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Miel-o: economia solidária e sustentabilidade na produção de mel no alto sertão paraibano

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A Miel-o destaca-se por sua abordagem inovadora na produção de mel e derivados, promovendo a economia solidária ao empoderar a mão-de-obra local e fortalecer a comunidade por meio da apicultura sustentável.

Essenciais para a manutenção da vida, as abelhas desempenham uma função primordial no que diz respeito à biodiversidade e à produção de alimentos, já que dois terços dos alimentos que ingerimos são cultivados com a ajuda das abelhas. A polinização é responsável pelo transporte do pólen, permitindo a fertilização das plantas e, consequentemente, garantindo a diversidade genética tão importante para o equilíbrio dos ecossistemas. 

Devido a intervenções antrópicas, como usos massivos de defensivos agrícolas e devastação de áreas naturais, por exemplo, a quantidade de abelhas vem diminuindo ao longo dos anos. Assim, é preciso definir processos produtivos que se apoiem no desenvolvimento sustentável e que priorizem a preservação das espécies ameaçadas.

A apicultura é a ciência que trata da criação e exploração de abelhas da espécie Apis melífera (abelhas melíferas africanizadas ou abelhas de ferrão); já a meliponicultura, se trata da criação e exploração de abelhas nativas (sem ferrão). Essas atividades, se realizadas de forma sustentável, tem grande potencial de gerar renda para comunidades rurais sem agredir o meio ambiente.

A meliponicultura tem grande potencial de gerar renda para comunidades rurais sem agredir o meio ambiente. (Imagem: frepik.com)

A prática da meliponicultura se mantém presente culturalmente entre as famílias, cooperativas agrícolas e comunidades tradicionais do Nordeste, causando impacto social positivo e contribuindo para a diversificação da renda. Devido à variedade da flora apícola e dos microclimas, essa região é uma das poucas no mundo que apresenta características favoráveis para produzir mel com qualidade e em abundância. Na Paraíba, a criação de abelhas nativas sem ferrão tem se destacado em diversos municípios, fortalecendo a cadeia produtiva de famílias de agricultores. 

Nascida no alto sertão paraibano, a Miel-o é uma empresa que produz e comercializa méis silvestres e nativos fabricados em uma fazenda sustentável. No Brasil há 12 anos, o português Gonçalo Vicente adquiriu uma fazenda em Catolé do Rocha-PB e, ao perceber a atividade de alguns apicultores que moravam na vizinhança, se impressionou com o quão bom era o mel produzido ali. Assim, surgiu o desejo de mostrar o potencial de geração de renda e valor no alto sertão paraibano através da produção de mel. 

Atualmente, envolvendo a população local, a Miel-o produz méis diversos e seus subprodutos mais comuns, como pólen e própolis. Porém, diante das potencialidades encontradas no local, a empresa foi além.

Equipe da Miel-o. (Imagem: Acervo da Miel-o)

Foco na economia circular

Interessado em promover processos produtivos com zero desperdício, Gonçalo transformou a cera, resíduo da cadeia produtiva do mel, em insumo para a produção de velas aromáticas. A cera, que é normalmente utilizada de forma ostensiva e depois descartada, se transformou em “Gentileza”, “Otimismo” e “Afeto”, que são as fragrâncias exclusivas da marca. Segundo o fundador da empresa, ingredientes essenciais para uma vida harmoniosa.

“Eu decidi aproveitar o mel como o produto mais nobre e, ao mesmo tempo, com outros produtos que eram considerados ‘lixo’, eu tentei torná-los ‘luxo’ […] Nós criamos um produto único”.

Depois da criação das velas, foram desenvolvidos os sabonetes, utilizando insumos da região, como carvão ativado da Jurema e o limão e as argilas extraídas da própria Fazenda. 

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Vela aromática Miel-o. (Fonte: site miel-o)

Foco na economia solidária

Desde o início das atividades da empresa, Gonçalo teve como prioridade fortalecer a economia local. Como utilizava os insumos provenientes daquela região, se comprometeu a fazer com que o dinheiro, de alguma forma, também circulasse ali. A premissa de “reinvestir o que foi tirado da região, na própria região” é algo que acompanha a empresa desde o início.

Gonçalo e a responsável pela fabricação das velas. (Imagem: acervo Miel-o)

A economia solidária se baseia na cooperação. Nesse modelo há uma distribuição mais equitativa das riquezas, empoderamento da mão-de-obra local e a escolha de uma abordagem mais sustentável dos processos. Dessa forma, a Miel-o prioriza a mão-de-obra da região em toda a sua cadeia de produção, fortalecendo os agentes econômicos em uma área onde há vulnerabilidade e riscos sociais latentes devido ao fenômeno da seca.

Capacitação e parcerias com instituições de ensino

Os apicultores que trabalham na fazenda recebem constantemente cursos de aperfeiçoamento das técnicas de manejo das colmeias e são acompanhados pelos técnicos do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial). Os responsáveis pela fabricação dos outros produtos, como as velas e sabonetes, realizam capacitações em plataformas online e também por meio de cursos do SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) e do SENAI. Vale relembrar que todas essas pessoas são da região.

A Miel-o também possui parceria com várias instituições de ensino e pesquisa, como a Universidade Federal da Paraíba, Universidade Federal de Campina Grande, Instituto Federal da Paraíba, Universidade Federal de Pernambuco e Universidade de Campinas (SP). Por meio dos projetos, os apicultores locais aprendem novas técnicas de manejo das colmeias e de zootecnia. 

Pesquisadora de instituição parceira. (Imagem: Acervo da Miel-o)

Através dos seus produtos, a Miel-o vai levando um pouco de Catolé do Rocha, do interior da Paraíba, para várias outras regiões. Enxergar o potencial dos recursos nesse local possibilitou desenvolvimento, gerando renda e fortalecendo o sentimento de pertencimento das pessoas envolvidas. A empresa também confirma por meio do seu sucesso que adotar a economia solidária e circular vale a pena quando se quer unir o lucro, impacto social e conservação ambiental. 

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