Em sua segunda edição, realizada em Natal (RN), o Conexão ODS ampliou o diálogo sobre sustentabilidade ao reunir representantes de diversos estados. Por meio de painéis, visitas a comunidades e desafios de inovação, o evento reforçou o papel fundamental das parcerias e da ação coletiva para fortalecer o ecossistema de impacto no Nordeste e avançar nas metas da Agenda 2030.

“As palavras têm poder; as parcerias, ainda mais.” A afirmação de Mona Paula Nóbrega, gerente de Unidade de Negócios de Impacto do SEBRAE/RN, no último dia de evento, resumiu precisamente o que foi o Conexão ODS para os participantes.
Em 2023, Fortaleza foi palco da primeira edição do evento, idealizado pela empresa Somos Um em parceria com o Pacto Global – Rede Brasil. O Conexão ODS se apresentou como um convite à ação, buscando engajar o setor empresarial por meio de uma programação imersiva, reunindo especialistas do Brasil e do exterior, promovendo trocas em painéis e palestras, e ampliando o diálogo para além das salas, com vivências em comunidades e ações práticas que aproximam teoria e realidade.
Em 2025, a segunda edição do evento foi em Natal (RN), de 7 a 9 de agosto. Agora, estendendo a parceria com o SEBRAE/RN e o Centro Sebrae de Sustentabilidade, o evento contou com o patrocínio do Banco do Nordeste, Governo do Estado do Rio Grande do Norte, Grupo Aço Cearense, Grupo Boticário e Instituto Riachuelo. O Hotel Senac Barreira Roxa, escolhido para sediar o evento, é um espaço certificado como carbono neutro e referência em sustentabilidade na América Latina.

“No primeiro evento que realizamos, quando desafiamos o Pacto Global a vir para o Nordeste, queríamos dar uma ‘pitada nordestina’ a essa iniciativa. Foi um grande desafio, superado com louvor, e afirmamos: agora, queremos fazer isso todos os anos, cada vez em um estado diferente do Nordeste”, explicou Andreia Cardoso, Diretora Executiva da Somos Um.
“Quando chegamos a Natal, já contávamos com a experiência do evento anterior e da parceria com o Pacto Global, e entrou um terceiro parceiro: o SEBRAE/RN, um aliado local que nos ancorou, nos apresentou e nos acolheu. Conseguimos reunir as pessoas que desejávamos, trouxemos representantes de todo o Brasil, e isso não é mérito de uma única instituição, mas da Conexão ODS, que se tornou um verdadeiro coletivo”, concluiu Andreia.
Experiências e vivências transformadoras
A programação do primeiro dia (7) trouxe painéis sobre novas economias, energias renováveis e equidade, destacando a importância de empoderar comunidades e estimular o protagonismo diante dos desafios atuais. Um exemplo marcante foi apresentado por Joaquim de Melo, fundador do Banco Palmas e da Moeda Social Palmas, no Ceará. A partir de uma perspectiva decolonial, o educador social e líder comunitário compartilhou como os Bancos Comunitários de Desenvolvimento (BCDs) têm desempenhado papel fundamental em comunidades quilombolas, indígenas e assentamentos em diversas regiões do país.
O segundo dia, além de painéis sobre temas como impacto social, saúde mental e COP 30, contou com visitas às comunidades potiguares. Os participantes puderam escolher entre cinco vivências: a Casa do Bem, na comunidade Mãe Luiza (Natal/RN); a Associação Quilombola de Capoeiras (Macaíba/RN); o Reformar (Vila Felipe Camarão/RN); o Território Indígena Katu (Canguaretama/RN); e o Instituto Navegar (Paço da Pátria/Redinha – Natal/RN).
Para Liliane Moura, da Associação Quilombola de Capoeiras, a visita proporcionou reflexões importantes sobre a sustentabilidade nas práticas cotidianas da comunidade, mostrando que todo encontro provoca uma troca mútua de experiências. Ela ressaltou que a proposta “lixo zero” do evento foi um convite para olhar com atenção para a sustentabilidade na comunidade e firmar um compromisso com o futuro.“O evento reafirma o nosso compromisso com a sustentabilidade, a partir das nossas realidades, das pessoas que recebemos. Foi muito bom, muito rico, e nos fez ter um novo olhar sobre a sustentabilidade”.
Sustentabilidade na prática
Mais do que promover o diálogo e os encontros, o Conexão ODS mostrou o quanto é possível transformar teoria em prática, oferecendo uma experiência concreta de como realizar um evento sustentável. Rebeca Wermont, cofundadora da Yby Soluções Sustentáveis e idealizadora da Verdear Eventos + Sustentáveis, esteve à frente da missão de demonstrar que é possível reduzir os impactos negativos e potencializar os positivos em um evento.
Em parceria com a empresa Mato Grande Agroflorestal, foi realizado um inventário de emissões para que o impacto ambiental fosse compensado. Até o dia do evento, foram destinados à reciclagem 708 kg de resíduos, compostados 247 kg, economizados cerca de 11.468 litros de água e evitadas 1,34 toneladas de CO2. Além disso, no âmbito econômico e social, R$ 3.062,38 foram gerados em renda para os catadores envolvidos no processo.

Atuando há quase seis anos no universo de eventos, ela tem buscado trazer inovação e despertar novas perspectivas em quem participa, produz e financia essas iniciativas. Mas, segundo conta, trabalhar com um evento que aborda sustentabilidade é uma experiência singular. “Materializar tudo isso em um evento sustentável tem um contexto completamente diferente. É um sonho que todos os eventos pudessem pensar dessa forma — sendo ambientalmente responsáveis, socialmente justos e economicamente viáveis, colocando em prática ações possíveis e ajudando as pessoas envolvidas a enxergarem isso com a seriedade necessária.”
Para ela, o setor de eventos tem grande potencial de influência: pode criar tendências de consumo e comportamento, mas também gerar impactos negativos significativos. “Eventos são causadores de grandes tendências, mas também podem causar enormes danos ambientais e sociais. Então, por que não transformamos isso em um valor? Esperamos que essa prática se torne cada vez mais comum, palpável e acessível em todos os cantos do Brasil”, concluiu Rebeca.
Economia circular e futuro sustentável
O último dia do evento foi dedicado a painéis que abordaram a economia circular e o futuro sustentável. Com o propósito de incentivar e fortalecer conexões, os debates permitiram demonstrar o quanto o trabalho coletivo é fundamental para avançar na construção da sustentabilidade. No painel sobre economia circular, por exemplo, destacou-se a importância do engajamento de todos os setores da sociedade. Desde a indústria, que precisa repensar seus processos produtivos, até o consumidor, que deve adotar práticas conscientes; do poder público, responsável por políticas e regulação, ao terceiro setor, que pode atuar na mobilização e educação da comunidade. Todos precisam assumir seu papel para garantir que os ciclos produtivos se retroalimentem de forma eficiente, minimizando desperdícios e promovendo a reutilização de recursos.
Jovens inovadores em destaque
Ainda no último dia, foram apresentados ao público os pitches do Desafio Inovação com Impacto, um hackathon social voltado para jovens de 18 a 29 anos, que abordou dois grandes temas ligados ao contexto potiguar: economia circular e resíduos têxteis — com foco no reaproveitamento dos resíduos da indústria local — e agricultura regenerativa da Caatinga — direcionada à preservação ambiental e ao fortalecimento da agricultura familiar. Inicialmente, três equipes de destaque, entre as sete que chegaram à fase final, seriam premiadas com R$ 10 mil cada. Contudo, para surpresa e alegria dos participantes, durante a programação foi firmada uma colaboração que permitiu que todas as sete equipes fossem contempladas com o prêmio.

Nordeste em evidência e um legado de conexões e propósito
Mona Paula Nóbrega, uma das lideranças do SEBRAE/RN responsáveis pela articulação do evento, afirmou que o Conexão ODS foi uma celebração dos nove anos de atuação do ecossistema de impacto no estado. Embora existam diversos programas e ações que incentivam e acompanham negócios de impacto na região, nunca houve oportunidade de reunir o ecossistema de impacto do Nordeste na cidade da forma como o evento proporcionou.
Durante os três dias do Conexão ODS, o evento reuniu participantes de mais de 22 estados, criando um espaço de trocas de experiências e conexões em torno de um propósito comum. “Mostramos ao empresário potiguar a necessidade de inserir a pauta da sustentabilidade em sua agenda e cadeia de valor, enxergando-a não como algo acessório, mas como parte da estratégia e do modelo de negócio”, destacou Mona.
Para ela, o evento também teve um papel importante na projeção nacional do protagonismo nordestino. “O Conexão ODS tem o propósito de mostrar para todo o Brasil que o Nordeste possui negócios de impacto, um ecossistema maduro, políticas públicas e que está fazendo a sua parte nesse processo.”
Durante os três dias, em um espaço inclusivo e diverso, o Conexão ODS promoveu parcerias estratégicas, discursos inspiradores e reforçou que é possível construir o mundo que desejamos, reconhecendo que, de forma colaborativa, somos mais fortes. A iniciativa cumpriu seu propósito ao disseminar que o alcance das metas e dos ODS da Agenda 2030 começa onde estamos, no chão de cada território e pelas mãos de quem faz parte dele, evidenciando o poder transformador da união e do fortalecimento do ecossistema de impacto no Nordeste.

Amanda Queiroga, 27 anos, é Engenheira Ambiental, professora, empreendedora sustentável e consultora Lixo Zero pelo Instituto Lixo Zero Brasil (ILZB). Também atua como consultora em sustentabilidade para PMEs e da palestras sobre esse tema. Acredita que escolhas conscientes podem mudar o mundo, por isso tem como propósito levar a educação ambiental para as pessoas e transformar as empresas de dentro pra fora.
Amanda faz parte da Rede Impacta Nordeste de Jovens Lideranças