As escolas cumprem um papel fundamental na formação de futuros líderes além de exercerem uma importante influência no contexto local. Com a crescente preocupação com a crise climática, é necessário que as escolas incorporem a sustentabilidade como um valor não apenas na grade curricular, mas também em sua gestão, de forma holística, sistêmica e integrada.
A preocupação com a crise climática tem crescido cada vez mais nos últimos anos e vários esforços têm sido empenhados em encontrar maneiras de alinhar o desenvolvimento econômico com o combate à pobreza e desigualdades e o uso racional de recursos naturais.
A escola pode ser compreendida como uma comunidade que exerce uma importante influência no contexto local. Muito além da sala de aula, é um lugar que afeta diretamente a vida de um grande volume de pessoas: alunos, pais e familiares, professores, funcionários e a própria comunidade do entorno. É a base da formação do cidadão, um espaço de transformação e sensibilização.
As crianças e adolescentes presentes hoje nas escolas serão os responsáveis pelas ações econômicas, políticas, sociais e ambientais do futuro, por isso é tão importante trazer a sustentabilidade para dentro desses ambientes.
Escolas como Espaços Educadores Sustentáveis
Diversas leis amparam a necessidade de trazer o tema da sustentabilidade para as escolas. A Lei 6.938/1981, que institui a Política Nacional do Meio Ambiente, tem como um dos seus princípios que a Educação Ambiental esteja presente em todos os níveis de ensino.
Posteriormente, enfatizando ainda mais, a Lei nº 9.795/1999, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, trouxe em seu Art. 2º que a Educação Ambiental é uma componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal.
A Agenda 21 Escolar foi criada em 2003, como um dos desdobramentos da Agenda 21 Global, que foi apresentada e assinada na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e o Desenvolvimento, em 1992, na cidade do Rio de Janeiro. A Agenda 21 Escolar tem como componentes básicos a sustentabilidade escolar e o entorno, a inovação curricular e a participação da comunidade. A Agenda 21 Escolar também destaca os seguintes eixos prioritários: Projeto Político Pedagógico, Currículo, Gestão e Estrutura Física.
Em 2007, o Plano Nacional sobre Mudança do Clima, também colocou as escolas como protagonistas diante do combate e adaptação às mudanças climáticas, destacando que o MEC sugere a criação de espaços educadores sustentáveis nas escolas e universidades brasileiras, com readequação de prédios e da gestão, além da formação de professores e da inserção da temática nos currículos e materiais didáticos.
Novamente, em 2010, o tema foi resgatado pelo Decreto 7.083/2010 que instituiu o Programa Mais Educação, cuja finalidade é contribuir para a melhoria de aprendizagem por meio da ampliação do tempo de permanência das crianças, adolescentes e jovens matriculados em escolas públicas, mediante a educação em tempo integral. No Art. 2, inciso V, o decreto incentiva a criação de espaços educadores sustentáveis com a readequação dos prédios escolares, incluindo a acessibilidade, gestão, formação de professores com a inserção da temática da sustentabilidade ambiental nos currículos e nos materiais didáticos.
Em 2013, o Ministério da Educação criou o Programa Nacional Escolas Sustentáveis (PNES), que direcionava recursos financeiros para apoiar a transição das escolas à sustentabilidade. O plano de ação deveria considerar três dimensões: o currículo, a estrutura física e a gestão.
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) nas escolas
A Agenda 2030 foi proposta em 2015 pela Organização das Nações Unidas (ONU) aos seus países membros, contendo 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas. Os ODS buscam acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade.
Abordar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) nas instituições de ensino contribui para a formação de cidadãos mais conscientes da desafiadora missão de construir um amanhã mais justo e equilibrado. Afinal, são as crianças e adolescentes de hoje que conduzirão a nossa sociedade no futuro.
A formação de verdadeiros líderes climáticos passa pelo exemplo. É necessário que as escolas incorporem a sustentabilidade como um valor na sua gestão, de forma holística, sistêmica e integrada. Assim, todas as decisões institucionais, não apenas no nível curricular, passarão pelo crivo: isso é sustentável?
Muitas vezes a busca por uma gestão 100% sustentável trava os gestores, professores e demais envolvidos. Mas, que tal experimentar uma gestão 100% consciente? Saber dos problemas e limitações é o primeiro passo para começar uma jornada sustentável que em muito contribuirá com os ODS e suas metas. Agindo localmente, também agimos globalmente.
Programas, Projetos e Movimentos
Eco-escolas
O Programa Eco-Escolas foi desenvolvido pela FEE (Foundation for Environmental Education), uma organização europeia formada por uma rede de instituições internacionais. No Brasil o Programa começou em 2008 por meio do operador nacional IAR (Instituto Ambientes em Rede).
O Programa busca incentivar e capacitar os alunos e professores a criar ações em suas escolas através de uma abordagem holística e participativa, combinando aprendizagem com gestão e proporcionando assim um método eficaz para a melhoria ambiental da escola, despertando consciência das questões atuais, sensibilização e comportamentos adequados.
Escolas Pelo Clima
O movimento Escolas pelo Clima é uma comunidade de escolas comprometidas com a crise climática. O movimento conecta educadores e disponibiliza conteúdo de educação climática. Para fazer parte, a escola deve tornar-se signatária do movimento, gratuitamente.
World’s Largest Lesson
O projeto World’s Largest Lesson promove o uso dos ODS na aprendizagem para que as crianças possam contribuir para um futuro melhor para todos. Produzem ferramentas criativas para educadores e experiências de aprendizagem focadas na ação para crianças e jovens que constroem habilidades e motivação para agir pelos ODS.
Case de sucesso no Nordeste: Colégio Fazer Crescer, o primeiro edifício educacional totalmente sustentável de Pernambuco
O colégio Fazer Crescer se localiza em Recife-PE e já foi premiado com o Selo de Sustentabilidade Ambiental Diamante, pela Prefeitura da Cidade do Recife (PCR), devido às boas práticas de sustentabilidade na escola.
A escola possui um telhado verde que abriga diferentes tipos de horta. Lá, os alunos unem a teoria à prática, ajudando no cultivo de aproximadamente 2 mil mudas de hortaliças e vegetais a cada ano. O sistema de gotejamento faz a horta ser ainda mais sustentável, consumindo a água de forma racional.
Quase metade da energia do prédio é de origem renovável, abastecida por placas fotovoltaicas. A escola também possui gestão de resíduos, destinando corretamente cerca de 3,5 toneladas de resíduos anualmente. Os resíduos orgânicos são compostados no próprio local.
Como começar?
Como vimos até aqui, existem muitas ferramentas para auxiliar no começo da implementação de ações mais sustentáveis. No início, é importante entender que é preciso considerar a sustentabilidade não só no currículo, mas tentar conectá-la às práticas presentes na própria escola. Então, que tal começar pensando com quais ODS a escola pode contribuir? Olhe para a produção de resíduos sólidos, consumo de recursos e o uso racional de energia e água. Para além das pautas ambientais, lembre-se de que sustentabilidade, e os próprios ODS, tratam também de questões sociais e econômicas, então é essencial olhar para desafios sociais como igualdade de gênero, diversidade, inclusão e condições justas de trabalho, por exemplo.
Faça metas factíveis, mensure os resultados e estabeleça boas conexões com quem já está nessa jornada. Inclua toda a comunidade escolar, promova eventos colaborativos e comunique as ações para que mais pessoas possam contribuir. A sustentabilidade é sempre construída a várias mãos.
Amanda Queiroga, 27 anos, é Engenheira Ambiental, professora, empreendedora sustentável e consultora Lixo Zero pelo Instituto Lixo Zero Brasil (ILZB). Também atua como consultora em sustentabilidade para PMEs e da palestras sobre esse tema. Acredita que escolhas conscientes podem mudar o mundo, por isso tem como propósito levar a educação ambiental para as pessoas e transformar as empresas de dentro pra fora.
Amanda é uma das jovens selecionadas no programa Impulsio.ne e faz parte da Rede de Jovens Lideranças de Impacto do Nordeste.