Queda em comparação a 2018 se deve à reciclagem, segundo a Fundação Ellen MacArthur e a ONU, mas é preciso dar mais atenção, e urgência, à eliminação de embalagens de uso único.
*Foto por Nick Fewings em Unsplash
O que será necessário para transformar nossa economia descartável numa onde o desperdício seja eliminado, os recursos circulem e a natureza seja regenerada?
O investimento em economia circular é a resposta, aliás, o investimento ESG. A economia circular fornece as ferramentas para enfrentar as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade em conjunto, ao mesmo tempo em que gera benefícios sociais.
Mas, como? Aumentando a prosperidade, os empregos e a resiliência, ao mesmo tempo que são reduzidas as emissões, os resíduos e a poluição dos gases com efeito de estufa.
Há um mundo de oportunidades para repensar e redesenhar a maneira como fazemos as coisas. Uma delas é ‘Repensar o progresso’, explorando como, por meio de uma mudança de perspectiva, se pode redesenhar a forma dessa economia, ou seja, modelando produtos que podem ser ‘feitos para serem feitos de novo’.
Para melhor clareza, basta que se perceba, por exemplo, que em paralelo às oportunidades, a sociedade exige mudanças na maneira como se fabrica e usa o plástico. Milhões de dólares estão sendo investidos em limpar nossos oceanos, rios e praias em um esforço para virar a maré contra a poluição do plástico. Esses esforços são vitais, mas serão em vão se ainda mais plásticos vazarem para o meio ambiente – ou forem depositados em aterros ou queimados.
Esse é o contexto – de resolver o problema na fonte – em que o Compromisso Global surgiu, lançado em outubro de 2018 pela Ellen MacArthur Foundation em colaboração com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA.
O compromisso une empresas, governos e investidores de todo o mundo por trás de uma visão comum de uma economia circular para os plásticos, em que esse material nunca se transforma em resíduo.
O Relatório de Progresso sobre o Compromisso Global 2021, recém-lançado, para os plásticos, mostra que depois de décadas de crescimento, o uso de plástico virgem por marcas e varejistas parece ter atingido o pico em 2021 e diminuirá em quase 20% até 2025.
De acordo com o relatório, este progresso, em grande parte, é impulsionado pela reciclagem, mas isso não é suficiente para solucionar o problema da poluição por plástico – deve-se dar muito mais atenção à eliminação de embalagens de uso único com urgência.
Por trás dos apelos por um acordo global para a poluição causada por plástico, há um movimento nunca antes visto. Marcas e varejistas envolvidos com o Compromisso Global reduziram coletivamente o uso de plástico virgem em embalagens pelo segundo ano consecutivo, de acordo com novos dados.
Três anos após o lançamento do Compromisso Global por uma Nova Economia dos Plásticos, constata-se que a utilização de plástico virgem pelas empresas comprometidas com esse movimento parece ter atingido o pico e, agora, está em tendência decrescente.
Essa queda será acelerada por novos acordos que têm como objetivo fazer com que o uso de plástico virgem diminua quase 20% até 2025, em números absolutos, em comparação com 2018. Estabelecer uma meta de redução se tornou obrigatório para todas as marcas e varejistas signatários do Compromisso Global em 2021.
O compromisso Global estima que elevar as ambições a esse nível irá evitar a produção anual de 8 milhões de toneladas de plástico virgem até 2025. Esse é o equivalente a manter 40 milhões de barris de petróleo nos subsolos.
Embora a redução do uso de plástico virgem seja uma tendência bem-vinda, o progresso atual é impulsionado em grande parte pela troca do plástico virgem pelo plástico reciclado. Essa é apenas uma parte da solução, porém, ela não contempla a quantidade total de embalagens plásticas no mercado.
Veja o que diz Ellen MacArthur, fundadora e presidente do Conselho de Curadores da Fundação Ellen MacArthur: “Nós não vamos resolver a poluição por plásticos através de mais reciclagem. Eliminar embalagens descartáveis é uma parte vital para a solução do problema. De maneira alarmante, nossos relatórios mostram que há pouco investimento nisso. Nós precisamos focar urgentemente na inovação de origem, no início das cadeias, reconsiderando como produtos podem ser comercializados sem embalagens ou com embalagens reutilizáveis. Isso não só permite a eliminação do desperdício, mas também significa que podemos eliminar as emissões de carbono em paralelo à criação de novas oportunidades para negócios. Substituir apenas 20% das embalagens descartáveis por embalagens reutilizáveis representa uma oportunidade estimada em 10 bilhões de dólares”. Ou seja, criatividade e inovação no centro do jogo!
Iniciativas voluntárias como o Compromisso Global começam a gerar essas mudanças. É possível ter uma visão que a economia circular para o plástico é uma realidade. A questão não é se um mundo sem poluição por plástico é possível, mas o que faremos para que isso aconteça, de forma ampla, inclusiva e global.
*Artigo reproduzido da Forbes Collab com autorização do autor.
Haroldo Rodrigues Jr. É sócio fundador da investidora in3 New B Capital S.A. Criador do Instituto Internacional de Inovação de Fortaleza – I3FOR e o Centro de Pesquisa em Mobilidade Elétrica – CPqMEL. Ex-Diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza – UNIFOR. Ex- Presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Ceará – FUNCAP. Ex-Presidente da Agência Reguladora do Estado do Ceará – ARCE.