Uma definição simples de interdependência é: processo econômico baseado em justiça.
Há quase dois séculos, James C. Scott, um dos pensadores da época, criou o conceito de uma economia justa, assim escrevia: imagine que você é um agricultor em uma pequena vila agrária. Você teve um ano ruim, mas seu vizinho também é agricultor e ele teve um ano bom. Então você vai ao seu vizinho e ele compartilha livremente parte de seu excedente com você, não porque ele está apenas sendo gentil, mas porque no próximo ano ele pode ser quem precisa de ajuda, e você pode ajudá-lo.
Essencialmente, é uma economia que respeita os relacionamentos.
No início dessa década, a pergunta que não calava era: os robôs, a tecnologia, roubam nossos empregos? Com o tempo, as pessoas perceberam que a pergunta correta seria: como será o futuro do trabalho?
Nas grandes perturbações da economia, há uma tendência de se concentrar nas tecnologias, pois provocam mudanças radicais: o motor a vapor, o fertilizante, o fertilizante à base de nitrogênio, a lâmpada incandescente, etc.
Muitas das interconexões dessas economias foram perdidas e elas foram recompensadas. E isso se reflete até hoje, empresas gigantes de tecnologias criaram plataformas, e em recompensa, colocaram cada vez mais conteúdo, informações e dados em suas plataformas. Os grande ficaram maiores, o pequeno é forçado a sair.
A interdependência não aparece por acaso. As pessoas lutam por ela.
O mundo muda radicalmente desde a década de 1980 (sem mencionar desde janeiro desse ano!). O avanço tecnológico trouxe comida, recursos e renda para muito mais pessoas do que nunca, mas também valorizou a independência (ou seja, movimento em direção a uma sociedade individualista que não enfatiza a dependência e a ajuda de outras pessoas) e agora se vive as consequências.
A economia global é uma sociedade de estranhos.
Como, então, usar a tecnologia para promover a interdependência? Como incentivar o equilíbrio das economias para beneficiar o maior número possível de pessoas? Basta humanizar a tecnologia!
Segundo William Gibson: “o futuro já está aqui; não é distribuído uniformemente.” Construir uma interdependência pode ser o primeiro passo para corrigir esse desequilíbrio.
Haroldo Rodrigues Jr. É sócio fundador da investidora de impacto In3citi. Criador do Instituto Internacional de Inovação de Fortaleza – I3FOR e o Centro de Pesquisa em Mobilidade Elétrica – CPqMEL. Ex-Diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza – UNIFOR. Ex- Presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Ceará – FUNCAP. Ex-Presidente da Agência Reguladora do Estado do Ceará – ARCE.