Muito se fala sobre mudar o mundo, inclusive por aqui. Mudar o mundo pressupõe mudar outras realidades, externas a nossa, contribuindo para que sejam melhores do que são. Propostas de mudança envolvem riscos, inclusive a possibilidade da mudança ser involuntariamente para uma situação pior do que a atual.
Antes de discutir a mudança que o mundo precisa, é saudável refletir sobre a mudança de si na busca de um eu mais unitário e coerente, em todas as dimensões. Precisamos da capacidade de refletir sobre as nossas próprias necessidades, aspirações e desejos a curto, médio e longo prazos.
Devemos buscar a capacidade de identificar e avaliar os próprios pontos fortes e fracos com acurácia. Essa autoconsciência inicial fortalecerá a nossa autogestão e a nossa capacidade de influenciar o curso dos acontecimentos, apesar da incerteza, dos contratempos e das falhas temporárias que possamos ter no caminho.
O processo, não linear, pode começar com a compreensão das próprias aspirações e do próprio perfil. Pergunte-se, por exemplo, se:
- Você é capaz de identificar e descrever suas necessidades, desejos, objetivos e interesses?
- Caso afirmativo, você estaria apto a traduzi-los(as) em objetivos e metas concretas na busca de satisfazê-los(as) e/ou alcançá-lo(as)?
- Durante esse processo, você consegue se comprometer a concretizá-los, refletindo constantemente sobre as mudanças de cenário que surgem no caminho?
Indo além, é bom saber que para seguir as aspirações pessoais e profissionais, nós precisamos ter a capacidade de identificar os próprios pontos fortes e fracos. Assim novas reflexões são necessárias:
- Você é capaz de listar seus pontos fortes e fracos como pessoa e como profissional?
- Você consegue analisá-lo a partir de suas aspirações, buscando alinhamento?
- Você pode refletir sobre como suas características podem te ajudar ou atrapalhar a alcançar suas aspirações?
- Em caso afirmativo, você então seria capaz de usar suas forças e habilidades para concretizar as suas aspirações?
- Em um nível mais avançado, você teria a capacidade de encontrar e estabelecer relações com pessoas para que atuem em conjunto, compensando as fraquezas e fortalecendo as forças mutuamente?
As perguntas listadas, não exaustivas, são relativamente constantes, mas as respostas a elas mudarão durante toda a nossa vida. Esse processo reflexivo pode ser mais ou menos estruturado; feito por conta própria ou com ajuda de outras pessoas; expresso ou mais demorado; linear ou orgânico.
A capacidade de seguir as próprias aspirações, somada a capacidade de identificar os próprios pontos fortes e fracos é um exercício de autoconsciência que refletirá, positivamente, no aumento de nossa crença em si e em nossa capacidade de moldar o futuro. Refletirá, diretamente, na sua autogestão e na sua autoeficácia.
Não podemos nos candidatar a grandes mudanças externas sem antes cuidarmos das mudanças internas. Precisamos mudar a si para então mudar o mundo, claro, para melhor.
Gabriel Cardoso. Gerente executivo do Instituto Sabin. Mestre em Educação; 21st Century Educator (TAMK – Finlândia); especialista em Economia Brasileira para Negócios (USP); especialista-docente em Gestão de Projetos; e bacharel em Administração. Docente no Centro Universitário UDF, conselheiro no Programa Academia ICE, no The Enactus Global Faculty Research Network e no AshokaU Exchange Agenda Council. Autor dos livros ‘Mude, você, o mundo: manual de empreendedorismo social’ e ‘Empreendedorismo social e políticas públicas na educação’.