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“Para construir uma nova economia mais inclusiva e sustentável, é necessário influenciar mudanças nas regras do jogo”

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O Sistema B busca redefinir o sentido de sucesso empresarial para que sejam considerados não apenas o êxito financeiro, como também o bem-estar da sociedade e do planeta. O Brasil é, atualmente, o país com o maior número de Empresas B na América Latina. Conversamos com Francine Lemos, diretora-executiva do Sistema B Brasil, sobre as estratégias do movimento para construir uma nova economia e sua expansão no Nordeste.

Uma comunidade global de líderes que usam os seus negócios para a construção de um sistema econômico mais inclusivo, equitativo e regenerativo para as pessoas e para o planeta, assim se define o Movimento Global de Empresas B.

O movimento, que atualmente possui 4.834 empresas vinculadas pelo mundo, 844 na América Latina e no Brasil são 233, foi criado, em 2006, nos Estados Unidos e no Canadá, a partir de uma organização sem fins lucrativos, chamada  B Lab, tendo como principal objetivo redefinir o sentido de sucesso empresarial para que sejam considerados não apenas o êxito financeiro, como também o bem-estar da sociedade e do planeta.

No Brasil, o movimento é chamado de Sistema B Brasil, uma organização parceira do B Lab, desde 2012, que é responsável pelo engajamento, divulgação e promoção local de todo movimento B no país e na América Latina.

As Empresas B recebem uma Certificação como Empresa B, que além de reconhecer as qualidades de um produto ou serviço, acompanha e mede fatores como o desempenho econômico do negócio, levando em consideração, a atuação social e ambiental que a empresa gera no curso da sua operação. 

Para participar do movimento e se tornar um negócio que tem como objetivo equilibrar lucro e propósito, a empresa precisa ser: uma entidade com fins lucrativos; possuir mais de 12 meses de operação; operar em mercados competitivos e devem adicionar as Cláusulas B ao contrato social, que asseguram o compromisso do negócio de atuar protegendo e estabelecendo responsabilidades sobre questões sociais e ambientais atreladas à sua operação.

Conversamos com Francine Lemos, diretora-executiva do Sistema B Brasil, que nos falou sobre a expansão do Sistema B no Brasil, seus valores e como as empresas brasileiras podem entrar para o movimento ou adequar sua atuação para  implementar melhorias contínuas e a gerar impactos sociais e ambientais positivos.

Impacta Nordeste – De acordo com o site do Sistema B, a organização busca “redefinir o sucesso nos negócios”. O que seria um negócio de sucesso na visão do sistema B?

Francine Lemos – O Sistema B Brasil é um movimento global que pretende redefinir o conceito de sucesso nos negócios e identificar empresas que utilizem seu poder de mercado para solucionar algum tema social e ambiental. Apoiamos e certificamos as empresas que criam produtos e serviços voltados para resolver problemas socioambientais.

O capitalismo como conhecemos até hoje sempre colocou o lucro antes das pessoas e do planeta. Cada vez mais, observamos que esse é um modelo que gera injustiças, desigualdades e a falta de transparência e resiliência. 

“As empresas têm o papel de acelerar a implantação de uma nova economia, cujo maior indicador de sucesso seja o de promover impactos positivos que gerem valor para a sociedade de maneira sustentável.”

O Sistema B acredita que as empresas têm o papel de acelerar a implantação de uma nova economia, cujo maior indicador de sucesso seja o de promover impactos positivos que gerem valor para a sociedade de maneira sustentável. Mais do que mitigar impactos negativos, Empresas B estão preocupadas em gerar impacto positivo na economia. É preciso implementar um modelo focado em regenerar meio ambiente, contribuir com uma sociedade mais igualitária e trazer impacto positivo com as suas operações. Hoje, mais do que querer ser a melhor empresa, é preciso ser o melhor negócio para o mundo.

 IN – Quais são os requisitos para se tornar uma Empresa B? 

Para conquistar a Certificação como Empresa B, o negócio precisa passar pela Avaliação de Impacto B (BIA), composta por 200 questões que avaliam cinco pilares: governança, comunidade, meio ambiente, trabalhadores e clientes. Para submeter a empresa à avaliação, o resultado precisa ser maior ou igual a 80 pontos. 

Os negócios precisam comprovar que possuem práticas, políticas e processos consolidados para obter a certificação. Olhamos o passado e não promessas de futuro. Com isso em mente, ao analisar uma Empresa B, o mercado já reconhece que ela atende padrões altos de comprometimento com políticas ambientais e sociais, bem como governança.

IN – Quais são os benefícios do ponto de vista do empreendedor?

Em relação a benefícios, a Certificação como Empresa B ajuda a passar credibilidade aos clientes e consumidores sobre o que a empresa diz que faz. Para a empresa, se trata do compromisso de ser uma empresa melhor para o mundo.

Essas organizações são líderes das novas forças econômicas e inspiram outras empresas do mercado. Usam a força de seu negócio para a construção de uma economia mais resiliente e inclusiva. Além disso, atraem talentos profissionais, especialmente os da geração “millennials”, que cada vez mais querem trabalhar em empresas com um propósito.

IN – Como está o panorama do Sistema B no Brasil em comparação com outros países?

O Brasil é, atualmente, uma liderança importante na região em termos de tamanho – sendo o país com o maior número de Empresas B na América Latina. Além disso, o Sistema B Brasil tem uma das maiores pipelines de empresas em processo de certificação no mundo. São mais de 5.800 negócios buscando nosso reconhecimento.

Em 2021 no Brasil, 71 Empresas B entraram para nossa comunidade. Com isso, o país já conta com 206 Empresas B e 27 B pendentes, que são negócios com menos de um ano de operação e que já desejam entrar no mercado com esse diferencial.

IN – Qual é o perfil médio das Empresas B no Brasil?

Boa parte do Movimento B é formado por pequenas e médias empresas, que já nasceram com um DNA alinhado à nova economia. Mas a adesão de grandes nomes, marcas tradicionais e mais conhecidas pelo público em geral – como Natura, Movida, Danone e Hering (todas Empresas B) – vem auxiliando na consolidação do movimento e dos princípios da economia que buscamos.

IN – Temos Empresas B de diferentes perfis e portes. Qual a visão de futuro do Sistema B? Há um foco específico, por exemplo, em fazer com que grandes empresas se tornem Empresas B? Ou o foco está em novos empreendedores?

O Sistema B entende que para construir uma nova economia mais inclusiva e sustentável, na velocidade e urgência que precisamos, é necessário influenciar mudanças nas regras do jogo. Por conta disso, tem como um de seus objetivos criar pontes com o mainstream.

“Para construir uma nova economia mais inclusiva e sustentável (…) é necessário influenciar mudanças nas regras do jogo. Por conta disso, [o Sistema B] tem como um de seus objetivos criar pontes com o mainstream.”

Trabalhamos para a criação de um novo modelo econômico mais inclusivo, equitativo e regenerativo para as pessoas e para o planeta. Para isso, o Sistema B Brasil pretende intensificar o trabalho de advocacy que já faz e ir além. 

Mais do que certificar empresas, a organização pretende fomentar discussões de temas que são importantes para atingir o seu objetivo de implementar um novo modelo econômico, em que a maioria das empresas se preocupam também com o impacto positivo que causam na sociedade.

IN – Em um mundo ideal, todas as empresas deveriam seguir as diretrizes de governança das Empresas B. Há conversas ou tratativas (no Brasil ou em outro país) para que Empresas B possam ser legalmente reconhecidas e/ou receber algum tipo de benefício fiscal?

A criação de leis ou programas de incentivos governamentais está entre os assuntos que o Sistema B Brasil pretende articular a partir deste ano. A intenção é criar uma infraestrutura normativa e institucional mais robusta para que outras políticas e regulações sejam organizadas, buscando a aceleração da transição para um sistema econômico de triplo impacto positivo.

IN – Entrando em aspectos regionais, como está a atuação do Sistema B no Nordeste? Há planos de expansão e/ou fortalecimento da rede na região?

Hoje temos 10 Empresas B na região Nordeste, que representam 5% da nossa rede total. A mais recente é a Viana & Moura (Pernambuco). 

A expansão do Movimento B é direcionada a ações que fortaleçam a nossa presença nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste. No ano passado, na curadoria dos participantes do Programa de Multiplicadores B, priorizamos a participação de pessoas dessas regiões.  Os nordestinos representam 12% e dessas três regiões juntas: 35%.

Hoje, temos multiplicadores em quatro novos estados (AL, AM, MA e PA e 3 especialistas no Nordeste localizados no Ceará, Pernambuco e na Bahia).

IN – Como os(as) empresários(as) da região podem se engajar no movimento?

Os empresários que queiram se aproximar do Sistema B não precisam, necessariamente, se certificar. Um bom passo para se aproximar do movimento e seus valores é passar a olhar suas ações e saber se está no caminho certo. 

Para isso, nós temos uma ferramenta gratuita e confidencial, disponível online para todos que desejam saber como estão suas ações. É a BIA (B Impact Assessment), que mede o impacto socioambiental da empresa em diversas áreas e pode ajudar num retrato e apontamento para caminhos e estratégias. 

Além disso, olhar para fornecedores e escolher Empresas B para trabalhar, participar dos nossos movimentos como o Seja Antirracista, também são caminhos e maneiras importantes de apoiar o movimento.

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