Impacta Nordeste

Comunidades Resilientes: Como o Instituto Caburé fortalece as comunidades locais no litoral do nordeste

Comprometido com um futuro mais justo e sustentável para o Nordeste brasileiro, o Instituto Caburé incorpora os saberes locais das comunidades tradicionais em suas práticas de conservação e regeneração ambiental.

Quando falamos sobre a crise climática e as ameaças que cercam nosso meio ambiente, é comum que, influenciados por algoritmos das redes sociais e veículos de comunicação, nossas atenções se voltem quase que exclusivamente para a Amazônia, como o único bioma em risco extremo. No entanto, é vital ampliar essa perspectiva, reconhecendo a importância de outros ecossistemas e das comunidades que deles dependem. A costa litorânea do Brasil, por exemplo, abriga uma diversidade de ecossistemas, como manguezais, dunas, praias e recifes de corais, que também enfrentam desafios significativos e merecem nossa atenção e mobilização.

O litoral do Nordeste brasileiro, com sua diversidade natural e cultural, enfrenta muitos desafios, mas também acolhe iniciativas que estão redefinindo a relação entre o ser humano e a natureza. É nesse cenário que o Instituto Caburé, que nasceu no norte do Piauí, se destaca como um pilar de transformação, unindo saberes ancestrais e inovação para regenerar ecossistemas e fortalecer as comunidades que habitam esses territórios. Presente no Piauí, Ceará e Maranhão, o Instituto não só atua na preservação ambiental, mas também valoriza os conhecimentos tradicionais das comunidades locais. A sustentabilidade, para eles, é construída com a participação ativa das pessoas que cuidam e vivem nesses territórios, garantindo um equilíbrio entre a preservação e o desenvolvimento sustentável.

Camilla Marinho, fundadora do Instituto Caburé, define a missão da instituição como uma busca contínua para se tornar uma ferramenta de pesquisa voltada para políticas públicas em diferentes esferas. “Nossa maior missão a longo prazo é se tornar uma ferramenta de pesquisa para políticas públicas municipais, estaduais e federais. Tudo o que fazemos, fazemos visando o longo prazo (…) com embasamento técnico e metodologia.” Essa abordagem reflete a intenção do instituto de não apenas realizar ações imediatas, mas de criar um impacto duradouro nas comunidades que atende.

O Instituto Caburé e a Regeneração Ambiental

Um dos focos centrais do trabalho do Instituto é a conscientização sobre a preservação dos manguezais, considerados verdadeiros guardiões dos ecossistemas costeiros. Essas áreas, ricas em biodiversidade, têm um papel crucial no equilíbrio ambiental global, sendo responsáveis por armazenar grandes quantidades de carbono, o que as torna essenciais no combate às mudanças climáticas.

No entanto, os manguezais não são apenas importantes para o planeta como um todo. Para as comunidades desses territórios, eles oferecem recursos fundamentais para a subsistência, além de protegerem as zonas costeiras de inundações e erosão. Infelizmente, a degradação desses ecossistemas, por conta da urbanização e da exploração desenfreada de recursos, continua sendo uma ameaça. E a partir disso, o Instituto Caburé, na sua frente de clima, atua desenvolvendo projetos de regeneração ambiental em parceria com moradores locais.

Além de proteger os ecossistemas, o Instituto atua para garantir que as comunidades que habitam esses territórios se tornem protagonistas no processo de preservação e posteriormente, regeneração. Através de projetos como “É tudo pela maré“, que envolve marisqueiras — mulheres que dependem dos recursos naturais dos manguezais para o próprio sustento —, fortalece o conhecimento ancestral, integrando saberes passados de geração em geração com práticas sustentáveis modernas. Aqui, a regeneração não é apenas ambiental, mas também social e cultural, mantendo vivo o legado de resistências e tradições locais.

Instituto Caburé apresenta o mini doc: “É tudo pela maré”

O papel do Instituto em outros territórios

Embora a iniciativa tenha suas raízes no litoral do Piauí, suas ações se estendem para o Ceará e o Maranhão. Essas regiões compartilham características semelhantes em termos de desafios ambientais e sociais, como a degradação dos ecossistemas costeiros e a necessidade de empoderar as comunidades tradicionais.

No Maranhão, por exemplo, o Instituto tem promovido a articulação com os grupos comunitários e intercâmbio cultural entre as mulheres comunitárias, para formação de uma rede de turismo de base comunitária, na perspectiva das mulheres, as guardiãs dos manguezais. Além de trabalhar com comunidades locais para fomentar práticas de manejo sustentável dos recursos naturais. Já no Ceará, as atividades se concentram em projetos voltados para a capacitação das comunidades em ecoturismo sustentável, permitindo que os moradores explorem economicamente seus territórios sem comprometer a biodiversidade.

Pensar futuros, olhando o presente

Para nutrir o futuro que se espera, é preciso olhar para o presente e entender quais ferramentas podem ser um caminho possível de transformação. E é nesse lugar de esperança, junto ao fortalecimento identitário e com a clara compreensão das desigualdades de acesso à informação, que o Instituto também tem na educação uma das suas principais frentes de atuação. Exemplo disso é o programa “Caburézinhos”, que promove educação ambiental para crianças, fortalecendo o vínculo com seus territórios e ecossistemas, através de biblioteca comunitária, rodas de histórias e atividades ecopedagógicas.

Camilla destaca que, após cinco anos de trabalho, o programa Caburézinhos já mostra transformações nas crianças, especialmente no senso de pertencimento ao território e na conscientização ambiental. Ela cita que, embora a educação ambiental seja um processo lento, já observa mudanças significativas: “Hoje, a gente já entende que as crianças têm um senso de pertencimento que elas não tinham antes.”

Nos levando a um lugar ainda mais profundo, Camilla menciona uma conversa com Ailton Krenak, em que lhe explicou que as comunidades tradicionais não foram ensinadas a lidar com resíduos modernos, o que dificulta a mudança de comportamento. “Como as pessoas nos grandes centros exigem que comunidades tradicionais não joguem lixo no chão, sendo que elas nunca foram ensinadas?”, reflete Camilla. Apesar das dificuldades, ela afirma que as crianças do projeto são hoje muito mais engajadas em comparação com outras regiões e que, embora ainda haja desafios como a alfabetização, o impacto no senso de pertencimento e na relação com o meio ambiente já é visível.

Foto: Reprodução/Instagram

Outro exemplo importante da atuação do Instituto foi na Comunidade das Curimãs, onde em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Barroquinha, Ceará, iniciaram as práticas de permacultura e a educação ambiental com foco agroecológico oferecidas às crianças e adolescentes. No total, 180 pessoas já foram beneficiadas direta e indiretamente por essa iniciativa.

Regeneração e esperança

No artigo “Futuros Possíveis: no contexto de crise climática, ainda é possível esperançar caminhos de regeneração?”, reflito abertamente sobre um futuro onde consigamos compreender que coexistimos com a natureza, com uma visão de futuro onde o progresso é medido não apenas pelo crescimento econômico, mas pela saúde e vitalidade dos ecossistemas e das comunidades. E o Instituto Caburé corrobora essa cosmovisão de que é possível construir um caminho alternativo, onde regeneração ambiental e fortalecimento comunitário caminham juntos.

“O impacto que esperamos, no futuro, com certeza, é o desenvolvimento da base comunitária e o fortalecimento político dos beneficiários do Instituto Caburé. Não queremos estar aqui para sempre. O que buscamos é que as crianças continuem no futuro, e que as mulheres também sigam em frente. Então, esperamos de fato fortalecer esses grupos e auxiliar na mudança de paradigmas, no sentido de terem orgulho de quem são, de onde vieram, e serem os verdadeiros guardiões desse lugar. Estarem presentes nas tomadas de decisão que envolvam a comunidade e que estejam fortalecidos diante ao contexto de especulação imobiliária, turismo predatório e descaracterização local.”

Com essa afirmação, onde reflete sobre o legado que o Instituto busca deixar, Camilla Marinho evidencia a importância do Instituto Caburé na conscientização das comunidades sobre seu papel fundamental na proteção ambiental. Ao valorizar sua identidade cultural, o Instituto fortalece essas comunidades, ajudando-as a se reconhecerem como guardiãs de seus territórios. Embora o caminho a percorrer ainda seja longo, Camilla acredita firmemente que estão no rumo certo para deixar um legado significativo em um cenário de incertezas climáticas.

A preservação dos ecossistemas e o fortalecimento das comunidades tradicionais não são apenas questões ambientais, mas também sociais e econômicas. O futuro dessas regiões depende de ações integradas, que envolvam tanto a regeneração dos ecossistemas quanto a garantia de qualidade de vida para quem vive nesses territórios. O Instituto Caburé e toda a cadeia de atuação que se faz presente em suas iniciativas, ao combinar saberes ancestrais, ciência e ação comunitária, nos mostram que a crise climática não deve ser encarada como o fim, mas como uma oportunidade de regeneração e inovação.

Hidelgann Araújo é um estrategista de comunicação e mobilizador do terceiro setor, premiado pelo Anthem Awards e com o selo de Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo. Sua paixão pela criatividade e articulação de comunidades e histórias se traduz em uma trajetória que reflete a comunicação como uma ferramenta para gerar impacto social. Já colaborou com Canal Futura, Co.liga, Greenpeace, Politize!, SOMA+ e UNICEF, fortalecendo a sinergia do coletivo e valorizando a pluralidade como base para a inovação.

Hidelgann faz parte da Rede Impacta Nordeste.

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