Documento elaborado pela Insper Metrics em parceria com a GK Ventures traz várias técnicas para mensurar os impactos e retornos econômicos, sociais e ambientais de projetos
É possível monetizar o impacto social e comparar o retorno social de um projeto em relação a outro? Essa é uma das grandes questões para investidores sociais, que buscam a efetividade de seus investimentos aliadas ao duplo propósito de produzir resultado econômico e, ao mesmo tempo, resolver problemas socioambientais.
O Guia de Monetização de Impacto Social, desenvolvido pelo Insper Metricis, centro de pesquisa focado em estudos para investimentos em projetos de alto impacto socioambiental do Insper, em parceria com a GK Ventures, gestora de investimentos que impulsiona projetos e negócios capazes de promover impacto e fazer a diferença na sociedade, pretende responder a essa pergunta apresentando as principais técnicas disponíveis para medir o retorno dos investimentos sociais.
O documento, que foi elaborado por Sérgio G. Lazzarini, José Geraldo Setter Filho, Jorge Norio Rezende Ikawa e Octavio Augusto Darcie de Barros, integrantes da equipe do Insper Metricis, explica que usualmente o retorno econômico de um projeto depende de quão bem gerenciados e alocados são os recursos. Mas no caso do desempenho dos investimentos sociais deve ser levado em conta também a criação de ganhos de bem-estar, ou seja, de melhorias no nível de bem-estar dos beneficiários do projeto. Por isso, apenas medidas de custos e ganhos financeiros são insuficientes para concluir se um investimento deu o retorno esperado, pois não consideram os ganhos sociais gerados pelos investimentos na população-alvo.
Os gestores de recursos com o duplo propósito de produzir resultado econômico e, ao mesmo tempo, resolver problemas socioambientais têm buscado abordagens que permitam comparar o retorno social de projetos para escolher, dentre diferentes alternativas, aquelas com maior capacidade de geração de impacto.
Nesse contexto, o relatório apresenta as principais técnicas disponíveis para monetizar o impacto dos investimentos sociais, contrastando pontos fracos e fortes e delineando potenciais pontos de atenção quando aplicados a projetos reais. Apesar das vantagens das técnicas de monetização, avaliar e usar os resultados dessas abordagens requer certo grau de cautela. Em vários casos, é difícil ou até impossível monetizar os impactos.
O guia está dividido em quatro abordagens alternativas para monetizar o impacto social:
Análise de Custo-Efetividade (do inglês, Cost-Effectiveness Analysis – CEA)
Técnica amplamente utilizada na elaboração de indicadores de impacto social e ambiental. Sua adoção é particularmente adequada a situações nas quais o impacto promovido pelo projeto e/ou pela política não seja facilmente convertido para valores monetários.
A intuição geral do método é a de estimar a relação entre o impacto (calculado em termos não monetários) e o custo total investido (em reais) para a implementação do programa, sem a necessidade de que ambas as métricas estejam na mesma unidade de medida.
Análise de Custo-Benefício (Cost-Benefit Analysis – CB)
Esse método propõe a comparação entre benefícios e custos de um projeto em termos monetários e indica a viabilidade econômica de um empreendimento com potencial impacto social. Caso os benefícios superem os custos, a iniciativa deve ser implementada, pelo menos sob um ponto de vista de retorno econômico.
A análise de CB requer primeiramente que todos os custos (implícitos e explícitos) e benefícios sejam monetizados, buscando uma aproximação quantitativa para esses valores.
Retorno Social sobre o Investimento (Social Return on Investment – SROI)
Essa ferramenta segue uma lógica similar à da análise de CB, porém tenta examinar da forma mais completa possível os benefícios e investimentos do projeto. Assim como no cálculo de Retorno Sobre o Investimento (do inglês, Return on Investment ou ROI), usualmente adotado em análises com foco meramente econômico-financeiro, a técnica tem por objetivo monetizar o impacto produzido por projetos sociais e/ou ambientais, de forma a oferecer um indicador financeiro final que calcule uma proporção entre o impacto social gerado (estimado em reais) e o montante total investido.
Abordagem de Ponderação de Impacto (Impact-Weighted Accounts – IWA)
Essa abordagem surgiu da necessidade de incorporar aos demonstrativos contábeis, para além do desempenho econômico, os efeitos das empresas sobre os demais stakeholders. Dessa forma, a técnica procura mensurar de modo comparável – assim como é feito na contabilidade tradicional para indicadores financeiros – as consequências sociais e ambientais da atuação da companhia.
Ao introduzir-se a performance socioambiental, espera-se fornecer a investidores uma visão mais completa da organização. Para tanto, o efeito total de um produto ou de uma organização é fragmentado em uma série de dimensões, sendo cada uma observada e calculada de forma individual e, posteriormente, incluída em um balanço patrimonial que considere esses resultados adicionais já monetizados. O método ainda está em fase de desenvolvimento e aspira tornar-se um padrão para a gestão de investimentos ESG (buscando objetivos ambientais, sociais e de governança).
Por fim, o guia compara as vantagens e desvantagens de cada um dos métodos com relação a grau de desenvolvimento, precisão das métricas utilizadas, capacidade de atribuição de causalidade, comparabilidade entre projetos, incorporação de stakeholders ao processo avaliativo e custos de implementação, além de aprofundar na questão moral de quais os limites da monetização dos impactos, como eles afetam cada abordagem e a proposição de um procedimento de governança para que esses cuidados sejam debatidos e incorporados à tomada de decisão envolvendo cálculos monetários.
Você pode baixar o guia clicando aqui.