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Biofábrica de corais: conheça a startup que atua na reconstituição recifal no litoral pernambucano

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Fragmentos de corais adoecidos ganham nova vida com a Biofábrica de Corais. A startup pernambucana resgata, cultiva e reintroduz corais em áreas degradadas, combinando inovação, turismo sustentável e engajamento comunitário para proteger os oceanos.

Em meio à Década dos Oceanos (2021-2030) e à Década da Restauração dos Ecossistemas (2021-2030) — iniciativas globais lideradas pela Organização das Nações Unidas (ONU) para promover o uso sustentável dos oceanos e a recuperação de ecossistemas degradados — soluções inovadoras têm ganhado destaque na busca por mitigar impactos ambientais críticos. Um exemplo de sucesso é a Biofábrica de Corais, que deu seus primeiros passos em 2016 como parte da tese de doutorado de Rudã Fernandes na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Em 2021, a iniciativa deu um salto ao se transformar em uma startup incubada no Polo Tecnológico e Criativo da UFPE, na área de Biotecnologia, unindo ciência e empreendedorismo em prol da regeneração de recifes de corais.

O processo conduzido pela startup começa com a equipe coletando corais adoecidos ou tombados no fundo do mar, que são fragmentados e inseridos em mesas de cultivo. Ali, nos berçários, os fragmentos são monitorados e estimulados a crescer saudáveis ao longo de meses. Quando atingem um tamanho adequado, os corais revitalizados são transplantados para áreas degradadas, ajudando a regenerar recifes e restaurar a biodiversidade marinha local. 

Segundo o CEO da startup, Rudã Fernandes, o grande diferencial da empresa é desenvolver tecnologia, aprender a utilizá-la, escalar a sua utilização e, depois, compartilhá-la com a comunidade.

Berçário de corais. (Foto: Filipe Cadena/Site da empresa)

A importância dos recifes de corais

Os recifes de corais são considerados o habitat mais variado do mundo por abrigar uma grande diversidade de espécies. Embora possam parecer minerais ou plantas, os corais são animais, mais especificamente cnidários da classe Anthozoa. Alimentam-se de pequenos animais, como peixes minúsculos ou de zooplâncton, e são berçários para outros seres vivos. 

Segundo um estudo realizado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, os recifes de corais desempenham um importante papel para a economia e a proteção costeira no Brasil. Na região Nordeste, entre o sul da Bahia e o Maranhão, esses ecossistemas, que ocupam cerca de 170 quilômetros quadrados, geram até R$ 167 bilhões em serviços relacionados à proteção costeira e ao turismo. A cada quilômetro quadrado de recifes, R$ 941 milhões são poupados em danos evitados, uma vez que esses habitats naturais atuam como barreiras contra tempestades, ressacas e erosões, protegendo comunidades costeiras e infraestrutura local. Vale destacar que o litoral nordestino concentra a maior quantidade de recifes do território nacional. Esses ecossistemas se estendem do Cabo de São Roque até a Foz do Rio São Francisco, abrangendo os estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas.

A atenção dada ao tema se justifica pelas inúmeras pressões que esse ecossistema enfrenta. Poluição dos oceanos, turismo desordenado e pesca predatória figuram entre os principais impactos causados por atividades humanas. Além disso, o branqueamento dos corais, resultado do aumento da temperatura dos oceanos impulsionado pelas mudanças climáticas, agrava ainda mais a situação. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), até 90% dos recifes de corais podem desaparecer até 2050, colocando em risco não apenas a biodiversidade marinha, mas também as comunidades que dependem desses ecossistemas para proteção costeira e sustento econômico.

Educação ambiental e turismo regenerativo

Para enfrentar os desafios que ameaçam os recifes de corais, a Biofábrica de Corais aposta no turismo regenerativo como estratégia de conservação e engajamento do público. A atividade é desenvolvida em Porto de Galinhas, em Ipojuca, Pernambuco, e os turistas têm a chance de se tornar participantes ativos no processo de regeneração. A experiência começa com uma aula teórica sobre segurança e o funcionamento dos recifes, seguida pelo traslado de jangada e mergulhos, onde acompanham etapas do trabalho realizado pelos pesquisadores. No encerramento, cada visitante planta um novo coral, contribuindo diretamente para a recuperação dos ecossistemas marinhos.

Em 2023, a iniciativa venceu o Prêmio Nacional de Turismo, promovido pelo Ministério do Turismo, na área de ‘Turismo sustentável e ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas’. 

Expandindo sua atuação além de Pernambuco, a startup também aplica sua metodologia de restauração de corais em outras regiões. Em outubro de 2024, iniciou um projeto no litoral de Alagoas, com foco nas piscinas naturais de Maragogi. A iniciativa prevê a recuperação e o transplante de mais de 2.000 corais.

Experiências turísticas. (Foto: Filipe Cadena/Site da empresa)

Rede colaborativa

A startup conta com parcerias estratégicas com hotéis, empresas de turismo e pescadores locais, além do apoio de instituições como a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a Fundação Grupo Boticário e a WWF, que atuam como incubadoras. Outras parcerias institucionais, públicas e privadas, reforçam tanto o aspecto operacional quanto o científico da iniciativa. Essa rede integrada de colaboração promove uma coesão local em que a conservação ambiental ocupa posição central, criando benefícios mútuos para diversos setores envolvidos e fortalecendo a sustentabilidade na região.

“Nós criamos uma rede onde reunimos atores para participar dos processos. Então, o exemplo mais bem-sucedido disso ocorre no nosso programa de turismo regenerativo, em que a gente coleta os corais, faz as mudinhas, o jangadeiro participa levando os turistas onde os turistas plantam, os mergulhadores levam as pessoas nas áreas de restauração e a gente fecha esse ciclo. Ou, no programa de adoção, por exemplo, onde a gente convida empresas como CVC, Azul e Luck Receptivo a sensibilizar os seus clientes para adotarem os nossos corais. Também, no programa Educa Bio, com apoio do Instituto NeoEnergia, em que a gente sensibilizou aproximadamente 3.000 crianças em escolas de Ipojuca e esse ano pretendemos fazer a mesma atividade em Barreiras, Sirinhaém, Rio Formoso, Ipojuca, Tamandaré e São José da Coroa Grande”, afirma Rudã Fernandes.

Ao aliar ciência e turismo regenerativo, a Biofábrica de Corais contribui para a sustentabilidade local, inspirando uma mudança de mentalidade sobre como podemos, coletivamente, proteger nossos oceanos e intervir positivamente na natureza. Em um contexto atual preocupante que envolve os ecossistemas marinhos, iniciativas como essa reafirmam que a conservação depende de uma rede colaborativa.

Adote um coral

A Biofábrica de Corais oferece uma campanha contínua em seu site, permitindo que qualquer pessoa participe da conservação marinha adotando um coral. O coral adotado é cultivado no berçário da empresa e, após alcançar o tamanho adequado, é transplantado para áreas degradadas. Durante todo o ciclo, os adotantes recebem atualizações em fotos, acompanhando o desenvolvimento do coral e seu papel na restauração dos recifes.

Para conhecer mais, acesse o site oficial da iniciativa.

Amanda Queiroga, 27 anos, é Engenheira Ambiental, professora, empreendedora sustentável e consultora Lixo Zero pelo Instituto Lixo Zero Brasil (ILZB). Também atua como consultora em sustentabilidade para PMEs e da palestras sobre esse tema. Acredita que escolhas conscientes podem mudar o mundo, por isso tem como propósito levar a educação ambiental para as pessoas e transformar as empresas de dentro pra fora.

Amanda faz parte da Rede Impacta Nordeste de Jovens Lideranças