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Gastronomia sustentável: cuidado com as práticas, consumo consciente e muito sabor

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Foto: Maarten van den Heuvel em Unsplash

A preocupação com uma alimentação mais saudável, consumindo alimentos frescos, orgânicos e de pequenos produtores é hoje uma realidade para muitas famílias brasileiras, assunto já abordado aqui nessa matéria. Mas a alimentação saudável passa também pela sustentabilidade na cozinha. 

A gastronomia sustentável se preocupa com práticas que vão além dos nutrientes que compõem aquele alimento. Está relacionada à mudança nos impactos causados pelo consumo alimentar, como o desperdício de comida, o consumo consciente de produtos em risco de extinção, coleta seletiva e o reaproveitamento de alimentos. 

O desperdício de comida no mundo em 2019 foi de 931 milhões de toneladas de alimentos, segundo conclusões do relatório sobre o assunto do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e da organização britânica de resíduos Waste and Resources Action Program (WRAP).

O Índice de Desperdício de Alimentos 2021, da Pnuma, sugere que 17% da produção total de alimentos do mundo foram para o lixo. A maior parte do desperdício de alimentos – em torno de 61% – vem das famílias. O restante: 26% vêm do setor de serviço de alimentos, por exemplo, restaurantes, hotéis ou estabelecimentos de ensino. E, por fim, 13% vêm do comércio, como supermercados ou pequenas lojas.

Segundo o relatório apresentado pela Brasil Food Trends 2020, os consumidores estão preocupados com o meio ambiente e dispostos a contribuir em causas sociais. O estudo apontou que uma das exigências e tendências mundiais apresentadas por parte dos consumidores está relacionada a um tópico denominado por “sustentabilidade e ética”.

No que se refere à sustentabilidade ambiental, o estudo apontou vários aspectos que estão sendo valorizados nos produtos pelos consumidores de diversos países, tais como: uma menor “pegada” de carbono (carbon footprint), baixo impacto ambiental, não estar associado a maus-tratos aos animais, rotulagem ambiental, embalagens recicláveis, etc. 

Sob o aspecto social, tem aumentado o interesse por produtos vinculados a causas sociais, com certificados de origem de sistema fairtrade, além da simpatia pelas empresas com programas avaliados e certificados de responsabilidade social.

O movimento slow food

Todos nós podemos citar ao menos três grandes marcas de fast food que lideram este mercado. Criado como oposição ao conceito de fast food, o slow food vai além. 

Esse conceito vai na contramão dos alimentos padronizados, de baixo valor nutricional e associados ao desenvolvimento de doenças do fast food e compreende o ato de comer como um momento de atenção, calma e conexão com o planeta. Essa relação totalmente diferente com o alimento tem se propagado na cultura ocidental desde a década de 80.

Seu surgimento foi na Itália e está relacionado à entrada das cadeias globais de fast food no país. Já populares nos Estados Unidos desde os anos 50, elas causaram resistência entre os italianos, que têm uma série de tradições, heranças e cultura alimentar e rituais para desfrutar das refeições da forma ideal. 

Desde sua origem, o movimento reflete a insatisfação com a lógica produtivista e a alta velocidade do mundo contemporâneo. Décadas depois, com a intensificação desse processo, o slow food está se propagando mais rápido que nunca e já conta com vozes potentes no Brasil, como a chef de cozinha natural e ativista Bela Gil.

Não se trata de ter uma alimentação saudável. Essa filosofia consiste em tomar consciência sobre tudo o que o ato de se alimentar envolve. O movimento começa desde antes do momento da refeição, pois se preocupa também com a procedência, a qualidade e o preparo do alimento, valorizando a agricultura, os pequenos produtores e o tempo dedicado à cozinha.

Iniciativas para você conhecer

Evitar o desperdício de alimentos, fazer um reaproveitamento da comida que iria para o lixo ou até mesmo utilizar ingredientes que estão inseridos na natureza são algumas das iniciativas de algumas empresas e organizações que vêm se destacando no ramo da gastronomia sustentável no Brasil. Confira abaixo algumas dessas iniciativas:

Projeto Angu das Artes

O Projeto Angu das Artes foi criado há 4 anos com a proposta de levar conhecimento sobre culinária sustentável às comunidades de Recife. São oferecidas palestras, cursos, oficinas e consultoria na área de educação ambiental, coleta seletiva e não desperdício do lixo orgânico.

Um dos cursos oferecidos pelo projeto e ministrado por Angélica Nobre ajuda as pessoas a reaproveitarem os alimentos que iriam para o lixo, como casca de legumes, frutas e verduras. No curso os participantes aprendem a transformar esses alimentos em deliciosos bolos, biscoitos, antepastos, doces e etc. 

Os cursos estão sendo oferecidos de forma online. Para saber a data do próximo curso e também ver deliciosas receitas, visite o perfil do projeto no Instagram. 

Saladorama

O Saladorama é um negócio social de Recife que nasceu em 2015 e tem como objetivo democratizar o acesso à alimentação saudável e de qualidade nas periferias do Brasil. 

Com preços acessíveis, o negócio funciona como um delivery de alimentação saudável. Além da compra avulsa, o cliente também tem a opção de fazer a assinatura de um plano mensal, que dá direito a um número específico de saladas entregues por semana a um preço menor.

Os funcionários do Saladorama passam por um processo de capacitação sobre os cuidados com o alimento e de noções de gerenciamento do negócio. Além disso, eles empregam moradores das próprias comunidades carentes da região onde atuam.

Na’kau – Chocolate Amazônico

O chocolate Na’kau é feito exclusivamente com cacau nativo da Amazônia. Ele está entre os chocolates mais puros do mundo. A Na’kau é a primeira e única fábrica de chocolate do Amazonas que processa o chocolate a partir das amêndoas de cacau, utilizando apenas recursos naturais e valorizando o homem e a mulher da floresta, pagando um valor justo pelos seus produtos. A empresa acredita que a conservação da floresta se faz através da valorização dos produtos naturais e de seus produtores.

É possível adquirir os produtos da Na’kau de qualquer lugar do país. O pedido pode ser realizado através do site.

Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá

O Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá é uma organização não governamental com sede em Recife.  Fundada em 1993, eles trabalham para a promoção da agricultura familiar dentro dos princípios da agroecologia. Desenvolvendo e multiplicando a agricultura agroflorestal.

Tendo como missão plantar mais vida para um mundo melhor, desenvolvendo a agricultura familiar agroecológica e a cidadania, o Centro Sabiá expressa o desafio de interagir com os diversos setores da sociedade civil, desenvolvendo ações inovadoras junto ao trabalho com crianças, jovens, mulheres e homens na agricultura familiar.

Instituto Gastrotinga

O instituto é dedicado à pesquisa e promoção do bioma caatinga através da gastronomia. Criado pelo chef alagoano Timóteo Domingos, o Gastrotinga tem como objetivo revolucionar a cultura alimentar nordestina através de uma gastronomia que valoriza ingredientes tradicionais da caatinga. 

Inserir componentes extraídos da caatinga na alimentação humana vai muito além da culinária. O Gastrotinga contribui para valorização da cultura nordestina ao levar, através dos agricultores, alimentos da caatinga para restaurantes de todo o país. 

Nomeado como o “chef do sertão” o alagoano já conta com mais de 1.500 receitas autorais, com pratos inusitados como o brigadeiro de palma, cocada de cactos, bolo de coroa de frade, geleia de xique-xique, entre outros.