Impacta+Negócios de impacto

“Articular o protagonismo dos negócios de impacto das periferias do Brasil é a nossa missão”

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Nascida em São Paulo com a missão de desenvolver o ecossistema de negócios de impacto da periferia, a ANIP está se conectando com outras quebradas do Brasil para conhecer, trocar e evidenciar os NIPs que estão em Quilombos, Aldeias, Mocambos, Comunidades, Favelas, Becos e aglomerados espalhados pelo país.

Por Ana Paula Silva
Edição Marcello Santo

Compreender, articular e mobilizar os negócios de impacto nas periferias brasileiras. É com esse objetivo que a Articuladora de Negócios de Impacto da Periferia – ANIP está reunindo e fomentando atores estratégicos para a consolidação desse ecossistema, por meio do apoio a uma nova geração de empreendedoras e empreendedores das periferias. 

A ANIP nasceu em 2018 como uma Aceleradora de Negócios de Impacto da Periferia, depois de muita articulação dentro e fora das periferias na Zona Sul de São Paulo. A Articuladora foi co-criada e co-realizada pela A Banca, produtora cultural social de impacto positivo, a Artemisia, aceleradora de negócios de impacto, e o Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Fundação Getúlio Vargas. Em 2020 a ANIP deixa de ser somente uma aceleradora e passa a se posicionar como uma Articuladora de Negócios de Impacto da Periferia atuando em 4 áreas que se complementam: Mobilização e inspiração, aceleração com o LAB NIP, Geração de Conhecimento e Modelo Financeiro. 

Para um dos fundadores da ANIP, o Marcelo Rocha, conhecido como DJ Bola, é preciso desenvolver um ecossistema de negócios de impacto da periferia que não esteja ligado somente ao crescimento econômico tradicional, mas que compreenda as necessidades reais das empreendedoras e empreendedores. “É preciso que esse ecossistema potencialize e crie condições reais de escala, fortalecimento do capital humano e social e que crie pontes dentro e fora das periferias. As ações precisam ter um impacto mais profundo, respeitar as peculiaridades das periferias, ampliar as capilaridades regionais e produzir e disseminar o conhecimento sobre o ecossistema de Negócios de Impacto nas Periferias”, explica.

Palestra do DJ Bola em evento da ANIP (foto: ANIP).

A ANIP promoverá de 30 de setembro a 02 de outubro, o Festival Negócios de Impacto de Periferia Norte e Nordeste com várias mesas com palestrantes e cases de sucesso de negócios de impacto social das periferias das regiões. O evento será em formato online e gratuito e para participar basta se inscrever no site: https://conteudo.articuladoranip.com/fnip-nortenordeste

Também já está com inscrições abertas o Lab NIP – Negócios de Impacto da Periferia, programa gratuito de aceleração que irá fortalecer até 30 negócios de impacto que buscam transformar positivamente as quebradas das regiões Norte e Nordeste. O programa terá duração de 7 semanas e os negócios selecionados receberão uma ajuda de custo de R$1.250,00. Os cases que se destacarem poderão receber até 15 mil reais para aprimorarem suas iniciativas. Para saber mais e fazer a sua inscrição, acesse: https://impactosocial.artemisia.org.br/lab-nip.

Conversamos com o DJ Bola sobre a origem da ANIP, os negócios de impacto nas periferias e os planos da articuladora para se conectar com outras quebradas Brasil a fora.

Qual o principal objetivo da ANIP e como a articuladora atua para fomentar os negócios de impacto social na periferia?

A ANIP – Articuladora de Negócios de Impacto da Periferia vem com a intenção de compreender, articular e mobilizar os atores estratégicos para a consolidação do ecossistema de negócios de impacto da periferia, apoiando uma nova geração de empreendedoras e empreendedores das periferias em estágios diferentes de desenvolvimento. Queremos com essa estratégia proporcionar nos próximos anos diferentes formas de atuar com as empreendedoras e empreendedores das periferias nas mais diversas regiões do Brasil.

Apesar do crescimento constante, o conceito de negócios de impacto ainda é restrito a um pequeno setor. Como vocês enxergam os negócios de impacto no contexto da periferia?

Para nós os NIPs (negócios de impacto da periferia) sempre aconteceram nas quebradas, já há bastante tempo, mas quase sempre sem apoio. O empreendedor de periferia utiliza do seu conhecimento empírico e ancestral, traz sua luta e paixão e busca prosperidade financeira, por meio de seu serviço ou produto, gerando emprego e renda nos territórios e segmentos. Isso na essência é impacto social, por isso fomentamos discussões que olhem para os empreendedores e empreendedoras das periferias como potenciais agentes transformadores socioeconômicos da nova era. O impacto muitas vezes acontece no olho do furacão, ou seja, onde realmente estão instalados os problemas mais complexos. Problemas que vivemos em nosso dia a dia e que são essenciais e urgentes. Por isso trazemos pautas nas quais os empreendedores sociais de periferia são protagonistas, tem a representatividade da base da pirâmide e são vistos dentro do ecossistema de impacto social no Brasil.

Qual é a percepção dos empreendedores da periferia do conceito dos negócios de impacto?

No nosso ponto de vista, é uma narrativa nova para algo que já acontecia há anos com outros nomes e dialetos. Portanto problematizar o quanto já somos empreendedores e o impacto socioambiental e econômico positivo que causamos é importante para ocupar espaços que por muitos anos nos foram negados.

Apresentação da 3a turma da ANIP. (Foto: ANIP)

E quais são os desafios para conectar a periferia com o “outro lado da ponte”?

Ter o olhar do coração para co-criar, co-realizar e juntos trocar experiências, aprendizados e sentimentos. O desafio é fazer das pontes um lugar de troca de mão dupla, onde podemos dar e receber e também. Porém o desafio maior está na desconstrução e mudança de mentalidade para que possamos fazer diferente do que vem sendo feito na questão de impacto social e inovação social.

Quantos negócios de impacto já foram apoiados pela ANIP? Poderia citar alguns exemplos que de destaque que retratam o potencial dos negócios de impacto da periferia para solucionar desafios em seus territórios?

Como aceleradora de Negócios de Impacto de Periferia (NIP), nos anos 2018 e 2019, foram 20 negócios acelerados. Já em 2020 foram 30 NIPs e em 2021 a previsão é atender 60 NIPs. Entre esses negócios podemos citar: o Gastronomia Periférica, Periferia em Movimento, Boutique de Krioula, EmpreendeAí, Emperifa, You Use, We Use, Enjoy Alimentos, Reciclo Beleza Sustentável, Recifavela, entre outros. Pode acessar o www.articuladoranip.com e conhecer outros nips.

A ANIP quer se conectar com outras “quebradas” do Brasil? Quais são as iniciativas que estão sendo desenvolvidas nesse sentido?

Queremos e estamos nos conectando com diversas quebradas do Brasil. Nosso objetivo é conhecer, trocar e evidenciar os NIPs que estão em Quilombos, Aldeias, Mocambos, Comunidades, Favelas, Becos e aglomerados. Iremos realizar duas ações que visam colaborar para que esse objetivo seja alcançado. Uma delas é o Festival Negócios de Impacto da Periferia Norte e Nordeste com mesas temáticas e lideranças empreendedoras desses territórios que irão falar sobre suas jornadas empreendedoras, seus impactos e lutas. Também vamos realizar o LAB NIP Norte e Nordeste com o objetivo de acelerar até 30 empreendedoras e empreendedores sociais do Norte e Nordeste. Serão encontros online com troca de conteúdos que podem colaborar com o desenvolvimento do negócio e da liderança. Todos os 30 participantes do LAB NIP Norte e Nordeste irão receber um investimento semente e seis NIPs destaques serão acompanhados no primeiro semestre de 2022. 

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