Impacta Nordeste

“Queremos quebrar barreiras de comunicação em todo o mundo”

A Hand Talk, negócio de impacto que nasceu em Alagoas, desenvolveu uma tecnologia que faz a tradução automática de texto e áudio para a Línguas de Sinais. Após lançar versão para Língua de Sinais Americana, a empresa mira o mercado externo e o desenvolvimento de novas soluções.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, 1,5 bilhão de pessoas têm algum grau de deficiência auditiva no mundo e 12,6 milhões são completamente surdas e dessas cerca de 80% não compreendem bem as línguas faladas em seus países

Essa realidade também se aplica à população de surdos brasileira, que segundo o CENSO IBGE 2010, são quase 10 milhões de pessoas. A maior parte dos deficientes auditivos é alfabetizado em línguas de sinais e depende delas para se comunicar. A Libras é reconhecida por lei como língua oficial brasileira, como o português, mas como é um idioma basicamente fonético, seu aprendizado por parte dos surdos se torna mais difícil, além disso a maioria das escolas do país ainda não consegue oferecer uma boa estrutura de ensino para os surdos. 

Nesse cenário, atividades simples como fazer um pedido em um restaurante ou assistir a um filme se tornam grandes desafios para os surdos, impossibilitados de usufruírem de serviços básicos pela falta de acessibilidade em Libras.

Uma iniciativa tem impactado e facilitado a vida e a comunicação de milhares de pessoas que possuem alguma deficiência auditiva. A Handtalk, negócio de impacto que nasceu em Alagoas, traduz texto e voz automaticamente para a Língua de Sinais, por meio de um aplicativo, o Hand Talk App, e de plugin que pode ser utilizado pelos mais diversos sites, o Hand Talk Plugin. Ambos contam com a ajuda dos simpáticos tradutores virtuais, Hugo e Maya. 

Leia também: Hand Talk, negócio de impacto de Alagoas, apresenta sua solução para CEO do Google

“O aplicativo também serve como um tradutor de bolso, que conta também com uma seção educativa para aprender Libras, que é a Língua Brasileira de Sinais. Já o plugin é inserido em sites de empresas e até suas intranets, e pode ser utilizado em qualquer página da web, a partir de uma assinatura mensal da ferramenta”, explica o CEO da Handtalk, Ronaldo Tenório.

O app já possui mais de quatro milhões de downloads, é gratuito e está disponível para tablets e smartphones, nos sistemas Android (na Play Store) e iOS (na App Store). Já o Plugin de Acessibilidade é uma ferramenta prática que resolve o problema de acessibilidade virtual com o simples clique de um botão. Após a ativação da janela de acessibilidade do plugin, o usuário é apresentado aos tradutores virtuais da Hand Talk, que fazem a tradução dos textos para a língua de sinais. Os sites que contam com a tecnologia passam a abrir as portas para um público de milhões de pessoas de forma inovadora e socialmente responsável, dando autonomia para seus usuários surdos. 

Conversamos com o Ronaldo Tenório sobre a Handtalk e como a iniciativa, que já impactou mais de 22 milhões de pessoas e como a ferramenta pode auxiliar a população com deficiência auditiva.

Impacta Nordeste – Como surgiu a Hand Talk?

Ronaldo Tenório – A Hand Talk surgiu quando eu ainda estava na faculdade, como um projeto para uma das minhas aulas. Na época, tínhamos que criar uma proposta de negócio social, e decidi unir duas das minhas grandes paixões: a comunicação e a tecnologia. Eu percebi na época uma grande dor de comunicação de uma comunidade que era muitas vezes esquecida pelo resto da população, e pensei que poderia ajudar. A ideia ficou guardada por alguns anos, até que me juntei aos meus sócios, Carlos Wanderlan e Thadeu Luz, e decidimos tirar o projeto do papel em 2012.

IN – Como a tecnologia de acessibilidade digital pode facilitar o cotidiano de pessoas com deficiência auditiva? Como funciona a tecnologia do Handtalk?

RT – As tecnologias assistivas, que são essas ferramentas que auxiliam as pessoas com deficiência, são grandes aliadas também das pessoas surdas. Elas são inúmeras, desde coisas mais básicas como legendas em vídeos, até tradutores automáticos de Libras para sites, que é um dos produtos que a Hand Talk oferece. Elas facilitam a vida dessas pessoas, principalmente promovendo sua autonomia. O Hand Talk App é uma dessas ferramentas, que auxilia na comunicação das pessoas ouvintes com as surdas.

Interface do aplicativo com o simpático tradutor virtual, Hugo. (foto: divulgação)

IN – Como expandir o ensino de Libras no Brasil?

RT – A tecnologia pode ser uma excelente aliada. Hoje muitas instituições de ensino superior já inseriram a Libras na grade curricular, além do surgimento de muitos cursos online. Além disso, o app da Hand Talk conta com uma área de educação e dicionário de Libras, onde pessoas podem aprender e consultar sinais de forma prática e divertida.

IN – Quais os principais desafios para a comunidade surda no Brasil?

RT – Costumo dizer que as pessoas surdas vivem como estrangeiras no próprio país, sem conseguirem se comunicar com as pessoas e muitas vezes sem nem conseguir entender o que está escrito em português em placas ou sites. A surdez é uma deficiência invisível.

IN – Como a Hand Talk vê crescimento dos negócios de impacto social no Brasil? O setor já tem outras iniciativas voltadas para a comunidade surda ou que tenha alguma deficiência? Ou ainda é preciso um olhar mais direcionado para esse público?

RT – O Setor de Negócios de Impacto vem ganhando muita força nos últimos anos em nosso país. O Brasil é um país com bastante contrastes sociais e ambientais e esse é um prato cheio para que negócios de impacto social ajudem nessa missão de tornar o nosso país e o mundo um lugar mais justo. Cerca de 1 a cada 4 pessoas no Brasil têm algum tipo de deficiência e algumas iniciativas de tecnologias assistivas vem surgindo e se destacando em nosso país.

IN – Quais as principais conquistas da Hand Talk?

RT – Começamos nossa jornada de empreendedorismo com a Hand Talk com um prêmio na verdade. Antes mesmo de lançarmos o aplicativo, participamos do World Summit Award em 2013, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, e ganhamos como melhor aplicativo social do mundo. Dois reconhecimentos, mais recentes, dos quais tenho muito orgulho foram quando fomos nomeados um dos 35 jovens mais inovadores do mundo pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), e como Empreendedor do Ano pela EY (Ernst & Young Global Limited), na semana passada.

IN –  E os planos futuros?

RT – Queremos quebrar barreiras de comunicação em todo o mundo, assim como estamos fazendo no Brasil. Em 2020 lançamos o aplicativo nos EUA com tradução para ASL (Língua de Sinais Americana), e pretendemos impactar pessoas surdas e ouvintes em mais países, além de levar a nova tecnologia que criamos de reconhecimento de movimentos em Língua de Sinais, o Hand Talk Motion, para novas soluções da Hand Talk.

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