Membros da Aliança de Juventudes por Governança Energética entregam carta-manifesto ao Chair do Y20, destacando desafios e soluções para uma transição energética justa no Brasil. Como liderança do Impacta Nordeste e participante dessa coalizão, trago o debate internacional para o nosso território, desta vez sobre o prisma do G20.

O G20 foi destaque recente na mídia devido à sua Cúpula Global que ocorreu no Brasil nos dias 18 e 19 de novembro. Porém, esse evento foi apenas o ápice de um processo que ocorre desde o início deste ano.

E como a linguagem diplomática e técnica que cerca esse tipo de evento pode assustar, decidir trazer um resumo do progresso do G20 no Brasil a partir de uma visão jovem, periférica e nordestina, baseada na experiência de trabalho que obtive nesse cenário com as pautas de comunidades sustentáveis e transição energética justa.
Afinal, qual é a importância do G20?
É de se esperar que o G20 esteja “na boca do povo” já que é um grupo com as 20 maiores economias do mundo, que se reúnem anualmente no país que detém sua presidência rotativa.
Este ano, o Brasil assumiu esse papel e liderou a chamada Cúpula do G20 ou G20 Summit, que tem como objetivo principal discutir questões econômicas e de cooperação internacional. Mas você deve estar se perguntando: Como o G20 impacta você, pessoa cidadã da terra de palmeiras onde canta o sabiá?
As decisões formuladas no G20 influenciam diretamente as políticas públicas dos países membros. O que é decidido nesse contexto pode abrir caminhos para o crescimento econômico, que depende diretamente da maneira como cada país produz e negocia seus principais produtos no mercado internacional.
Consequentemente, ao se dar bem nesse mercado externo, a economia interna é impulsionada e com ela a ampliação do acesso a direitos básicos como moradia, alimentação e emprego digno.
Por isso é super importante que estejamos de olho no que é decidido nesses espaços e tenhamos voz nesses momentos decisivos.
Pioneirismo do governo brasileiro: G20 Social e participação da sociedade
Este ano, o G20 teve como destaque o G20 Social, uma iniciativa brasileira enquanto presidência do bloco. Essa ação buscou incluir pessoas e organizações fora da esfera governamental no debate, reunindo 13 grupos de engajamento em torno de temas como desenvolvimento urbano, ciência e igualdade de gênero.
Minhas experiências incluíram participação no em 2 grupos: o C20 (Civil 20) e o Y20 (Youth 20), cujas demandas foram norteadas pelos macro temas ligados ao G20 e tiveram a sua confluência durante a Cúpula do G20 Social, que ocorreu uma semana antes da Cúpula Global, entre os dias 14 e 16 de novembro.
No C20, enquanto sociedade civil organizada, colaborei na elaboração de recomendações junto ao grupo de trabalho sobre cidades. Já no Y20, eu protagonizei a mediação de discussões sobre clima e transição energética para a construção das recomendações das juventudes do meu estado.

Por que nós juventudes estamos debatendo sobre energia nesse contexto do G20?
O Brasil, como país em desenvolvimento, depende de diversas fontes de energia para atender à população e movimentar sua economia, tema central do bloco. Por isso, a transição energética esteve presente em diversos momentos dentro dos grupos de engajamento do G20 social, buscando soluções para um futuro mais sustentável.
No entanto, para avançar em tecnologias que substituam combustíveis fósseis, é essencial discutir uma transição energética justa, considerando os impactos negativos sobre os territórios afetados e o acesso limitado a essa energia produzida.
Nesse contexto, eu participei da celebração do Social G20 no Rio de Janeiro, representando a Ruma, organização que fundei para promover o diálogo sobre meio ambiente e direitos humanos, construindo comunidades mais sustentáveis no Nordeste.
Importância das juventudes do Norte e Nordeste como pioneiras do debate de transição energética justa
A Ruma esteve junto a outras nove organizações compostas por jovens do Norte e Nordeste, enquanto Aliança de Juventudes por Governança Energética, com o objetivo de ampliar o protagonismo regional nesse debate a partir da construção de uma carta-manifesto.

Embora o G20 tenha realizado encontros temáticos em várias regiões, as oportunidades de debate ainda são centralizadas no eixo Sul-Sudeste, enquanto o Norte e Nordeste, regiões mais exploradas por projetos energéticos, permanecem com populações sem acesso adequado à energia e com sua biodiversidade ameaçada.
Nosso manifesto denúncia estas falhas estruturais no modelo energético brasileiro e reivindica uma governança que enfrente o racismo ambiental e as desigualdades históricas.
O Encontro com representante do G20
A carta foi entregue em mãos ao chair Y20, Marcus Barão, exigindo a inclusão das juventudes e de nossas comunidades nas decisões sobre a transição energética. Durante a entrega do manifesto, houve uma intervenção poética de Norah Costa, artivista do Fórum Paraense de Juventudes.
O representante de juventudes destacou que é a primeira vez que viu juventudes protagonizando a pauta de transição energética.

Enquanto juventudes, dialogamos sobre os riscos da atual ambição de exploração de petróleo na chamada “Margem Equatorial”. Essa região, que vai da foz do rio Oiapoque no Amapá ao litoral norte do Rio Grande do Norte, incluindo as bacias do Amazonas, Pará-Maranhão, Barreirinhas, Ceará e Potiguar, carrega o perigo de repetir tragédias como o derramamento de óleo que atingiu o Nordeste em 2019.
No manifesto da Aliança, destacamos a necessidade urgente de uma transição energética real, que não reproduza moldes de sustentabilidade ilusórios e leve em conta as tecnologias ancestrais dos nossos povos.
A segurança de nossas comunidades e ecossistemas — seja em aldeias, quilombos, campos ou periferias — é inegociável e também é a chave para o nosso futuro.
Sobre a Aliança
A Aliança de Juventudes por Governança Energética é uma iniciativa fundada pela Palmares Lab. Entre seus membros estão: Palmares Lab, Ruma, Rede Tumulto, Coletivo Utopia Negra Amapaense, Coletivo Miri, Greenpeace Belém, COJOVEM, Coletivo de Juventude Negra do CEDENPA (Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará) e Fórum Paraense de Juventudes. Também apoiam o manifesto o Instituto Mapinguari, o Observatório do Marajó e o Observatório Latinoamericano da Geopolítica Energética.

Sabrina Cabral, é ativista e criadora do blog @sanydapeste, onde aborda temas como meio ambiente, direitos humanos e educação para a juventude periférica do Nordeste. Graduanda em Engenharia Civil na UFC e bolsista do programa Bolsa Jovem da Prefeitura de Fortaleza e BID, é engajada em temas como sustentabilidade, economia criativa e design. É fundadora da iniciativa Ruma, com o objetivo de apoiar o desenvolvimento sustentável a partir das juventudes do Nordeste, conquistando bolsas de desenvolvimento de projetos no MIT e se tornado Representante Juvenil em iniciativas da ONU na América Latina e Caribe, como o acampamento Juventudes Ya! do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).
Sabrina faz parte da Rede Impacta Nordeste de Jovens Lideranças.