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Mares Sem Plástico: projeto engaja a sociedade de forma inovadora para a preservação dos oceanos

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Projeto desenvolve ações inovadoras em parceria com a academia, iniciativa privada, poder público e sociedade civil organizada para a conservação e uso sustentável dos oceanos.

*Foto de capa: equipe Mares sem plástico / João Pessoa (Foto: Aryelli Fernandes.)

A década dos oceanos, ou Década das Nações Unidas de Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável, foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2017 e será implementada entre os anos de 2021 e 2030. Essa iniciativa tem o intuito de cumprir as metas e objetivos presentes na Agenda 2030, com foco no gerenciamento das atividades nos oceanos, articulando esforços para criar estratégias de adaptação e decisões políticas em prol de um desenvolvimento sustentável.

No Brasil, construído de forma participativa, temos o Plano Nacional de Implementação da Década, o principal instrumento para planejar as ações que serão executadas durante esse período.

O destaque para os oceanos se justifica porque existem vários problemas ambientais que atingem o ecossistema marinho: pesca predatória, aquecimento das águas, poluição e contaminação por substâncias nocivas, acidificação dos oceanos e corais e o excesso de lixo. 

Na Universidade Federal da Paraíba, a Prof. Dra. Cláudia Cunha resolveu criar um projeto cujo objetivo é atuar no combate ao lixo no mar, apresentando para a sociedade o impacto da poluição plástica em ambientes marinhos e costeiros através de ações educativas.

O Mares sem Plástico foi criado 2019 e possui uma equipe multi e interdisciplinar envolvendo docentes, colaboradores e alunos de graduação e pós-graduação. O Projeto se enquadra no ODS-14 e contribui para a conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para alcançar o desenvolvimento sustentável.

“Minha motivação em trabalhar no combate ao lixo no mar é devido ao impacto antrópico dos oceanos e a importância deste ecossistema em nossas vidas. O projeto Mares sem Plástico me trouxe uma experiência positiva e transformadora, a partir da realização de ações representativas e de impacto”.

Cláudia Cunha, Coordenadora do Projeto

Mais do que ações de limpeza para retirar lixo das praias, o projeto possui várias iniciativas inovadoras vinculadas a ele:

Guardiões do Mar

Ações periódicas de educação ambiental são realizadas com as crianças de ensino infantil e fundamental em escolas públicas de João Pessoa-PB. As ferramentas educacionais criativas e inovadoras utilizadas para essas atividades seguem os planos de aula dos docentes trabalhados no ano letivo.

Fonte: Instragram @guardioesdomarpb

Monitoramento de macroresíduos no litoral da Paraíba desde 2020

Um estudo dentro do projeto monitora a presença de macroresíduos em um trecho de 12,28km do litoral paraibano (praias de Cabo Branco, Tambaú, Manaíra, Jardim Oceania, Bessa e Intermares). A partir da caracterização e quantificação dos resíduos encontrados, identificam-se as possíveis fontes e parte do material coletado é direcionado para a Coleção Didático-Científica de Lixo Marinho em parceria com a REcolixo.

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Coleção de Lixo Marinho. Fonte: Mares sem plástico

Essa coleção contém materiais como canudos, bitucas de cigarro, itens de saúde, itens escolares, etc, e também está disponível para empréstimos e visita agendada no espaço físico, mediante contato com a coordenação do projeto.

Instalação de bituqueiras

A bituca de cigarro é um dos itens mais encontrados durante as ações de limpeza nas praias. No ano de 2020, em uma ação do projeto realizada na praia de Tambaú, em João Pessoa-PB, a equipe recolheu mais de 4.500 bitucas de cigarro em 60 minutos.

Mas qual é o problema das bitucas de cigarro? Será mesmo que esse resíduo tão pequeno tem um impacto tão grande assim?

Estudo realizado pelo IMar/Unifesp, mostrou que esses resíduos liberam substâncias tóxicas em praias e no oceano. Os cigarros possuem mais de 7.000 substâncias tóxicas e, quando descartado incorretamente, muitos compostos químicos perigosos são liberados no ambiente, podendo matar ou causar danos sérios aos organismos aquáticos.  

Diante desse enorme problema, o Mares Sem Plástico realiza instalações de bituqueiras em bares e restaurantes na orla de João Pessoa e em Catamarãs que fazem passeio turístico no Estado.

Após os coletores estarem cheios, a equipe do projeto coleta esse resíduo e o leva para a UFPB, onde estão sendo realizadas pesquisas que objetivam transformar bitucas de cigarro em papel semente a partir da reciclagem desse material.

Pinturas de galerias pluviais

O MSP ainda realiza pinturas artísticas em galerias pluviais, com o objetivo de sensibilizar as pessoas de que mesmo longe do mar, podemos ser responsáveis pela chegada de resíduos até ele. 

Outras iniciativas

O projeto possui uma lojinha, onde vende produtos que visam a redução da utilização do plástico de uso único e o armazenamento correto dos resíduos, como ecobags e lixeirinhas.

Em 2021, o projeto realizou a exposição fotográfica A(mar), com fotos dos fotógrafos parceiros André Medeiros e Aryelli Fernandes tiradas nas ações de limpeza nas praias.  A exposição serviu como ferramenta de sensibilização para a sociedade da necessidade dos impactos negativos da destinação incorreta dos resíduos nesses ambientes.

Agora em janeiro, acontece no Museu Casa de Cultura Hermano José (MCCHJ), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), a exposição “Além do Mar”, destinada ao público em geral, com o objetivo de apresentar seres e estruturas que existem além dos oceanos, mas que também fazem parte dos ecossistemas marinho e costeiro.

Engajamento entre os voluntários e articulação de parcerias

O projeto conta não só com a colaboração de alunos, mas com colaboradores externos, possuindo uma equipe comprometida e multidisciplinar, causando grande impacto na vida de quem se envolve. É o caso de Rayanne Fernandes, Química Industrial. Para ela participar do Mares sem Plástico foi um divisor de águas. Através do projeto ela descobriu o quanto é apaixonada em disseminar conhecimento acerca do meio ambiente.

“Todas as ações que participei com o projeto desde 2019 foram enriquecedoras! Através da Oficina Guardiões do Mar, entendi a importância da temática da poluição marinha ser passada para as crianças, pois elas conseguem ter outra visão e percepção do tema, que muitos adultos não conseguem.” afirma Rayanne. “Por isso continuo no projeto mesmo não possuindo mais vínculo com a UFPB, pois me sinto feliz e agraciada por ser integrante do Mares sem Plástico, um projeto necessário, importante e que busca integralmente nas suas ações que a mudança realmente aconteça!”, conclui.

Cláudia Cunha, docente da UFPB e coordenadora do projeto, consegue tecer parcerias tanto com o setor privado (escolas, restaurantes, patrocinadores para os eventos, entre outros) como também com o setor público, desenvolvendo ações em conjunto. Além disso, a equipe participou ativamente do processo de elaboração do projeto de lei nº 71/2019 que proibiu o uso de canudos de plástico no estado. A Lei 12.285/2022 entrou em vigor dia 08 de setembro de 2022 em toda a Paraíba.

O Projeto Mares Sem Plástico é um exemplo de como instituições de ensino (nesse caso, a UFPB) podem impactar localmente de forma positiva através de seus projetos. Para alcançar o desenvolvimento sustentável, ações locais são essenciais, incentivando os moradores a se engajarem nas pautas ambientais, ocupando seus lugares de protagonistas.

Para saber sobre as próximas iniciativas do Mares Sem Plástico, acompanhe o site e as redes sociais.

Amanda Queiroga, 27 anos, é Engenheira Ambiental, professora, empreendedora sustentável e consultora Lixo Zero pelo Instituto Lixo Zero Brasil (ILZB). Também atua como consultora em sustentabilidade para PMEs e da palestras sobre esse tema. Acredita que escolhas conscientes podem mudar o mundo, por isso tem como propósito levar a educação ambiental para as pessoas e transformar as empresas de dentro pra fora.

Amanda é uma das jovens selecionadas no programa Impulsio.ne e faz parte da Rede de Jovens Lideranças de Impacto do Nordeste.