Opinião

Por que precisamos falar em subtrair quando queremos resolver problemas?

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Recentemente li um artigo de um grupo de pesquisadores liderados por Gabrielle Adams publicado na Nature que comunica o resultado de uma pesquisa em que os autores entenderam que existe uma tendência a adicionar elementos para resolver um problema ao invés de removê-los. E, depois de orientar mais de 100 projetos de inovação social, eu não poderia concordar mais.

Os participantes desse estudo, de acordo com os autores, ofereceram poucas soluções subtrativas a um desafio comum porque eles deixaram de considerá-las e não por que não viam valor nela. Eles consideraram como explicação que soluções subtrativas são menos propensas a serem apreciadas socialmente, por que podem parecer menos criativas, ter consequências sociais ou políticas negativas.

Além disso, as pessoas podem ser menos propensas a pensar em soluções subtrativas por que são levadas a pensar que os recursos existentes estão lá por uma razão e, portanto, procurar adições seria mais lógico. Ou ainda, por que sofrem do o viés mental do “custo irrecuperável” (uma tendência de continuar um empreendimento depois de um investimento em dinheiro, esforço ou tempo foi feito) e aversão ao desperdício pode levar as pessoas a evitar a remoção de recursos existentes, especialmente se esses recursos exigirem esforço para serem criados.

Há muitas consequências no mundo real ao não considerarmos que as situações podem ser melhoradas removendo em vez de adicionando.

Quais são as implicações das descobertas desses pesquisadores? Há muitas consequências no mundo real ao não considerarmos que as situações podem ser melhoradas removendo em vez de adicionando. Os autores do artigo pontuam que, por exemplo, em uma escala privada, “isso explica a tendência de consumidores privados de recursos, que tendem a ser particularmente focados na aquisição de bens materiais ao invés de substituições mais eficazes ou reduzir a quantidade de itens em sua casa”. E, em uma escala mais ampla, “o favorecimento de soluções aditivas por tomadores de decisão individuais pode contribuir para fenômenos sociais problemáticos, como a crescente expansão de organizações formais e a busca quase universal, mas ambientalmente insustentável, de crescimento econômico”. Essa discussão é particularmente importante se falarmos em formas de vida com menos impacto ambiental e mais justiça social, porque vai de encontro a cultura de acúmulo de posses de um grupo específico social.

Pensando sobre esses resultados, lembrei de uma fala do Monge Jorge Koho em um TEDx em que ele menciona que sofremos de “compliquite complicosa”, quase uma doença, que não nos permite diferenciar o que é complicado do que é complexo e nos leva a não entender como viver uma vida simples. E, por analogia, entender que as soluções mais simples, são muitas vezes mais eficientes.

Eu concordo com os autores quando eles sugerem que é improvável que uma tendência para a adição sempre se aplique. Na verdade, “quando as pessoas imaginam como uma situação poderia ter sido diferente, é mais provável que o façam desfazendo uma ação que realizaram, em vez de adicionar uma ação que não realizaram”. Então esse pensamento pode ser estimulado para ajudar na resolução de problemas por meio da subtração.

Essa lógica não é nova para aqueles que desenham soluções inspirados na natureza (biomimética), pois um dos princípios da vida é que “A vida otimiza”. Então em design (desenho, a forma) inspirado por isso busca uma eficiência de uso de recursos, implicando em menos elementos muitas vezes e, também buscando que um elemento performe mais de uma função, evitando o acúmulo de estruturas desnecessárias. “O excesso, então é inimigo do relevante, do importante”, escreveu um amigo chamado Gabriel Marquim.

Pensar soluções inovadoras e criativas para problemas individuais e sociais, se você ainda não havia pensado nisso, passa por uma remoção do excesso para revelar o que é importante, eficiente e que pode otimizar o que precisa ser vivido e realizado. Eu repito sempre aos meus estudantes, é perguntar-se o que otimiza esse processo, conversar com os usuários e, abrir-se a possibilidade de que a resposta seja, fazer menos ou simplificar.

Raiana Lira. Mulher preta e nordestina. Gerente de programas nacionais, latinoamericanos e internacionais no Amani Institute. Consultora de negócios para gestão centrada na pessoa e impacto social positivo. Educadora e facilitadora de processos para que pessoas possam resolver problemas de maneira inovadora, através do desenvolvimento de habilidades e descobrimento de suas potências. Cientista e professora universitária por 12 anos. Desde 2015 no campo do empreendedorismo com propósito para construir um mundo com mais justiça social e ambiental. Nas horas vagas poeta e aprendiz de várias artes. Acredito na potência do sonho e da vontade de transformar!