Opinião

A dor do crescimento

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Durante boa parte de minha vida eu fui a única neta, sobrinha e filha. Eu recebia todos os mimos, carinhos e atenção. O natal era farto de presentes, mas me faltava presença. Aos 11 anos, descobri que ganharia uma priminha. Toda aquela atenção foi compartilhada, ou melhor, dividida, em proporções desiguais, como acontece com toda novidade. Mas o que poderia gerar uma frustração, me gerou amor. Minha prima grudou em mim. Eu era a irmã mais velha e nos seus primeiros anos, passamos a maior parte do tempo juntas. Aprendi a trocar fralda, a dar de comer e nos tornamos parceiras de brincadeiras.

Não foi uma escolha minha tê-la, mas, diante de tanta potência em vida, não havia outro caminho senão fazê-la parte de mim. A partir dos 8 anos, ela me apareceu com uma novidade. Toda noite que dormíamos juntas, ela me pedia massagem na panturrilha. Era uma tal de “dor do crescimento”. Não me lembro exatamente até quando, mas essa é uma memória forte que carregamos até hoje. 

Anos depois, nós continuamos primas-irmãs e a dor do crescimento dela passou para mim. Eu me tornei empreendedora, empresária, mulher de negócios e cofundadora da SOLOS, um negócio de impacto que mobiliza pessoas para transformar os ciclos dos resíduos no Brasil. E hoje nós estamos crescendo. Tal como com minha prima, que involuntariamente me ensinou a amadurecer, a minha empresa, que nasceu de ideais compartilhados entre eu e minha sócia, Gabi, também está me fazendo aprender.

A empresa ganha outros sócios, integrantes para o time, clientes gigantes como Braskem, Ambev e Heineken, seguidores nas redes sociais. A SOLOS que nasce para ajudar a resolver um grande problema se depara com a oportunidade de crescer e quem sabe se tornar tão gigante quanto este desafio. São novas pessoas que nos cercam e as decisões que antes afetavam apenas nossas vidas passam a gerar impacto sobre outras tantas. Mas não era esse tal de impacto que a gente tanto buscava? Sim. Mas só quando temos a real capacidade de realizá-lo é que compreendemos a responsabilidade de nossas escolhas, que sempre vêm acompanhadas de uma certa dor. 

Não sei se você que está lendo essas palavras está passando ou já viveu a tal da “dor do crescimento”, mas te garanto que ela em um momento vai chegar. E assim como minha prima criança precisava do meu apoio para revigorar o incômodo que sentia, vejo hoje na SOLOS a importância de contar com pessoas e organizações que estão preparadas para nos dar carinho, em formato de compreensão, reflexão e ferramentas de gestão, que vão transformar essa jornada em um boa memória como tenho com minha prima. A Impacta Nordeste, que dentre tantas iniciativas, tem este portal, é um desses amigos que têm me ajudado a trazer um significado de beleza a este momento. 

Crescer é para os fortes. E digo mais, crescer é para quem tem gente! Nesta coluna de estreia quero agradecer e dedicá-la a todos os meus companheiros que tornam esta minha escolha poderosa! Que vocês empreendedores se cerquem daqueles que vão transformar seus sonhos em capacidade de realização! Contem comigo e boa jornada!

Saville Alves. “Sou uma liderança feminina na sustentabilidade”. Depois de trabalhar na Braskem e Oi, encontrou no empreendedorismo social, que já acompanhava desde a época como liderança do Movimento Empresa Júnior, sua paixão. Hoje é sócia e cofundadora da SOLOS, negócio de impacto que tem transformado a cadeia das embalagens pós-consumo. É membro do Grupo de Pesquisa Gestão para Baixo Carbono da Escola da Administração da UFBA, e integrante da Câmara de Inovação para Sustentabilidade de Salvador. Formada em Comunicação Social, pela UFBA, é uma baiana arretada. LinkedIn | Email