Impacta Nordeste

Arte, Cultura e Transformação Social: O impacto da Oficina Esperanza no Piauí

Na periferia de Parnaíba (PI), a Oficina Esperanza utiliza a arte, a cultura e a inclusão social para transformar o presente e o futuro de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. Com aulas gratuitas de música, dança e robótica, promove acolhimento, desenvolvimento integral e o fortalecimento da cultura como motor de inclusão social.

Em uma sociedade moldada pela lógica da escassez, o que significa estar incluído em um mundo que, desde suas bases, foi estruturado para excluir? A ideia de que não há o suficiente para todos – tão presente nas dinâmicas de desigualdade que vivemos – não é um dado natural, mas algo construído. Esse imaginário de escassez se reflete não só nos recursos materiais, mas também nos acessos: à cultura, à arte, ao direito de sonhar e imaginar um futuro diferente. Essa configuração não é uma fatalidade, mas o reflexo de paradigmas que estruturam nossos sistemas sociais e econômicos, priorizando o acúmulo em detrimento da inclusão. Em comunidades vulneráveis, o que falta não é potencial, mas espaços que acolham e estimulem as infinitas possibilidades que ali existem. 

E é exatamente aí que a arte e a cultura emergem como elementos subversivos, capazes de romper barreiras e transformar o que parecia destinado à marginalidade. Elas oferecem mais do que um escape; são uma oportunidade para que indivíduos em situações de vulnerabilidade social descubram novos caminhos, redefinam suas histórias e imaginem futuros que transcendem os limites de suas condições atuais. A Oficina Esperanza, em Parnaíba (PI), é uma dessas iniciativas que desafiam as lógicas da exclusão. Em um casarão repleto de vida e cor, crianças e adolescentes encontram um espaço de aprendizado, onde a criação vira instrumento de transformação. Ali, a falta é confrontada com abundância: de ideias, de acolhimento e de novos caminhos possíveis.

O começo

Mas, para entender o que hoje é a Oficina Esperanza, é essencial voltar ao passado e revisitar o ponto de partida dessa trajetória de transformação. O embrião do projeto surgiu em 2018, com oficinas de marcenaria voltadas para a reinserção social de dependentes químicos. Inicialmente, o foco era oferecer suporte e uma nova perspectiva de vida a adultos em situação de vulnerabilidade. No entanto, ao longo do tempo, Artur Fontenelle e Ronald Santos, fundadores da OSCIP(Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), perceberam a necessidade de redirecionar sua abordagem, apostando na prevenção em vez de apenas na reparação.

Essa mudança de rota levou ao trabalho com crianças e adolescentes, com idades entre 5 e 13 anos, moradoras da periferia de Parnaíba, no bairro Mendonça Clark, com o objetivo de oferecer caminhos que evitem situações de risco no futuro desses jovens. Assim, em 2021, a Oficina Esperanza ganhou um espaço físico, o “Casarão da Esperanza”, e passou a investir na arte e na cultura como instrumentos de transformação e entretenimento, criando um ambiente acolhedor e seguro, onde jovens pudessem desenvolver habilidades, sonhar e construir um futuro com mais possibilidades.

Rosangela Santos, Gestora da Oficina, reforça que “as mudanças são perceptíveis desde o momento em que cada criança demonstra interesse, anseio e felicidade ao retornar ao Casarão no dia seguinte para participar das atividades. Além disso, é possível notar a evolução no desenvolvimento socioemocional delas por meio do progresso que apresentam nas atividades realizadas.” Essa observação reforça como o projeto atua no fortalecimento das habilidades individuais de cada jovem. 

A iniciativa é estruturada em seis eixos principais: Assistência Social, Saúde, Educação e Novas Tecnologias, Cultura, Esporte, e Empreendedorismo e Geração de Renda. As atividades incluem aulas de dança, violão, flauta, teclado, artes, karatê, capoeira, educação física (futebol, vôlei e recreação), robótica, informática, além de grupos voltados para empreendedorismo feminino e extensão pedagógica.

(Foto: Reprodução/Facebook – Oficina Esperanza)

Atualmente, a Oficina atende 45 crianças e já impactou diretamente cerca de 260 por meio de suas iniciativas. Mais que um espaço físico, o Casarão Esperanza tornou-se um ponto de encontro que ressignifica não somente a experiência das crianças, mas também de outras pessoas que se conectam com o propósito do trabalho que tem sido feito. A mobilização coletiva também é um dos fios condutores desse ecossistema e o espaço foi revitalizado com o apoio de artistas locais e nacionais. Murais assinados por Alex Senna, Línea, João Lucas(Feijão) e Luna Bastos fazem do ambiente um espaço que inspira criatividade e reflete a identidade da comunidade em que o projeto se faz presente. 

Instrumentos de Transformação

A arte e a cultura são territórios de invenção e pertencimento, e cumprem um papel importante na fluência do pensar, sentir, aprender, bem como no se reconhecer como indivíduo. Para crianças em contextos vulnerabilizados, esses instrumentos não são apenas uma forma de expressão, mas uma forma de inclusão, resgate da autoestima, fortalecimento da confiança e a construção de novas narrativas. 

No caso da Oficina Esperanza, é perceptível que o objetivo vai além da aprendizagem de uma técnica específica. Ela visa o desenvolvimento integral desses jovens, despertando a criatividade e a colaboração, e criando novas maneiras de potencializar habilidades e talentos que, em sua maioria por falta de acessos, não são estimulados e sequer chegam a ser desenvolvidos.

Além disso, a Oficina compreende que a transformação social não ocorre de forma isolada e, por isso, o trabalho com as crianças se expande para incluir suas famílias. Por meio de reuniões, encontros e ações voltadas para a participação ativa, os pais e responsáveis são incentivados a se tornarem parte do processo de desenvolvimento das crianças. “O nosso trabalho se dá com a criança e sua família, pois entendemos que é um esforço conjunto. A família desempenha um papel fundamental no desenvolvimento das crianças”, explica Rosângela.

(Foto: Reprodução/Facebook – Oficina Esperanza)

Após a compreensão da sensibilidade presente no propósito que a Oficina alimenta, assumo dizer que, mais do que apenas adquirir habilidades práticas, as crianças e jovens aprendem a se ver e a se reconhecer como protagonistas de suas próprias histórias e de seus territórios. E é com essa visão que, a longo prazo, a Oficina Esperanza visa criar um impacto que transcenda a infância, como descreve Rosangela: “As atividades promovem competências sociais, emocionais, culturais e educativas que transformam perspectivas de vida. Muitas crianças desenvolvem habilidades que as acompanham durante toda a vida, fortalecendo a autoestima, o senso de responsabilidade e o desejo de construir um futuro melhor.”

Ao final desta jornada pela história da Oficina Esperanza, sinto que uma certeza emerge: este não é apenas um projeto, mas um movimento que redefine o significado de esperança em contextos marcados pela exclusão. Por meio da arte e da cultura, o Casarão não apenas transforma a vida de crianças e adolescentes, mas também provoca uma ruptura nas lógicas que perpetuam a desigualdade. 

Se essa história despertou algo em você, saiba que ainda há muito a ser feito. Junte-se a esse movimento e faça parte dessa transformação. Clique aqui para conhecer mais sobre o projeto e descobrir como contribuir.

Hidelgann Araújo é um estrategista de comunicação e mobilizador do terceiro setor, premiado pelo Anthem Awards e com o selo de Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo. Sua paixão pela criatividade e articulação de comunidades e histórias se traduz em uma trajetória que reflete a comunicação como uma ferramenta para gerar impacto social. Já colaborou com Canal Futura, Co.liga, Greenpeace, Politize!, SOMA+ e UNICEF, fortalecendo a sinergia do coletivo e valorizando a pluralidade como base para a inovação.

Hidelgann faz parte da Rede Impacta Nordeste.

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