Opinião

Para mudar o mundo precisamos mais que achismos

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Por Raiana Lira

Durante a última Formação de Impacto Social do Amani Institute Brasil, naqueles 5 minutos iniciais em quem as pessoas estão conectando no zoom, eu comecei um papo com aqueles que haviam chegado:

  • Quem sabe nadar? Um par de pessoas levantou a mão. 
  • E Quem não sabe? Uma ou duas pessoas levantaram a mão. 
  • Então eu pedi a Maria*, que disse que sabia nadar para explicar a Joana*, que disse que não sabia (e inclusive tinha era muito medo), como se faz pra nadar e não ter medo. E ela começou a explicar, com muita atenção aos detalhes, como se faz pra nadar, um braço assim, outro assim… para respirar é assim ou assim… demonstrando com o corpo cada fala. Foi uma explicação realmente muito boa, todos que nadam concordaram.

Foi quando eu me voltei para Joana e perguntei se ela poderia ir em uma piscina agora e nadar a partir das explicações de Maria. Ela disse que não, e na verdade ficou até com mais medo, porque não tinha certeza se poderia coordenar tantas partes do seu corpo enquanto não tentava afundar.

Pois, eu disse finalizando a conversa que se seguiu às risadas…Parece muito óbvio, mas se a gente não pratica, nenhuma teoria é realmente válida pra gente se mover. Eu posso explicar 200 vezes como nadar (andar de bicicleta, fazer malabarismo ou qualquer habilidade adquirida), mas se a pessoa ouvinte não se lançar para testar, errar, fazer conexões com experiências anteriores, trocar com pessoas mais experientes e descobrir os “pulos do gato”, não há teoria que lhe valha para executar o desejo. 

Parece muito óbvio, mas se a gente não pratica, nenhuma teoria é realmente válida pra gente se mover

O mesmo vale para propor soluções inovadoras para problemas sociais e ambientais. Se uma pessoa acha, que por ler e observar ou ouvir falar conseguirá propor contribuições efetivas, engana a si mesmo e a outras pessoas (com mais freqüência do que gostaria de admitir). 

Se para uma criança ser educada e crescer, nossos ancestrais nos lembram que é necessário uma aldeia, para se formar enquanto uma pessoa que pretende fazer transformação social é necessário muito mais que impulso, opinião e achismo. É importante ter acesso a ferramentas, discussões para amplificação do olhar, é importante reunir uma comunidade de suporte e praticar bastante. 

E mais, é preciso selecionar bem quem alimenta as teorias que me baseiam. Eu, particularmente, tenho deixado de comprar cursos e participar de congressos em que há uma falta de diversidade no corpo que oferece o conhecimento. Por que, de que me vale estar em ambiente que não me amplifica e não desafia minhas certezas? De que me vale estar em um ambiente que não me convida à prática do que ouvi? Romper as lógicas dominantes é o único caminho para inovação.

Gente é pra brilhar e eu acredito que só dá pra fazer isso descobrindo os caminhos para nos conectarmos com o que nos move e ganhando coragem para expressar nossas capacidades e seguir sonhos.

Eu finalizei aquele momento convidando todas as pessoas a praticarem uma coisa que haviam aprendido até então, até a semana seguinte. E, nesses dias que finalizamos o acompanhamento das estudantes, uma delas me falou que “a metáfora do nadar que falei naquela aula, acabou sendo o gatilho para ela mergulhar nas ferramentas da FIS e fazer os contatos profissionais que ela precisava… Nadar foi a metáfora pra pensar no mar de possibilidades que existe à frente e ela estava só observando da praia”.

Pois é mesmo assim. Quem aprende a nadar no mar de oportunidades e possibilidades, vai encontrar um local em que possa ser a mudança que quer ver acontecer no mundo.

Raiana Lira. Mulher preta e nordestina. Designer de Aprendizagem e Comunidade no Amani Institute Brasil. Consultora de negócios para gestão centrada na pessoa e impacto social positivo. Educadora e facilitadora de processos para que pessoas possam resolver problemas de maneira inovadora, através do desenvolvimento de habilidades e descobrimento de suas potências. Cientista e professora universitária por 12 anos. Desde 2015 no campo do empreendedorismo com propósito para construir um mundo com mais justiça social e ambiental. Nas horas vagas poeta e aprendiz de várias artes. Acredito na potência do sonho e da vontade de transformar!