Fundo criado por Aline Odara e Fabiana Aguiar ajuda empreendedoras negras periféricas a conquistarem autonomia. Iniciativa que começou com vaquinha entre amigos está se estruturando para atender mulheres de todo o país.
Aline Odara, em certo momento da sua vida, viu sua família passar por dificuldades financeiras. Já com uma renda estável, ela teve a oportunidade de ajudá-los e percebeu como é transformador ter dinheiro. Foi nesse contexto que nasceu o Fundo Agbara, o 1º Fundo de Mulheres Negras do Brasil, uma organização antirracista que atende empreendedoras negras periféricas de todo o país.
“Decidi que também queria fazer isso por outras mulheres negras. Para que elas tivessem mais oportunidades. Foi então que pensei em sistematizar as vaquinhas que já aconteciam espontaneamente, entre uma rede de amigos, praticamente todos os meses”, disse Aline.
Aline é de Campinas, em São Paulo, pedagoga e mestranda em Educação pela UNICAMP (Universidade de Campinas) e convidou a publicitária e afroempreendedora Fabiana Aguiar a juntas fundarem o Fundo Agbara, em setembro de 2020. A criação ocorreu em um momento que o Brasil e o mundo enfrentavam a pandemia da Covid-19 e com um aumento no número de desempregados em meio à crise econômica, aprofundando as desigualdades. “A ideia inicial era que 20 amigos doassem 20 reais todos os meses, durante um ano. Em uma semana já tínhamos 60 doadores recorrentes”, comemora.
A palavra Agbara, em iorubá (idioma de origem nigeriana), significa potência, força e poder. E é exatamente isso o que o Fundo Agbara representa, sendo o primeiro fundado e feito para mulheres negras do Brasil e que tem como missão potencializar o maior número possível de empreendedoras negras e indígenas, viabilizando independência financeira e emocional.
Atualmente, o Fundo conta com uma rede de mais de 150 mulheres inscritas e já foram prestados mais de mil atendimentos. Os aportes financeiros às empreendedoras para que invistam em seus pequenos negócios, promovem a circulação do dinheiro dentro da própria comunidade. Uma mulher negra contemplada impacta diretamente outras quatro ou cinco pessoas: pais, irmãos e filhos, por exemplo.
“Percebemos a potência da nossa organização e corremos atrás de nos profissionalizar. Fechamos algumas parcerias estratégicas, com a Sitawi, para gestão de nossos recursos, com a Mayer Brown, para assessoria jurídica e com a Advice, para nossa assessoria contábil”.
Para diversificar as fontes de receita o Fundo Agbara passou a se inscrever em editais e foram contemplados com um pequeno aporte de um fundo suíço, o Emanuele Antola Fund, em um edital para aceleração da Artemísia e mais recentemente no Elas Periféricas, da Fundação Tide Setubal. “Buscamos, neste momento, tecer uma rede de contatos corporativos para oferecer oportunidades às empresas que queiram investir socialmente em nosso Fundo”.
Fundo Agbara
O Fundo Agbara tem atuação em três frentes: aportes financeiros, assessorias e educação. Os aportes financeiros contemplam mensalmente no mínimo quatro empreendedoras negras ou indígenas de territórios periféricos com valores entre R$600 a R$900.
As assessorias técnicas são realizadas através de uma rede de mais de 60 voluntários que oferecerem serviços diversos, como: assessorias jurídicas, médicas e psicológicas. Já na área da educação, o Fundo oferece consultoria de gestão de negócios, desenvolvimento de marca, criação de logotipo, aulas de inglês, aulas de música, entre outros.
A mulher negra, parda ou indígena que quer ter seu pequeno negócio potencializado pelo Fundo Agbara basta acessar o site https://fundoagbara.org.br/ e preencher um formulário. Para quem tem interesse em se tornar um doador, também é possível através do site do Fundo. A doação mínima é de vinte reais, de forma recorrente, por um período de 12 meses.
Mensalmente são selecionadas mulheres negras, pardas ou indígenas que sejam gestoras de pequenos empreendimentos para receber o fomento em dinheiro e participar das assessorias realizadas pelo Fundo. As empreendedoras inscritas são avaliadas pelas coordenadoras de acordo com os seguintes critérios: renda, número de dependentes, viabilidade e alcance do empreendimento e vulnerabilidade.
Para o futuro, Aline tem planos que o Fundo Agbara tenha sua sede própria e também consiga estruturar uma série de programas de educação para atender diferentes perfis de mulheres negras. Recentemente, o fundo começou a expandir sua atuação para outra regiões, inclusive contemplando uma empreendedora do Nordeste.