Opinião

Desafiando o status quo: o papel dos bancos públicos no desenvolvimento sustentável e inclusivo de startups no Brasil

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A inovação, reconhecida como um motor vital para o desenvolvimento socioeconômico, encontra nas startups um de seus mais expressivos veículos. No entanto, a distribuição geográfica dessas empresas no Brasil revela um cenário de desigualdades regionais marcantes. Nesse cenário, parcerias público-privadas emergem como práticas recomendadas.

Atualmente, sou mestrando em Economia e Gestão da Inovação pela Universidade do Porto, em Portugal. Meu projeto de pesquisa investiga o papel dos Bancos Públicos no apoio ao desenvolvimento de startups early stage localizadas na região Nordeste do Brasil. 

Utilizando uma perspectiva neo-Schumpeteriana, busco esclarecer a relação complexa entre empreendedores que buscam inovar, o suporte fornecido por instituições bancárias e o consequente impacto no crescimento econômico. 

Especial atenção é dada aos bancos públicos, cuja atuação é crucial não apenas na correção de deficiências do mercado, mas também na criação e estímulo a novos mercados.

A inovação, reconhecida como um motor vital para o desenvolvimento socioeconômico, encontra nas startups um de seus mais expressivos veículos. No entanto, a distribuição geográfica dessas empresas no Brasil revela um cenário de desigualdades regionais marcantes. Uma análise recente, realizada pela Associação Brasileira de Startups (ABStartup) no ano 2023, aponta que 77,9% das startups brasileiras concentram-se nas regiões Sudeste e Sul, enquanto apenas 17% nas regiões Norte e Nordeste – marcadas por limitações de recursos, deficiências infraestruturais e disparidades sociais. 

Este panorama evidencia uma divisão clara entre (i) ecossistemas empreendedores robustos e amplamente apoiados e (ii) aqueles resilientes, porém subdesenvolvidos, com menor engajamento institucional público.

O dilema central desta investigação reside na dualidade do papel dos Bancos Públicos

  1. Devem eles apenas reforçar setores e estágios avançados de desenvolvimento de negócios já favorecidos pela iniciativa privada, buscando tracionar negócios mais maduros;

 ou 

  1. deveriam utilizar sua capilaridade e capacidade financeira para promover um desenvolvimento regional sustentável e verdadeiramente inclusivo? 

Esta questão desdobra-se numa análise crítica das estratégias e instrumentos adotados pelos bancos para apoiar/suportar startups em regiões menos desenvolvidas.

Estratégias como o “lançamento de desafios públicos” frequentemente selecionam “vencedores”, o que é eficaz para engajar e aproximar participantes. Contudo, essa abordagem pode não ser a mais eficiente para nutrir o desenvolvimento contínuo de startups desde a sua fase de ideia até a consolidação no mercado e pode acabar deixando de lado iniciativas em estágios iniciais ou projetos que não se enquadram perfeitamente nos critérios de seleção, mas que possuem um grande potencial inovador.

Embora desafios como a cultura de inovação interna, a estrutura funcional adaptativa e as normativas regulatórias sejam identificados como elementos críticos no contexto dos bancos públicos, estes não deveriam atuar como barreiras intransponíveis à eficácia de suas ações. Neste cenário, destaca-se a relevância das parcerias público-privadas que, ao envolverem uma ampla gama de participantes do ecossistema de inovação, emergem como práticas recomendadas, pois, não apenas catalisam e facilitam a operacionalização das atividades dessas entidades financeiras, mas também promovem a superação de obstáculos estruturais e regulatórios significativos. 

Ademais, essas alianças são essenciais para acelerar a necessária evolução cultural dentro das organizações bancárias, ampliando assim seu papel no apoio às iniciativas empreendedoras com potencial de inovação.

Além das parcerias, é fundamental enfatizar a importância de identificar e posicionar líderes qualificados dentro das instituições públicas. Líderes que possuam não apenas um conhecimento teórico/empírico robusto, mas que também estejam genuinamente engajados com a agenda de inovação e desenvolvimento, são peças-chave para a continuidade e sucesso dos projetos de fomento. A seleção de tais líderes baseada exclusivamente em critérios políticos ou preferências partidárias pode comprometer significativamente a eficácia e a integridade dos esforços de inovação dessas instituições, minando o progresso em direção aos objetivos estabelecidos.

Gustavo Santos é graduado em Administração de Empresas, pós-graduado em Compliance, possui MBA em Gestão Financeira e atualmente é mestrando finalista em Economia e Gestão da Inovação na Universidade do Porto, em Portugal.