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Mova Experiências: conectando viajantes ao patrimônio biocultural do Maranhão

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Em meio às paisagens deslumbrantes e à riqueza cultural do Maranhão, a Mova Experiências se destaca como uma iniciativa inovadora de turismo de base comunitária. O negócio de impacto participa do Impulsio.ne Turismo Sustentável, programa de inovação social aberta realizado pelo Instituto Bancorbrás em parceria com a Plataforma Impacta Nordeste. Conversamos com Rutti Cutrim, CEO da Mova, sobre as suas experiências e desafios.

*Foto de capa: Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses (Divulgação/Mova Experiências)

O estado do Maranhão é conhecido por suas riquezas culturais e naturais que revelam séculos de história. Embora seja um dos destinos preferidos para quem busca o Turismo de Sol e Praia, cada vez mais visitantes buscam conhecer o que essa grande diversidade cultural tem a ensinar. De acordo com dados da Secretaria de Estado do Turismo do Maranhão (SETUR), aproximadamente 20% dos turistas que visitam o estado buscam essa imersão cultural, atraídos pela chance de vivenciar o cotidiano de quilombolas, ribeirinhos, indígenas e pequenos agricultores, cujas tradições e saberes têm sido preservados há gerações.

Essas experiências criam uma conexão profunda com a cultura local e contribuem diretamente para a economia das comunidades. Em áreas como Barreirinhas, Baixada Maranhense e Delta das Américas, o turismo comunitário é uma fonte vital de renda, especialmente para mulheres e jovens que se dedicam como guias locais, artesãos e administradores de hospedagem e alimentação.

Segundo a SETUR, essa modalidade de turismo pode aumentar a renda local em até 30%, impactando diretamente na qualidade de vida e na preservação dos ecossistemas naturais. Nessas comunidades, além de atividades tradicionais de pesca e artesanato, a agricultura familiar e o extrativismo sustentável, como o do babaçu e do buriti, fortalecem práticas culturais vivas como danças, festas religiosas e rituais ancestrais.

 Festa do Moqueado da Aldeia Bacurizinho, entre a Amazônia e o cerrado maranhense (Foto: Divulgação/Mova Experiências).

A Mova Experiências, fundada pela turismóloga Rutti Cutrim, promove vivências que respeitam e valorizam a identidade cultural e a biodiversidade do Maranhão, oferecendo aos viajantes uma imersão autêntica que vai além do turismo convencional. As experiências da Mova dão voz às comunidades para compartilharem seu cotidiano e saberes, preservando a cultura, e são planejadas para minimizar a pegada ambiental nesses territórios, contribuindo para a preservação da biodiversidade local. Dessa forma, os benefícios do turismo são revertidos em geração de renda para as famílias e no fortalecimento da economia local.

A empresa, que está em crescimento e se consolidando no mercado local, está participando do Impulsio.ne Turismo Sustentável, programa de inovação aberta do Instituto Bancorbrás em parceria com a Plataforma Impacta Nordeste, para obter apoio em sua jornada. A iniciativa oferece um programa de aceleração com suporte técnico, acompanhamento individualizado e recursos financeiros para impulsionar negócios de impacto no Nordeste que desenvolvem soluções voltadas para os desafios do turismo sustentável, ajudando-os a crescer e ampliar seu impacto positivo. Conversamos com Rutti Cutrim sobre os desafios e conquistas dessa jornada.

1) Como surgiu a ideia de criar a Mova Experiências e qual foi a inspiração para conectar viajantes ao cotidiano das Comunidades Tradicionais do Maranhão?

O Maranhão sempre foi uma grande inspiração para mim. Sou maranhense e extremamente apaixonada pelo nosso povo, pela forma como vivemos nosso dia a dia, pela fé que depositamos em nossa terra e no que ela nos oferece para nossa sobrevivência. As pessoas e a biodiversidade maranhense são, de fato, minha maior fonte de inspiração.

Como turismóloga, já atuei tanto no setor privado quanto no público, sempre com o desejo de promover o Maranhão de forma profunda e autêntica, mostrando suas pessoas e a rica biodiversidade, especialmente os manguezais. Minha inquietude sempre foi apresentar essa floresta de forma educativa e respeitosa, valorizando o papel essencial que ela desempenha em nosso ecossistema e nas belas paisagens que fazem parte do estado.

Ao trabalhar nesse sentido, compreendi que meu ponto de partida não era apenas o bioma em si, mas, acima de tudo, as pessoas que compartilham esse território com ele. São elas que dão vida e significado a esses espaços. Assim, movida por essa paixão pela nossa cultura e pelo modo maranhense de viver, nasceu a Mova Experiências, uma agência de turismo receptivo que valoriza o turismo comunitário e proporciona aos visitantes um mergulho no cotidiano e na essência do nosso Maranhão.

2) Quais são os principais desafios do setor de turismo sustentável no Maranhão?

Gerir um negócio sustentável é sempre um grande desafio e exige muitos recursos. Nós começamos com uma ideia ambiciosa: fazer do turismo um motor para a compensação de carbono. No entanto, com a pandemia, ganhamos uma nova perspectiva sobre flexibilidade nos negócios, percebendo que não precisamos nos prender a um projeto fixo; podemos adaptá-lo e aprimorá-lo constantemente conforme atuamos.

Mulheres ceramistas do Quilombo Itamatatiua (Foto: Divulgação/Mova Experiências)

Como uma agência pioneira em turismo responsável e de base comunitária, nosso objetivo é promover experiências onde as próprias comunidades sejam protagonistas. Isso nos colocou em contato direto com realidades diversas e desafiadoras. O maior desafio, portanto, tem sido concretizar essa proposta de impacto positivo no Maranhão, fortalecendo a comunicação e promovendo o protagonismo das comunidades tradicionais. Assim nasceu a jornada da MOVA: para ser mais do que uma agência de turismo, mas um negócio que impulsiona o desenvolvimento sustentável e o empoderamento local.

3) A Mova se destaca por valorizar o patrimônio biocultural maranhense nas experiências turísticas. Como essas experiências são criadas e de que maneira elas contribuem para a preservação cultural e ambiental da região?

Nossa abordagem para comunicar o patrimônio biocultural foca na biodiversidade local e na relação harmônica das comunidades que vivem em sintonia com esse ecossistema. Essas comunidades tradicionais já dominam o conhecimento sobre o uso sustentável do território, e é desse saber que tiramos inspiração. É um sistema natural e autossustentável onde convivem plantas, árvores, rios, mares e dunas. Esse é o conceito que buscamos transmitir.

Vou trazer um exemplo. Na Ilha dos Lençois promovemos o turismo a partir da cultura dos pescadores locais. Estar lá é fascinante, pois foge do senso comum já que a ilha é feita de dunas e lembra um pequeno Lençóis Maranhenses. Com ventos constantes que moldam o lugar, as casas são construídas principalmente de madeira para se adaptar ao ambiente, usando vegetação para controlar a areia. Nossa proposta é mostrar a ilha a partir do cotidiano dos pescadores, respeitando a Reserva Extrativista (RESEX), e revelando como a fauna e a flora sustentam a comunidade e são sustentadas por ela.

Essa valorização do patrimônio biocultural enriquece a experiência tanto para os moradores quanto para os visitantes. Para a comunidade, essa prática representa o cotidiano e carrega um valor inestimável, assim o conhecimento é transmitido ao longo de gerações sobre como viver e preservar o próprio território. Para os visitantes, oferece a oportunidade de conhecer um Brasil diferente, com novos valores e modos de vida, ampliando sua percepção sobre o que significa viver em harmonia com o ambiente. Essa é a essência do nosso trabalho: construir e valorizar o patrimônio biocultural, conduzido por quem realmente é dono e guardião desse território.

4) De que forma a Mova impacta positivamente as comunidades tradicionais envolvidas nas experiências?

Vou assumir a ousadia de dizer que somos pioneiros no Turismo Responsável no Maranhão. Esse turismo beneficia tanto os moradores quanto os visitantes, priorizando sempre a comunidade. Desde a relação com nossos parceiros comunitários até o atendimento ao cliente, nossa abordagem busca uma comunicação autêntica e uma conexão genuína.

Nosso objetivo é construir experiências em conjunto com as comunidades, transformando o turismo em uma verdadeira troca: quem visita e quem recebe deve obter algo positivo dessa interação. Isso está presente em toda nossa comunicação, materiais de venda e operações, sempre valorizando os parceiros comunitários com quem trabalhamos.

Fabricação de cerâmica no Quilombo Itamatatiua (Foto: Divulgação/Mova Experiências)

Estamos constantemente desenvolvendo um turismo responsável em conjunto com as comunidades, respeitando o que elas desejam e oferecendo nosso conhecimento e relacionamento com o mercado para agregar valor. Passamos por um laboratório de dois anos para fortalecer nosso posicionamento, focando no ecoturismo comunitário e indo além do tradicional turismo de sol e praia, comum no Brasil e no Maranhão. Esse modelo tem impacto direto na vida local, mostrando um Maranhão diverso, rico em experiências únicas e colaborando para o crescimento das comunidades.

Conforme avançamos, principalmente financeiramente, planejamos expandir e materializar esse impacto, sempre buscando novas formas de tornar o turismo uma força positiva para todos envolvidos.

5) A Mova Experiências já está faturando e tem conquistado clientes. Quais têm sido os principais desafios enfrentados pela Mova?

O maior desafio é comunicar o protagonismo das comunidades locais de forma genuína. Quando você visita um lugar, está vivendo a partir do cotidiano das pessoas que habitam e protegem aquele espaço. Nos Lençois Maranhenses, por exemplo, as comunidades caiçaras são as verdadeiras guardiãs desse território. Sua presença e cuidado ao longo de pelo menos quatro gerações foram essenciais para a preservação desse ambiente.

 Imersão experimental com os Povos Guajajara em Grajaú-MA (Foto: Divulgação/Mova Experiências)

Transmitir essa relação com encantamento e de forma educativa é um dos principais desafios, já que o turismo de base comunitária exige mais do que simplesmente vender destinos. É sobre criar uma conexão real com a comunidade, comunicar esse valor e encontrar espaço no mercado. Para isso, nosso trabalho de comunicação foi independente, orgânico, especialmente via Instagram. Cada pessoa que contatamos, cada venda e consulta sobre nossos serviços representa um passo no desenvolvimento de um turismo que respeite e celebre essas comunidades.

6) A Mova está participando do programa Impulsio.ne Turismo Sustentável, uma parceria do Instituto Bancorbrás e a Plataforma Impacta Nordeste. Como essa aceleração está contribuindo para o fortalecimento e o crescimento da empresa?

Esse programa tem sido essencial para nós, é o apoio que precisávamos para revisar nosso plano de negócios, reestruturando tudo com a ajuda de pessoas como o Marcello e o Fabrício, que realmente compreendem nossa realidade. Eles trazem uma abordagem acolhedora, entendendo que somos empreendedores fora dos grandes centros, fora da bolha do ecossistema de impacto, batalhando para construir um negócio positivo no nosso próprio território, com uma pequena equipe que se desdobra para fazer tudo acontecer.

Essa receptividade, que valoriza tanto nosso potencial quanto nossas limitações, tem sido incrível. Agradeço imensamente ao Instituto Bancorbrás e à Impacta Nordeste pelo apoio inestimável, que tem nos permitido revisar, atualizar e reestruturar nossos projetos para expandir com consistência. Com esse apoio, estou conseguindo fazer um planejamento mais organizado para os próximos passos da Mova, entendendo melhor as prioridades. Percebi que, antes de investir diretamente em comunicação, preciso fortalecer e estruturar minha equipe.

7) Quais são os próximos passos para a Mova Experiências? Como a empresa planeja se consolidar no mercado de turismo sustentável e aumentar sua presença na região?

Os próximos passos para a MOVA incluem, primeiramente, a ampliação da equipe. Atualmente, contamos com parceiros, mas ainda não temos uma equipe fixa, por isso, vamos formalizar esse time. Também pretendemos investir muito mais em comunicação, reconhecendo o valor de nosso trabalho, que é essencialmente coletivo. A MOVA só existe graças à parceria com as comunidades tradicionais do Maranhão e há outras comunidades interessadas em colaborar conosco.

Outro objetivo nosso é, junto com as expectativas dessas comunidades, capacitar e fortalecer seu protagonismo no turismo responsável. Queremos apoiar para que possam vender suas experiências de forma autêntica, promovendo o turismo de maneira que respeite e valorize seu cotidiano, contribuindo para a preservação de seu rico patrimônio cultural e natural. O apoio que estamos recebendo está sendo essencial para revisar e refinar nossos planos, trazendo novas ideias e estrutura para os próximos passos.

Queremos, sim, aumentar as vendas, porque são elas que nos permitem materializar um impacto positivo. Mas nosso compromisso é que isso aconteça de forma responsável. A parceria com o Impacta Nordeste e o Instituto Bancorbrás está nos dando exatamente o suporte necessário para que, ao chegar em 2025, estejamos bem organizados e fortalecidos, consolidando o turismo responsável no Maranhão.

Sara Café, é graduada em Comunicação Social/Jornalismo, especialista em assessoria de comunicação e formação em fotografia. Atua na área de inovação e impacto social através de trabalhos de jornalismo, redação e produção de conteúdo, mídias sociais, assessoria de imprensa e coberturas fotográficas. Bolsista de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação no Laboratório de Inovação do SUS no Ceará (2021) e do Observatório de Educação Permanente em Saúde (2022), projetos da Escola de Saúde Pública do Ceará. Produz entrevistas e matérias jornalísticas especializadas para o hub de negócios TrendsCE. Voluntária e Diretora de Comunicação do Instituto Verdeluz (gestão 2019 a 2022) e membra da Rede Brasileira de Jornalistas e Comunicadores de Ciência (RedeComCiência), da Rede Narrativas e integrante da Rede Linguagem Simples Brasil.

Sara faz parte da Rede Impacta Nordeste.