Nas últimas décadas temos observado um aumento no surgimento dos Negócios de Impacto como uma alternativa para a forma tradicional de fazer negócios. Este novo olhar para as organizações propõe a resolução de questões de interesse coletivo, sejam elas sociais ou ambientais, através de modelos de negócio que se sustentem pela venda de produtos ou serviços.
São considerados negócios de impacto empresas que desejam resolver algum problema social e ambiental e, ao mesmo tempo, obter retorno financeiro. Esse problema social pode ser voltado para a área de: educação, saúde, serviços financeiros, cidades (moradia e mobilidade), tecnologias verdes (água, reciclagem, resíduos, energia, agricultura), cidadania (acessibilidade, segurança, emprego, gênero), entre outras.
De acordo com o guia Inovação em Modelos de Negócios de Impacto elaborado pela Sense-Lab com apoio do ICE, a solução gerada pelos negócios de impacto pode estar “no que” o negócio produz, “para quem” ele produz e/ou “como” ele produz. Além disso, o impacto gerado pode estar em diferentes partes da cadeia de valor do negócio, a depender da estratégia adotada.
O último mapeamento nacional realizado pela Pipe.Social, em 2019, identificou um aumento de 73% em negócios registrados em relação a primeira edição do mapeamento e mostrou que um bom negócio de impacto é a intersecção entre uma real necessidade de mercado e um problema social ou ambiental relevante.
Dentro dessa definição podemos encontrar os seguintes tipos de negócios de impacto:
Impacto no Cliente
O impacto se dá no próprio mercado consumidor. Os produtos ou serviços podem impactar diretamente o cliente ou servir como auxílio para que o cliente impacte um de seus públicos-alvo.
O público é o cliente do produto ou serviço que financia o impacto, além de ser alguém que pode e quer pagar pela solução ofertada. A relação entre o negócio de impacto e o público é direta, já que o cliente paga pelo produto ou serviço motivado por uma necessidade não atendida no mercado.
Um exemplo de negócio de impacto que utiliza esse mecanismo é o Vivenda. A empresa tem como objetivo melhorar as condições de habitação das pessoas de menor renda, por meio de uma solução completa em reformas habitacionais.
Há variações dentro do modelo de negócios de Impacto no Cliente. As principais são:
Impacto por Intermediário
Nessa variação a organização não interage diretamente com o público impactado. O cliente compra uma solução do negócio, que o habilita a gerar impacto em uma população vulnerável. Um exemplo é a startup alagoana Hand Talk, que desenvolve um aplicativo gratuito de tradução simultânea para a Língua Brasileira de Sinais (Libras). A empresa se encaixa no Impacto por Intermediário por gerar receita com a venda para empresas e setor público (intermediários) de serviço de tradução de seus websites e instalação de totens de acessibilidade em locais públicos.
Redução no Custo de Transação
Nesse modelo, a organização cria uma forma de dar acesso ao público impactado a um produto ou serviço que já existe, mas que tem sua viabilidade de acesso comprometida, seja por questões de custo, geografia, logística ou desinformação. Podemos citar como exemplo a Favela Vai Voando, a primeira empresa de turismo focada no público das favelas e das periferias brasileiras.
Desenvolvimento por Microcrédito
No Desenvolvimento por Microcrédito, a organização atua emprestando dinheiro para o público impactado a taxas de juros bem menores daquelas praticadas pelos bancos tradicionais. A Acreditar, por exemplo, que atua para promover o desenvolvimento local, através do microcrédito produtivo orientado.
Impacto na Cadeia Produtiva
O impacto não está diretamente ligado ao produto ou serviço, mas na forma como ele é produzido e nas consequências positivas resultantes de sua produção. O público impactado é o fornecedor da organização.
É aplicada uma intervenção junto aos fornecedores, como uma capacitação e/ou estruturação, para que este possa fornecer os insumos, produtos ou serviços que posteriormente serão vendidos para os clientes. Com a venda dos produtos, a organização gera receita para o público impactado.
A Pano Social é um ótimo exemplo desse modelo de negócio. A empresa produz camisetas, ecobags e uniformes de uma forma ambientalmente mais responsável, e gerar impacto social ao capacitar pessoas que vieram do sistema prisional a serem fornecedores ou mesmo funcionários da empresa.
Outras variáveis do Impacto na Cadeia Produtiva são: Valorização de Atributos Locais, quando o valor gerado é inerente a uma população ou geografia específica; e o Impacto na Operação, que insere o beneficiário na própria operação da organização.
Impacto como Serviço
Aqui o impacto está inserido no produto ou serviço prestado, mas o cliente não é nem o foco do impacto e nem seu agente principal. A intervenção social ou ambiental é executada pelo negócio de impacto em um agente externo de interesse do cliente.
A intervenção da organização junto ao beneficiário é paga por um cliente que tem interesse na geração do impacto. Os clientes geralmente são empresas que por normas legais ou responsabilidade social valorizam a intervenção proposta pelo negócio de impacto.
Estão inseridos nesse contexto os Serviços Ambientais, que tem como objetivo a preservação de áreas florestais, redução na geração de resíduos e aumento da reciclagem, combate às mudanças climáticas, entre outros.
Podemos citar também os negócios que proporcionam Valor Indireto. Nessa vertente a organização aplica uma intervenção junto ao público impactado, que por razões diversas gera um valor atrativo para um cliente. A Konkero, por exemplo, oferece serviços gratuitos de finanças pessoais e serviços financeiros para a população de baixa renda. Sua fonte de renda se dá na venda de leads para empresas e de espaço de publicidade em seu portal.
Impacto como Subsídio
O foco deste mecanismo não está relacionado à cadeia de valor principal do negócio. Os principais clientes pagam por produtos e serviços, e a organização os produz e entrega sem nenhuma relação ou dependência do processo de geração de impacto. O impacto é gerado externamente, com outro público, porém financiado pelo fluxo de negócios principal.
Ou seja, a receita gerada pela venda de um produto ou serviço para clientes que podem pagar, possibilita que o público que não possui condições de adquirir receba um produto ou serviço gratuitamente ou com preços menores.
Como exemplo, a loja virtual Banca do Bem oferece uma série de itens criativos e encantadores que são feitos por uma rede de talentos próprios ou de parceiros, que estão ligados a uma causa. Para cada item vendido, parte do dinheiro é revertido para instituições sociais criteriosamente selecionadas.