O evento de encerramento da Incubação Social Lab: formando inovadores sociais, iniciativa do Social Brasilis em parceria com a Coalizão pelo Impacto, apresentou a potência dos negócios da periferia de Fortaleza.
“A periferia é riquíssima, mas é escondida. É um trabalho gigante que todos os negócios incubados do Social Brasilis estão fazendo.” Com a fala incentivadora de Andreia Cardoso, diretora-executiva da Somos Um, ocorreu na última quinta-feira (29/02) o encerramento do Social Lab, programa de incubação de negócios de impacto socioambientais periféricos em Fortaleza (CE).
Desenvolvido pelo Social Brasilis em parceria estratégica com a Coalizão pelo Impacto, o programa é voltado para empreendedores e empreendedoras que tem uma ideia de negócio de impacto socioambiental e querem tirá-la do papel ou já tem um negócio de impacto socioambiental em estágio inicial e querem expandir ou fortalecer a sua iniciativa.
Para Manu Oliveira, fundadora e diretora-executiva do Social Brasilis, o avanço da tecnologia e da inovação vem causando uma grande modificação na forma que a gente vive, se comunica, se movimenta na cidade e no mercado de trabalho.
“Será que as nossas populações da base da pirâmide que tem defasagens educacionais e falta de letramento digital estão sendo incluídas nos novos modelos de negócios? Queremos atingir coletivos que busquem desenvolver sustentabilidade financeira e que contribuam para a resolução de um problema social.”
Segundo o instituto de pesquisa Datafavela, dos quase 18 milhões de moradores de comunidades do país, mais de 5 milhões têm o próprio negócio. A criatividade e a força de vontade para empreender chamam a atenção de quem passa pelas comunidades. Mas, às vezes, há um longo caminho entre as iniciativas e a oportunidade de expandir os negócios. E isso depende de orientação, investimento e, também, bons contatos.
“A missão da Coalizão é justamente estruturar e fomentar o ecossistema de negócios e investimentos de impacto em Fortaleza e em outras cidades. E ações como essa de fortalecimento e desenvolvimento de negócios faz parte do nosso DNA e é o que mais traz alegria para gente, porque é onde conseguimos ver o trabalho na ponta, juntos aos empreendedores, que é quem faz as coisas acontecerem”, afirmou Bia Fiuza, coordenadora da Coalizão pelo Impacto em Fortaleza.
Os negócios de impacto na periferia são importantes por vários motivos. Além de contribuir para o desenvolvimento local, gerando renda, emprego, qualificação, inovação e soluções para problemas sociais e ambientais, eles fortalecem a identidade, a cultura, a autoestima, promovendo a inclusão, a participação e a transformação social.
“O nosso sonho é que um dia todos os negócios possam ser de impacto, que eles resolvam algum problema social ou ambiental e que consigam ser sustentáveis financeiramente. Estou ansiosa para esse evento de hoje para conhecer os novos negócios, já vi algumas dicas, a movimentação nas redes sociais e estou muito feliz. Quando a gente conhece uma dor e quer resolver, a gente faz com muito amor e carinho”, completou Andreia Cardoso.
7 Negócios de impacto socioambiental incubados pelo Programa Social Lab
Manu Oliveira iniciou o evento de encerramento da incubação chamando a Oficina Pulso para uma performance sonora para surdos no Brasil proposta por André Garan. Logo após, houve a apresentação de Pitch, que são apresentações sucintas e objetivas da ideia, solução e resultados do desenvolvimento do negócio, muito usada por empreendedores e empresários com o intuito mostrar para uma banca de avaliadores a fim de conseguir investimento, parcerias e conexões para um maior crescimento.
Estavam na banca de avaliadores: Andreia Cardoso, diretora-executiva da Somos Um; Bia Fiuza, coordenadora da Coalizão pelo Impacto em Fortaleza; Silvânia de Deus, comanda o Ateliê da Sil e Marcus Saraiva, do BS Innovation. Conheça os projetos incubados pelo Social Lab.
Ateliê Colaborativo Feito Por Mulher: idealizado por Ana Gélia, a marca tem uma abordagem inovadora e sustentável e que transforma resíduos têxteis em peças de vestuário criativas e originais, tudo isso através da colaboração de mãos talentosas de mulheres periféricas.
“São 32 milhões de toneladas de resíduos que são jogados no meio ambiente de forma irregular, são usados 5.196 litros de água para 1 calça jeans e 2.700 litros de água para fabricar uma camiseta de algodão. Diante disso, o Ateliê utiliza a técnica do Upcycling, que utiliza produtos, resíduos e peças que aparentemente são inúteis, na criação de novos produtos”.
Cuidado Circular: negócio dedicado ao desenvolvimento de estratégias inovadoras para promover a saúde mental das juventudes com ênfase no enfrentamento às violências estruturais no bairro Bom Jardim, em Fortaleza.
A fundadora Maria Borges relata que o número de suicídio e adoecimento mental dos jovens tem impacto durante toda a vida, principalmente observado durante a pandemia de Covid-19.
“As desigualdades sociais afetam o sofrimento e interferem em como vai ser vivido e cuidado. A formação acadêmica de psicologia também não aborda a diversidade e subjetividades, isso influencia na ética e na prática profissional. Então, criamos o laboratório circular, onde ofertamos formação para estudantes e profissionais de psicologia sobre saúde mental das juventudes e diversidade junto com mentoria e experiência prática.”
Isca e Anzol: nascido na interseção dos bairros Carlito Pamplona, Jacarecanga e Pirambu, a produtora musical dá voz e visibilidade aos talentos locais, com profissionalização e inclusão produtiva, o negócio capacita seus clientes com a expertise para criar experiências musicais celebrando a diversidade cultural e promovendo o crescimento sustentável da cena musical local.
Fernando Otto disse que a proposta de valor do Isca e Anzol é ofertar música de qualidade, excelência e confiança com viés inclusivo e de impacto social na periferia. “Nós formamos músicos da periferia e da favela criando uma ponte entre esses artistas e o mercado gerando oportunidade de renda e de visibilidade com formalização de contrato para dar segurança tanto aos nossos artistas quanto aos nossos clientes.”
Loja Colaborativa Utopia: espaço inclusivo e colaborativo impulsionando a geração de renda das populações LGBTQIA+, quilombolas e indígenas. A equipe de gerência da loja, comandada por Ana Beatriz reúne a venda de artesanatos autênticos, de qualidade e contribuem diretamente para o fortalecimento econômico e social dessas comunidades marginalizadas.
“Temos 2 anos de mercado e o nosso público alvo são os turistas. Mas aí tínhamos um problema, que é o preconceito por eu ser uma mulher trans e a pouca visibilidade dos produtos quilombolas e indígenas. Então conseguimos ganhar um edital do Centro Cultural Dragão do Mar e podemos trazer o artesanato das comunidades para a cidade. Do produto vendido, 70% vai para o artesão e 30% vai para a loja a fim de cobrir os custos de manutenção,” disse.
Mar Está Pra Peixe: é uma marca do Instituto Metamorfose que busca fortalecer a atividade da pesca artesanal na comunidade do Serviluz e proporcionar uma maior valorização da identidade local e das espécies pescadas no litoral cearense.
Anailton Fernandes, fundador do Instituto, fala que a pesca artesanal garante o sustento de mais de 100 famílias da comunidade. “O projeto Metamorfose, junto com os pescadores, criou o Mar Está Pra Peixe e queremos transformar os desafios em oportunidades. O projeto estrutura e coordena soluções em comunicação, participação social, gastronomia, urbanismo, arquitetura e oceanografia fortalecendo a cadeia da pesca artesanal.”
Um dos produtos de negócio é a Mochila Arrastão, utilizando materiais provenientes do cotidiano da pesca, como redes e boias, a peça carrega funcionalidade, resiliência e tradição. As premissas necessárias para o desenvolvimento do projeto são três principais aspectos: cocriação, sustentabilidade e economia circular.
PositHIVas: é um grupo de mulheres cis e trans vivendo com HIV e AIDS (MVHA), oferecendo treinamento e suporte na confecção de peças de roupa e artesanatos e geração de renda para as MVHA. O coletivo cria um ambiente de empoderamento e inclusão, proporcionando oportunidades e inspirando comunidades a abraçar a diversidade e a igualdade.
Orleandra Gomes, representante do coletivo em Fortaleza, fala como oferece uma nova perspectiva para essas mulheres, com treinamentos, suporte emocional e geração de renda. “Nós fazemos parte do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas (MNCP), é um grupo de mulheres vivendo com HIV. Aqui na cidade, nascemos em 2004 vendo a necessidade de estar nos espaços de fala e criamos esse grupo que trabalha com a geração de renda.”
Oficina Pulso: ministrada pelo DJ cearense André Garan, ele faz uma performance na qual ativa instrumentos eletrônicos para mostrar, gradativamente, a música para a comunidade surda. André também criou um equipamento no qual a luminosidade do aparelho depende da batida sonora, otimizando com que os surdos possam “ver” o som. O projeto parte do conceito de que o ser humano escuta por meio de todo o corpo, e não somente pelos ouvidos.
“No momento em que soltei a primeira frequência sub-grave, uma que causa vibração no ambiente, a depender do som, e vi os participantes se entreolharam como se dissessem, ‘tu percebeu isso?’, eu comemorei demais, fiquei todo arrepiado. Isso é combustível, então vamos aumentar esse impacto, finaliza Garan.
Sara Café, é graduada em Comunicação Social/Jornalismo, especialista em assessoria de comunicação e formação em fotografia. Atua na área de inovação e impacto social através de trabalhos de jornalismo, redação e produção de conteúdo, mídias sociais, assessoria de imprensa e coberturas fotográficas. Bolsista de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação no Laboratório de Inovação do SUS no Ceará (2021) e do Observatório de Educação Permanente em Saúde (2022), projetos da Escola de Saúde Pública do Ceará. Produz entrevistas e matérias jornalísticas especializadas para o hub de negócios TrendsCE. Voluntária e Diretora de Comunicação do Instituto Verdeluz (gestão 2019 a 2022) e membra da Rede Brasileira de Jornalistas e Comunicadores de Ciência (RedeComCiência), da Rede Narrativas e integrante da Rede Linguagem Simples Brasil.
Sara faz parte da Rede Impacta Nordeste.