De acordo com a pesquisa Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) contínua, 18,23 milhões de brasileiros se declaram pretos e 98,76 milhões pardos. A população negra, conceituada como a soma de pretos e pardos pelo IBGE, representa hoje 55,4% da população no país. No Nordeste, a representação total da população negra é ainda maior que a média nacional, atingindo 75,4%.
Apesar da maioria numérica, a população negra continua lutando contra o histórico de exclusão e os diversos obstáculos para ter acesso a oportunidades. Quando olhamos para o mercado de trabalho, a pesquisa Desigualdade Social por Cor e Raça no Brasil (IBGE, 2018) apontou que o desemprego atinge a população negra desproporcionalmente. Apesar de de serem aproximadamente 55% da força de trabalho, entre os desempregados, 65% são negros. A informalidade também é maior entre a população negra com 47,3% ante 34,6% dos brancos. Quando olhamos para as 500 maiores empresas, uma pesquisa do Instituto Ethos de 2016 apontou que apenas 4,7% e 6,3% dos quadros executivos e cargos de gerência respectivamente, são ocupados por negros.
Em 2020, os casos de violência policial contra a população negra nos Estados Unidos desencadearam um movimento global conhecido como Black Lives Matter (ou Vidas Negras Importam, em portugês). Apesar das proporções alcançadas pelos protestos massivos nos EUA e ao redor do mundo, a luta por igualdade é histórica, travada em várias frentes, em diversos lugares e de diferentes formas.
Embora o caminho seja longo, a luta por igualdade racial tem conseguido conquistas importantes. Em 2018, pela primeira vez na história, os negros são maioria ensino superior. Nas últimas eleições do dia 15/11/2020, a proporção de candidatos negros foi a maior da história, passando pela primeira vez a quantidade de candidatos brancos. O número de negros que conseguiram se eleger atingiu o recorde de 32%, apesar da sub-representação continuar.
No mundo do empreendedorismo, essa luta também existe. São aproximadamente 14 milhões de negros a frente de negócios. Segundo o Estudo do Empreendedorismo Negro no Brasil realizado pela PretaHub em parceria com a Plan CDE e a JP Morgan, 35% empreende por vocação, 34% por necessidade e 22% por engajamento. Entre os que dizem empreender por engajamento, muitos desejam empreender com uma atividade autoafirmativa voltada ao público afro. 31% dos que empreendem por engajamento acredita que sua maior qualidade é a articulação de sua cultura e produtos e 36% trabalha com inovação.
O Dia da Consciência Negra foi criado para ser um momento de reflexão da inserção do negro na sociedade. Para celebrar a data, nós selecionamos cinco iniciativas inovadoras que promovem impacto social em diferentes áreas e foram criadas por empreendedores negros do Nordeste. Confira!
Afrosaúde
A AfroSaúde é uma plataforma criada especialmente para a comunidade negra ter maior acesso a serviços e profissionais de saúde que buscam representatividade durante o atendimento nos hospitais e centros de saúde.
O desejo de empreender compartilhado entre os amigos Arthur Lima, dentista, especialista em saúde da família e mestrando em saúde, ambiente e trabalho, e o jornalista Igor Leonardo, foi o primeiro passo para a criação da empresa. No processo, ambos concordaram que o negócio deveria seguir um importante critério: promover impacto positivo para a sociedade.
Segundo Arthur, a ideia que serviria como base para a AfroSaúde surgiu após um debate sobre raça e mercado de trabalho durante uma aula do seu mestrado. “O tema me fez refletir sobre o meu lugar enquanto homem negro e profissional de saúde e todas as dificuldades que enfrentei no mercado”.
Confira a matéria especial que produzimos sobre o trabalho da AfroSáude.
Ecociclo
A EcoCiclo produz um absorvente descartável feito de material biodegradável, vegano e com corte anatômico que se adapta ao corpo feminino.
Segundo Hellen Nzinga, que junto com Patricia Zanella, Adriele Menezes e Karla Godoy, fundaram a EcoCiclo, a empresa não é considerada um negócio sustentável somente por produzir absorventes biodegradáveis, mas sim por sua motivação: acreditar na sustentabilidade como um processo em cadeia. O incentivo à empregabilidade feminina também faz parte da missão da empresa.
Todo o processo de desenvolvimento do negócio foi pensado como ferramenta de impacto. Além de oferecer um absorvente biodegradável e que não prejudica a saúde íntima das mulheres, o objetivo é que a EcoCiclo seja feita por mulheres que vivem em situação de vulnerabilidade, pois é uma forma de se desenvolverem profissionalmente e conquistarem novas oportunidades.
Confira a matéria especial que produzimos sobre a EcoCiclo.
TrazFavela
Iago dos Santos, um jovem morador do bairro de São Caetano, localizado na periferia de Salvador, trabalhava próximo a uma empresa de logística de entregas por aplicativo e resolveu perguntar sobre a ausência de cobertura dos serviços nas regiões periféricas. As respostas eram sempre as mesmas: “o serviço ainda está sendo ampliado” ou “não é prioridade no momento”. Quando percebeu essa lacuna, Iago começou a participar de eventos sobre empreendedorismo para entender melhor esse universo e planejar alguma solução.
E foi nestes eventos que Iago apresentou sua ideia: um sistema de delivery específico para as periferias e regiões carentes – nascia então a TrazFavela. Hoje, a empresa conta com uma equipe formada por quatro pessoas, todas de comunidade periféricas de Salvador: Iago Santos, Fundador e Diretor Executivo; Marcos Silva, Diretor de Tecnologia; Ana Luiza Sena, Diretora da Operação; Carlos Lima, Coordenador de Operações.
Recentemente, a TrazFavela foi uma das três primeiras startups do país contempladas com aporte financeiro do Black Founders Fund, fundo de investimento do Google For Startups. Confira a matéria especial que fizemos sobre o TrazFavela
Negrê
O Negrê surgiu para unir modos de ver, ser, sentir e escrever sobre questões raciais. É um portal de notícias e mídia preta nordestina que amplifica vozes negras e seus múltiplos olhares. Fundado pelas jornalistas negras Larissa Carvalho e Sara Sousa, o projeto surgiu como Trabalho de Conclusão do Curso Abdias Nascimento – Comunicação e Igualdade Racial, promovido pelo Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce) em 2018.
A intensificação do debate racial ao redor do mundo e movimentos nas redes sociais, como o Black Twitter Nordestino, possibilitou que pessoas pretas do Nordeste se encontrassem na rede e compartilhassem ideias semelhantes. Dai surgiu a necessidade de uma mídia preta nordestina, construída com união e potência de profissionais da comunicação e de outras áreas, oriundos de diversos locais da região Nordeste do Brasil.
Diver.SSA
Criada por Ítala Herta, cofundadora do Vale do Dendê, a Diver.SSA é uma iniciativa focada em fomentar o empreendedorismo feminino de impacto social no Norte/Nordeste. Toda a sua abordagem e metodologia de trabalho considera os mais diversos perfis femininos, feminilidades, contextos interculturais e vulnerabilidades sociais.
As ações, serviços e programas da iniciativa são baseadas no acolhimento para lideranças femininas em contextos de vulnerabilidades sociais e urgências econômicas; no uso e acesso a tecnologias e inovação social para resolução de problemas reais enfrentados por mulheres em territórios vulneráveis; na educação empreendedora e desenvolvimento pessoal para mulheres; no fomento e sensibilização dos ecossistemas de empreendedorismo para garantia da equidade de gênero, feminilidades, geração de renda e empregabilidade; e no acesso e conexão com especialistas, oportunidades e investidores.