna-se essencial para a implementação de uma realidade disruptiva.
É o caso do projeto “Mude os Hábitos, Mude o Mundo” que surgiu em 2020 através da iniciativa de uma jovem moradora da região que na época tinha apenas 15 anos, Daniela Hanna. A partir disso criou-se uma cadeia sustentável em uma das maiores zonas periféricas de Teresina que surgiu através de uma ocupação popular nos anos 90, a Vila Irmã Dulce.
Com a ajuda voluntária de outros jovens, hoje o ciclo de atuação do projeto se inicia na coleta seletiva e limpeza das ruas do bairro. Através da verba arrecadada com a venda desses resíduos que voltam para a cadeia de produção, o projeto segue com outras frentes de atuação que são a distribuição de cestas orgânicas, doação de roupas e a distribuição de sopas para a comunidade.
40 famílias são impactadas diretamente pelo projeto, mas o que se criou a partir disso foi algo muito maior, com a falta de políticas públicas eficazes, o projeto promove um espaço de diálogo sobre sustentabilidade dentro da comunidade. “É criar um lugar de fala da periferia sobre meio ambiente, sobre iniciativas sustentáveis, é importante que o debate sobre as mudanças climáticas chegue até aqui também”, diz Daniela.
Em uma conversa com Daniela, fica claro que o projeto tem papel fundamental para estimular a consciência sociopolítica da região enquanto comunidade periférica no contexto ambiental. “Na limpeza de rua, nós procuramos pontos estratégicos com acúmulo de lixo e nós nos direcionamos até o local e fazemos a limpeza desse espaço como forma de protesto.”
A jovem também compartilha que parte do que a motivou a fundar o projeto foi o período de fome que atinge alguns moradores da região. Esse é um ponto reforçado por um dos, voluntários da iniciativa: “O projeto é muito importante porque é uma forma de ajudar o nosso bairro, é importante para alimentar as pessoas que não tem condições”.
“O propósito vai além da iniciativa comunitária, o projeto também é uma ferramenta importante para que no futuro a periferia possa ocupar espaços políticos e de tomada de decisões. Hoje as políticas públicas que envolvem as periferias ainda são elaboradas, em sua maioria, por pessoas que não vivem essa realidade e isso interfere em como essas medidas são aplicadas e isso quando conseguem sair do papel.”
Tornar o debate sobre a crise ecológica e climática menos elitizado e mais inclusivo é, sobretudo, garantir que possamos construir juntos alternativas plurais e capazes de criar um novo cenário, entendendo os recortes de gênero, classe, raça e geográfico.
Hidelgann Araújo. Fascinado pela área de comunicação e atuante do terceiro setor, utiliza suas duas grandes aspirações para gerar impacto positivo e transformação social em sua comunidade. Como Embaixador Politize! fundou a primeira embaixada do Piauí, tornando a educação política mais acessível e plural em sua cidade gerando impacto direto no cenário social ao seu redor.
Hidelgann é uma das jovens lideranças selecionadas no programa Impulsio.ne e faz parte da Rede de Jovens Lideranças de Impacto do Nordeste.