Impacta+Negócios de impactoSustentabilidade

Nosso Mangue: o guardião dos manguezais

6 mins de leitura

O negócio de impacto alagoano Nosso Mangue se dedica à recuperação, preservação e conservação dos manguezais, promovendo rotas turísticas regenerativas, o reflorestamento de áreas degradadas e a comercialização de créditos de carbono para organizações que precisam realizar compensação ambiental. O negócio participa do programa Impulsio.ne Turismo Sustentável, programa de inovação social aberta da Plataforma Impacta Nordeste em parceria com o Instituto Bancorbrás. Em entrevista à Impacta Nordeste, a fundadora compartilhou os desafios e as conquistas dessa jornada.

O Pontal da Barra, bairro histórico de Maceió banhado pela Lagoa Mundaú, é berço de pescadores e artesãos. O local está entre os destinos mais procurados do país e movimenta uma cadeia econômica essencial no estado. Outra fonte de riqueza que está enraizada no encontro da água salgada com a doce é o manguezal, um dos ecossistemas mais diversos do mundo. 

Os manguezais são ecossistemas vitais para a preservação da biodiversidade, o equilíbrio climático e o desenvolvimento sustentável. Esses habitats costeiros têm um papel crucial na proteção das zonas litorâneas contra a erosão, na filtragem de poluentes, além de servirem de berçário para diversas espécies marinhas e aves migratórias. Apesar de sua importância, os manguezais enfrentam ameaças constantes devido à expansão imobiliária, poluição e mudanças climáticas.

Conforme o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o ecossistema é o lar de mais de 3 mil espécies de peixes e 120 milhões de pessoas em todo o mundo dependem dele como meio de subsistência. Sem os manguezais, a terra seria acometida por 39% mais inundações.

Os manguezais combatem as mudanças climáticas e protegem as comunidades costeiras. (Divulgação: Nosso Mangue)

Mas esse habitat está desaparecendo. De acordo com pesquisas do Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo no Brasil (MapBiomas), feito pelo Observatório do Clima em colaboração com 18 instituições, Alagoas perdeu 14% de manguezal em 17 anos. A redução no estado é menor que a média brasileira, que foi de 20%. Também menor que as reduções ocorridas no Paraná (23%) e na Bahia (21%), mas não menos preocupante.

Publicado em 2018, o Atlas dos Manguezais do Brasil aponta que Alagoas tem 5.537,27 hectares de manguezais, o que representa 0,2% de sua extensão territorial e 0,4% de toda área de manguezal do país. “Além de consequências ecológicas, a degradação desse ecossistema também acarreta perdas socioeconômicas, uma vez que, nas áreas onde o manguezal foi suprimido total ou parcialmente, a oferta dos serviços ecossistêmicos à população se torna comprometida”, ressalta o estudo.

Preocupada com essa luta, a ambientalista Mayris Nascimento, moradora do Pontal da Barra, enxergou um problema, buscou uma solução e criou o Nosso Mangue. Fundado em 2019, o negócio de impacto alia a preservação ambiental ao empreendedorismo socioambiental, se dedicando à recuperação, preservação e conservação dos manguezais, promovendo o reflorestamento dessas áreas degradadas.

Fundadora da Nosso Mangue, Mayris Nascimento (Divulgação: Nosso Mangue)

A empresa faz isso por meio de três soluções: projetos de recuperação, preservação e conservação dos manguezais; uma rota de turismo regenerativo que oferece uma experiência de contato com a comunidade e a natureza dos manguezais; e a comercialização de créditos de carbono através da preservação de lotes de mangue para indústrias e instituições que precisam realizar compensação ambiental.

Sobre essa última, o Nosso Mangue oferece uma solução prática e eficiente para empresas que desejam compensar suas emissões de carbono de forma ambientalmente responsável. Cada lote comercializado pela startup corresponde a uma área de manguezal que será protegida e restaurada, garantindo que a biodiversidade local seja preservada e que o carbono seja capturado de maneira eficiente. A empresa participa do programa de inovação social aberta Impulsio.ne Turismo Sustentável, uma iniciativa da Plataforma Impacta Nordeste em parceria com o Instituto Bancorbrás, que oferece um programa de aceleração onde as empresas recebem acompanhamento especializado, apoio financeiro e a oportunidade de se conectar com oportunidades do Grupo Bancorbrás e uma rede de parceiros estratégicos.

Conversamos com a empreendedora Mayris Nascimento sobre os desafios da empresa, como o suporte do programa de aceleração tem sido essencial para fortalecer a proposta de valor do Nosso Mangue e contribuir diretamente para o desenvolvimento econômico das comunidades que vivem próximas aos manguezais.

Como surgiu a ideia de criar o Nosso Mangue?

A ideia de criar o Nosso Mangue nasceu da necessidade urgente de proteger os manguezais, que são ecossistemas críticos em Alagoas e em várias outras partes do Brasil. Ao perceber o aumento do desmatamento e a vulnerabilidade das comunidades locais, vi uma oportunidade inicialmente de plantar mudas de mangue sem finalidade específica. Mas, dentro do Sebrae, descobri que poderíamos ser um negócio de impacto, capaz de mitigar esses problemas ao mesmo tempo que gerava renda e impactava outras pessoas. Assim, o Nosso Mangue surgiu em 2019.

Como o turismo de experiência e sustentável se integra à missão do Nosso Mangue de recuperar e preservar os manguezais em Alagoas?

O turismo de experiência e sustentável é um dos pilares do modelo de negócio do Nosso Mangue. Através de rotas regenerativas, os turistas podem conhecer de perto a riqueza dos manguezais, entender sua importância ecológica e participar de atividades que contribuem diretamente para sua preservação. Essas experiências educativas geram conscientização ambiental, e parte dos recursos obtidos com o turismo é reinvestida em projetos de reflorestamento e proteção das áreas de mangue.

As rotas turísitcas colaboram para a preservação e regeneração dos manguezais. (Divulgação: Nosso Mangue)

De que forma a compensação da pegada de carbono se encaixa no modelo de negócio da empresa?

A compensação da pegada de carbono faz parte da missão do Nosso Mangue de promover a sustentabilidade. O projeto oferece serviços de compensação de emissões de carbono para empresas e indivíduos, plantando mudas de mangue e restaurando áreas de manguezal degradadas. Os manguezais, por sua natureza, têm uma grande capacidade de sequestrar carbono, o que torna essa estratégia uma maneira eficaz de aliar a regeneração ambiental ao mercado de compensação de emissões.

Quais são as principais estratégias adotadas pelo Nosso Mangue para fortalecer a identidade cultural local e o protagonismo das comunidades tradicionais da região?

O Nosso Mangue valoriza e empodera as comunidades tradicionais, incluindo pescadores e marisqueiras, promovendo a participação ativa delas nas operações. Além disso, o projeto destaca a cultura local por meio de eventos, como o ‘Vidas do Mangue’. Essas estratégias reforçam o protagonismo das comunidades, ajudando a preservar suas tradições enquanto criam novas oportunidades econômicas.

Como o programa Impulsio.ne Turismo Sustentável está ajudando o Nosso Mangue a expandir suas atividades e a gerar mais impacto socioambiental positivo?

O programa Impulsio.ne tem sido fundamental para a expansão do Nosso Mangue. Com o apoio do Instituto Bancorbrás, oferecem suporte em áreas como inovação, gestão e acesso a mercados. Através desse programa, o Nosso Mangue conseguiu aprimorar suas estratégias de turismo sustentável, atrair mais visitantes conscientes e gerar maior visibilidade para suas ações. Além disso, o apoio técnico proporcionado pelo Impulsio.ne tem facilitado o crescimento da iniciativa.

Como você enxerga o papel da liderança feminina no setor de impacto socioambiental, e quais foram os desafios que você enfrentou como mulher empreendedora ao longo da jornada do Nosso Mangue?

Enxergo a liderança feminina como uma força essencial, não somente para o setor de impacto socioambiental, mas especialmente nas comunidades locais, onde as mulheres possuem um forte vínculo com o território e com as questões ambientais, o que torna seu papel crucial na preservação dos ecossistemas. No entanto, também enfrentei desafios, como preconceito e falta de acesso a recursos, que são comuns a muitas mulheres empreendedoras. Superar esses obstáculos exigiu resiliência, colaboração e uma rede de apoio entre mulheres incríveis do ecossistema, como a minha gestora Ana Madalena.

Quais são as perspectivas futuras para o Nosso Mangue?

As perspectivas futuras para o Nosso Mangue incluem a expansão das atividades de turismo regenerativo e a ampliação dos projetos de reflorestamento de manguezais. A empresa também pretende fortalecer suas parcerias com empresas e instituições para aumentar o alcance das compensações de carbono e criar mais oportunidades de geração de renda para as comunidades locais. Além disso, há planos de levar o modelo do Nosso Mangue para outras regiões.