A região tem um enorme potencial para liderar essa mudança, combinando sua criatividade, resiliência e vocação para inovação.
O Nordeste brasileiro tem mostrado sua força econômica, registrando um crescimento do PIB acima da média nacional de 3,5% em 2024. Mas o crescimento, por si só, não é sinônimo de desenvolvimento. Mais do que números, o verdadeiro desafio é garantir que esse avanço seja sustentável e inclusivo. Como podemos consolidar um modelo que valorize a inovação, e beneficie a população sem comprometer os recursos naturais? A resposta pode estar na Economia Circular, uma economia que não apenas movimenta dinheiro, mas também recursos, ideias e possibilidades, garantindo que nada se perca e tudo se transforme.
Diferente do modelo linear de “extrair, produzir e descartar”, a Economia Circular propõe um novo olhar sobre a forma como produzimos e consumimos, priorizando o reaproveitamento de recursos, a redução de resíduos e a regeneração dos ecossistemas. E, ao contrário do que pode parecer, isso já é realidade em várias cidades do Nordeste, muitas vezes sem que os protagonistas percebam que estão alinhados com esse conceito ou que não estão sozinhos nesta missão.
O Programa de Desenvolvimento Territorial (PRODETER) do Banco do Nordeste e os investimentos da Sudene são exemplos de como o poder público tem abraçado esse caminho. O PRODETER fortalece cadeias produtivas sustentáveis e promove a reutilização de resíduos em mais de 10 cidades, enquanto a Sudene investe em infraestrutura sustentável e lidera projetos voltados à circularidade.
Mas o poder da mudança também está nos pequenos e médios empreendimentos que têm apostado na inovação para impactar realidades locais. A startup Solos, na Bahia, está revolucionando a gestão de resíduos e se tornou referência nacional em reciclagem para grandes eventos, incluindo o Carnaval de Salvador. Em Pernambuco, o projeto Cirandar, criado pela Casa Criatura, transforma design e educação em ferramentas para um futuro mais sustentável, promovendo práticas regenerativas e conhecimento compartilhado em código aberto.
Essas iniciativas são apenas um recorte do que já está sendo feito no Nordeste para construir sociedades circulares. Para avançar de forma significativa, no entanto, é preciso canalizar todo o potencial da região em um movimento estratégico e colaborativo. É que quando pensamos na transição para a Economia Circular a palavra-chave é corresponsabilização entre governos, empresas e sociedade civil. O resíduo de um pode ser o insumo para outro, e muitas soluções inovadoras são criadas da cooperação e do diálogo entre os setores.
O Movimento Circular surge em 2020 justamente para dar visibilidade a essas práticas, promover conexões e, principalmente, impulsionar mudanças. Porque acreditamos que, ao unir esforços, potencializamos o impacto e aceleramos a transição para um modelo econômico mais sustentável. Por meio da educação, da cultura e da inovação, conectamos pessoas, empresas e instituições na América Latina, levando conhecimento e ferramentas práticas para transformar a maneira como produzimos, consumimos e descartamos. Desde cursos gratuitos, desafios e prêmios educacionais até palestras e imersões em cases de sucesso, criamos oportunidades reais para que mais pessoas e organizações adotem a circularidade em suas rotinas e negócios.
O Nordeste tem um potencial imenso para liderar essa mudança, combinando sua criatividade, resiliência e vocação para inovação. Nosso objetivo é ampliar o debate por aqui, conectar experiências e fortalecer soluções locais. Vamos explorar como a Economia Circular pode transformar a região, trazendo histórias inspiradoras, desafios e soluções circulares que estão moldando o futuro de todos nós. O convite está feito: simbora construir um Nordeste mais sustentável e circular?
Seja a mudança em movimento. Seja circular.
Marina Amorim é Hub Manager do Movimento Circular, iniciativa multissetorial em Economia Circular na América Latina. Especialista em Comunicação e Inovação Social, atua há 15 anos em projetos de desenvolvimento local e educação, com o objetivo de transformar realidades e contribuir para uma sociedade mais justa e sustentável.